Capítulo 11

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   Gabriel Brineli

                                Sevilha - Espanha

  A revelação do teste de gravidez foi um impacto avassalador que mal tive tempo para assimilar.
O positivo ecoou no ar, mas ao encarar Anitta, deparei-me com sua expressão assustada e nervosa, afundada em completa negação. Tentei acalmá-la, envolvendo-a em meus braços, no entanto, ela não retribuiu o abraço. Em silêncio, seguiu para o quarto, carregando os testes consigo. Inspirei profundamente, jogando meus cabelos para trás antes de segui-la. Minhas tentativas de aproximação foram em vão, pois ela se afastava, sentando-se na cama, lágrimas molhando seu rosto.
  Em estado de choque, minha preocupação transcendia meu próprio temor de ser pai,
focando-se no olhar aterrorizado de Anitta, que permanecia em silêncio diante daquele teste.
Nunca alimentei o sonho de paternidade, assombrado pelo receio de repetir os erros do meu genitor. Naquele momento, minha angústia era moldada não pela falta de desejo de ser pai, mas pelo temor de que minha própria natureza pudesse prejudicar meu futuro filho. Essa reflexão oprimia meu peito, tornando difícil respirar.
Diante do crescendo do choro de Anitta, ajo imediatamente, assentando-me na cama. Minhas mãos tocam delicadamente seu rosto, buscando acalmá-la. Puxo-a para um abraço, e desta vez, ela se entrega ao aperto reconfortante. Em sussurros suaves junto ao seu ouvido, peço que se acalme, percebendo a intensidade do tremor em seu corpo.

- Isso não deveria ter acontecido assim. - Ela diz, sua expressão uma mistura de incredulidade e choque. Após me afastar, encaro seus olhos, buscando qualquer sinal de compreensão. - Eu operei a endometriose. As chances de engravidar sem algum tipo de tratamento são mínimas.

- Mas aconteceu, Larissa. Não questiona isso.
- Respondo, firme.

- Você tem noção do quanto erramos? Colocar uma criança no meio dessa nossa 'relação' conturbada foi um erro terrível.

- Não é você que acredita em destino? - Afirma- Pois então. Se isso existe mesmo, ele fodeu com a gente. -Engulo em seco, sentindo o peso da situação. - Só que eu não vou ficar remoendo isso, ainda mais depois do que me falou. Se você engravidou depois de operar e sem nenhum tratamento, eu não posso questionar os planos. Não me peça pra dizer nada sobre como vai ser e de que jeito vai ser, mas eu tô com você. - As palavras saem carregadas de aceitação e comprometimento.

- Tem noção que estamos falando de um filho?
- Anitta me olha com preocupação-  Não era pra ter acontecido assim, desse jeito e agora. Eu ainda tenho tantos planos e uma gravidez. -Seus olhos refletem a agitação.

- Você vai seguir com eles, Larissa. -Afirmo- Vamos organizar tudo e pensar num jeito que seja confortável e seguro pra você... Quer dizer, vocês. -Há um breve travamento em minhas palavras, e um engolir seco denota a tensão no ambiente.

- Sua calmaria nesse momento está me irritando.
- Exclama Anitta, saltando da cama. - Não era você que não queria ter um filho? -Confirma- E está calmo assim?

- O que você quer que eu faça? - Questiono, mantendo a seriedade. - Me desespere e, aí, ficamos os dois desesperados? Quer que eu fuja e não assuma esse filho? -O olhar sério de Anitta encontra o meu- Não vou fazer isso, Larissa. Novamente, éramos e agora temos que aceitar, lidar da melhor maneira com essa novidade em nossas vidas.

- Eu odeio essa sua calmaria! -Esbraveja Anitta, expressando a frustração no ar.

- Ei, olha pra mim. -Me aproximo, segurando seu rosto e fazendo-a me encarar. -Fica calma, por favor. Por mais que boa parte do nosso tempo estejamos brigando, uma pequena parte dele, conseguimos pensar juntos e normalmente conseguimos organizar as coisas. Agora precisamos, juntos, pensar na melhor maneira de organizar nossos pensamentos, relação e vida.

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