Capítulo 78

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Anitta

Nova York

  Desembarquei em Nova York como uma nau à deriva, naufragada pelo oceano de emoções que me afogava desde que soubera da suposta gravidez de Beatriz. A dor, como uma correnteza implacável, arrastava-me para as profundezas do desespero, enquanto eu lutava para manter a fachada de normalidade diante dos flashes e dos olhares curiosos da multidão. Cada sorriso que forçava era como uma âncora, prendendo-me ao palco da vida pública, mesmo enquanto meu coração se despedaçava em silêncio.
Envolta pela solidão daquele quarto de hotel, sentia-me como uma estrela solitária no firmamento, brilhando falsamente enquanto minha luz interior se extinguia aos poucos. A presença reconfortante de Joaquim apenas intensificava a sombra que pairava sobre mim, uma lembrança constante da ausência de Gabriel. A notícia da gravidez, como uma tempestade violenta, abalava os alicerces da minha existência, deixando-me à mercê das ondas de tristeza e desespero. Cada respiração era um lamento, cada batida do meu coração ecoava a melodia da minha angústia, uma sinfonia de dor que preenchia o vazio daquele quarto luxuoso com a intensidade do meu sofrimento.
  Após a festa de aniversário do meu filho, permaneci no Brasil por dois dias, presa em um turbilhão de emoções antes de embarcar para minha turnê "Baile Funk Experience". Cada momento foi uma montanha-russa emocional: lágrimas de tristeza, acessos de raiva, uma constante sensação de enjoo e tontura, como se meu corpo rejeitasse a realidade que se desenrolava ao meu redor. Antes de partir para Nova York, Joaquim ficou ao lado de Gabriel, uma figura que eu evitava encontrar a qualquer custo, pelo menos por enquanto.

- Mamãe, olha só como eu consigo pular alto nessa cama grandona! -Exclama Joaquim, interrompendo meus pensamentos enquanto o vejo saltitar na cama com uma energia contagiante.

- Filho, cuidado para não cair. -Sinalizo, preocupada, notando o perigo naquela brincadeira. -Ficar pulando na cama não é seguro.

- Pode machucar? -Pergunta, parando seus pulos e sentando-se na cama com uma expressão curiosa, o que me arranca um sorriso tênue.

- Sim, meu amor. -Confirmo, acariciando delicadamente seu rosto. -Por isso, que tal pegar seus brinquedos e brincar com eles? Assim, você se diverte de forma segura.

Apesar da presença reconfortante do Joaquim e das constantes batidas na porta do quarto de hotel da minha equipe, perguntando se eu precisava de algo ou discutindo os detalhes do show, havia um vazio ensurdecedor, um silêncio onde deveria estar a voz do Gabriel. Durante esses dois dias, evitei qualquer notícia sobre ele, recusei suas chamadas e ignorei suas mensagens. A dor era como uma ferida aberta, a mágoa era uma tempestade em meu peito, mas era a ausência dele que me dilacerava. Eu ansiava que tudo não passasse de um terrível pesadelo, e que ele estivesse ali, ao meu lado, com seu filho.
  O fim do nosso noivado permaneceu nas sombras, uma decisão conjunta para preservar o verdadeiro foco: minha turnê. Sabíamos que se a verdade viesse à tona, os tabloides se regozijariam com a fofoca, roubando o protagonismo de um trabalho tão significativo para minha carreira.

- O que aconteceu, mamãe? -Joaquim pergunta, preocupado, ao notar minhas lágrimas, e se aproxima com ternura. - Chorando?

- Não é nada, filho. -Respondo, lutando para secar as lágrimas e esconder minha emoção. - Estou bem, só um pouco emotiva hoje.

- Onde está o papai? - Sua pergunta me pega de surpresa, como se um soco tivesse atingido meu estômago. - Ele não vem?

  Com o coração apertado e uma angústia sufocante, ergui-me da cama num impulso, clamando pela Nina, a babá substituta de Jessica durante suas férias, para cuidar de Joaquim, enquanto eu buscava desesperadamente um respiro. No silêncio do corredor do hotel, apoiada na porta do quarto, suspirei profundamente, fechando os olhos por um instante fugaz, até ser despertada por vozes que se aproximavam. Percebi, incrédula, que uma delas pertencia a Gabriel. Um turbilhão de emoções me invadiu ao vê-lo ali, de pé no final do corredor. Nossos olhares se encontraram, e uma corrente elétrica pareceu percorrer meu corpo, mas vi que ele também estava abatido. Gabriel pareceu travar ao me ver ali, desviando o olhar para os papéis em suas mãos, enquanto eu observava Renan ao seu lado, tenso como nós dois.

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