Capítulo 87

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Gabriel Brineli

Miami

Enquanto o suave brilho matinal se filtrava pelas fendas da cortina, observei Anitta repousando serenamente em sua cama, adornada com lençóis de algodão branco. Depois de quinze exaustivos dias hospitalizada, distante do nosso primogênito e dos leais cães, além dos seus pais, que estavam em Miami para auxiliar nos cuidados da sua filha e neto, finalmente Anitta estava de volta ao aconchego do seu lar. Ao lado de Joaquim, ela enfim desfrutava do merecido descanso e dos cuidados necessários para a saúde da criança em seu ventre, marcando o início de uma semana de repouso e tranquilidade tão almejada.
Deixei o quarto, a madeira da porta cedendo com um leve suspiro ao ser fechada com cuidado, como se o próprio ambiente se despedisse de mim. Na sala, os pais da Anitta estavam absortos em uma conversa tranquila, interrompida pelo meu anúncio de que precisava sair para resolver alguns problemas. Com um aceno breve, me despedi e saí pela porta. No interior do meu carro, o cheiro de couro misturado com o perfume fresco do ambientador criava uma atmosfera familiar, confortável até. Segui pelas ruas de Miami, onde o sol já começava a se pôr, tingindo o céu com tonalidades quentes de laranja e rosa. As ruas estavam surpreendentemente calmas para uma cidade tão movimentada.
O GPS indicava o caminho, e eu me deixei guiar por suas instruções até chegar diante do endereço marcado. Engoli em seco, sentindo um nó se formar em minha garganta, enquanto respirava fundo para acalmar os nervos. Com um último olhar ao redor, saltei do carro e me dirigi à porta de entrada, meu coração batendo um pouco mais rápido do que o normal.
Quando a porta se abriu, fui recebido por um coro de risos e abraços das gêmeas, Maria e Vitória, que pulavam de alegria em minha direção. Seus sorrisos iluminavam o ambiente, dissipando qualquer sombra de preocupação que pudesse pairar sobre mim. Mesmo que ainda lutasse para assimilar e lidar com essa aproximação, era impossível não se contagiar com a genuína felicidade delas.

- Gabriel...Gabriel... -As vozes animadas das minhas irmãs gêmeas, Maria e Vitória, ecoaram pelo ar, vibrando em perfeita harmonia, como se fossem uma só.

- Que bom que você veio nos visitar! -Exclama Maria, com um sorriso contagiante iluminando
seu rosto.

- Entra, preparamos um café da tarde pra você. -Acrescenta Vitória, abrindo espaço para que eu passe, com um gesto acolhedor.

Observando as duas garotas, tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes, eu sentia um misto de emoções. Não tínhamos o mesmo tipo de relacionamento que eu tinha com meus irmãos, mas a cada encontro, parecia que uma ponte estava sendo construída entre nós.
A verdade é que, depois de tudo o que aconteceu com César e o trágico destino da mãe das garotas, que também foi vítima da crueldade de César, eu me sentia mais do que responsável por elas. E tudo se complicou ainda mais após as denúncias que fiz, colocando nosso genitor no centro de um escândalo que abalou nossa família até o âmago.

- Fizemos Waffles e 'French toast'. -Diz Maria, com uma pronúncia hesitante enquanto confunde o inglês com o português, o que me arranca um sorriso.

- Tem suco ou café também. -Complementa Vitória, apontando para a linda mesa preparada por elas.

- Uau, estou surpreso com essa recepção! -Exclamo, num tom divertido e animado. -Eu amei, garotas.

- Hey, Gabriel, welcome! -A avó materna das garotas adentra o local, desejando um "bem-vindo" em inglês, acrescentando um toque internacional à atmosfera acolhedora da casa.

Acomodei-me à mesa repleta de iguarias para o café da tarde, uma mistura de aromas deliciosos pairando no ar. No início, confesso que me senti um tanto desconfortável, como um intruso em meio à intimidade das minhas irmãs. No entanto, à medida que me deixava envolver pela atmosfera calorosa e acolhedora daquele momento, o desconforto deu lugar a uma sensação reconfortante de pertencimento.
Elas me serviam com graça e entusiasmo, pude observar a alegria genuína estampada em seus rostos, como se eu fosse a peça que faltava para completar o quebra-cabeça daquela reunião familiar. Enquanto trocávamos sorrisos e histórias, elas compartilhavam os detalhes empolgantes de suas vidas na nova escola, desde os novos amigos que duvidavam da nossa relação até mesmo às peripécias do mundo dos cuidados com a pele.
Enquanto Maria descrevia os últimos lançamentos de produtos de "skin care", eu me vi mergulhando em um universo completamente desconhecido para mim, tentando acompanhar seu entusiasmo enquanto ela detalhava cada passo de sua rotina de beleza. Era como se, naquele momento, estivéssemos compartilhando não apenas conversas triviais, mas também um pedaço de nós mesmos, criando laços mais profundos que ultrapassavam as fronteiras do sangue e da convivência diária.

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