Capítulo 21

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Gabriel Brineli

Rio de Janeiro

Após a despedida do meu pai, Roberto, e os meses sufocantes que compartilhamos nos corredores do hospital durante a árdua jornada contra o câncer, aquele ambiente transformou-se em uma espécie de cárcere emocional, onde péssimas lembranças conspiram para me deixar angustiado. O hospital, antes apenas uma construção de paredes, tornou-se uma fortaleza sombria, habitada por fantasmas do passado que teimam em ecoar nas suas paredes frias.
No entanto, em meio às sombras dessas recordações, existe um único instante de luz, um oásis de felicidade que consegui vislumbrar no dia do nascimento de Joaquim. Aquele dia resplandece como um dos mais especiais e transformadores da minha existência, uma paleta de cores vibrantes em meio ao cinza hospitalar.
A ironia cósmica conspira quando me vejo, mais uma vez, dentro do mesmo hospital que rejeito com veemência. Contudo, desta vez, não é por minha causa, mas sim pela pessoa mais valiosa na minha vida: meu filho, Joaquim. Seu mal-estar, uma garganta inflamada, não é motivo para pânico, assegura a médica, mas é suficiente para nos garantir uma noite de observação.
Enquanto sua mãe tomava banho, eu permanecia no quarto, observando-o com um misto de alívio e preocupação. Seus olhos fechados, entregues ao sono profundo conquistado após a medicação contra a febre insistente, revelavam uma paz momentânea que me tranquilizava. A luz suave do quarto destacava seus cabelos castanhos escuros e finos, tão parecidos com os meus. A expressão serena no rosto do meu filho contrastava com a jornada desafiadora que enfrentara. Fiz carinho em seus cabelos, como se os gestos suaves pudessem afastar qualquer resquício de desconforto. A respiração pesada indicava a fadiga, um lembrete silencioso do quanto ele havia lutado contra a enfermidade.

- Dormindo ainda? - Ouço a voz da Anitta e a vejo se aproximando da cama onde o Joaquim dormia. Ela acaricia suavemente os cabelos dele. - Coitado! Estava morrendo de sono.

- Tomara que consiga descansar agora. - Digo, observando Joaquim tranquilo.

- A médica disse que com essa medicação mais forte, provavelmente a febre pare um pouco e o incômodo também. - Anitta comenta, ajustando o cobertor de Joaquim. - Não era você que tinha tantos problemas de garganta também? - Afirmo com a cabeça. - Então, o Joaquim tem a quem puxar.

- Além de ser minha cópia, vai puxar meus problemas de saúde? - Me gabo, sorrindo. Anitta ri.

- Você se acha, né? - Ela enruga os olhos. - Muito injusto. Quem gerou por nove meses fui eu, pra ele nascer sua cópia perfeita.

- Não sei se isso é bom ou ruim, mas de personalidade ele é igual a você.

- Pelo menos alguma coisa, né. - Ela se senta no sofá de acompanhante. - Por que ar de hospital é tão forte? - Pergunta, tentando aquecer suas mãos.

- Não trouxe casaco? - Ela nega. - O meu tá no seu lado. Pode usar. Não estou com frio.

- Sua namorada não vai ficar com ciúmes?

- Mais fácil seu namorado ficar com ciúmes, do que a minha namorada.

- , então você tem uma namorada? - Questiona, surpresa. - Achei que estava solteiro.

- Eu estou. - Confirmo. - Seu namorado não deve está nenhum pouco feliz com isso. Acabou viagem pra Aspen?

- Não. - Ela afirma. - Quer dizer, o Rodrigo disse que não vai mais. Me mandou mensagem irritado e avisou. - Revira os olhos. - Mas eu preciso realmente muito ir. Vou ter uma reunião muito importante de trabalho, não é apenas alguns dias de descanso. Porém, vou adiar por alguns dias, até o Joaquim melhorar. Já vai ser muito difícil deixar ele, sabendo que está doente. - Anuncia. - Será que você pode ficar com ele? Vou respeitar seu desejo, mas pra isso preciso que fique com ele durante os dias que vou está fora.

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