Capítulo 75

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Gabriel Brineli

Petrópolis - BR

Durante uma grande parte da minha trajetória, havia um assunto que eu sempre evitava tocar: meu genitor, César. Nunca entendi por completo a origem de todo o ódio que ele direcionava a mim e à minha mãe, nem compreendi o que o levou a tornar nossas vidas tão amargas, impregnadas de ressentimento. Cresci nutrindo um profundo sentimento de repulsa por ser filho daquele homem, e a medida que o tempo passava, eu descobria cada vez mais as sombras ocultas do passado relacionadas a ele.
Os traumas que carreguei ao longo dos anos moldaram meu crescimento, deixando-me apreensivo com a possibilidade de seguir os passos de César. Mesmo sem manter qualquer contato direto, eu sabia que o sangue dele corria em minhas veias, e o temor de perpetuar seus padrões de comportamento me fez hesitar em desejar ter filhos. Duvidava profundamente da minha capacidade de amar e de ser um pai digno.
No entanto, quando Anitta engravidou, e apesar de não termos planejado, a chegada de Joaquim transformou completamente minha existência. Experimentei uma torrente de emoções que nunca antes havia conhecido: o verdadeiro amor, um sentimento tão forte e puro que parecia transcender o tempo e o espaço, acompanhado de uma paz interior que eu jamais imaginara ser possível. De repente, minha vida, que antes era uma sucessão de futilidades, festas, excessos e relacionamentos efêmeros, perdeu sua importância diante dos momentos preciosos que compartilhava com Joaquim, nossos laços como pai e filho se fortalecendo a cada dia. E assim, descobri que a paternidade não só era possível, como também era a maior bênção que já recebi.

- Papai... Papai... - O chamado de Joaquim me tira do breve transe em que estava imerso. Seus olhos brilhantes e o sorriso contagiante me chamam para a realidade. - Chuta bola.

Chutei a bola em sua direção, e de forma um tanto atrapalhada, mas certeira, Joaquim acertou o chute e marcou um gol. Seus gritos de empolgação ecoaram pelo campo enquanto ele corria em minha direção. Num impulso de alegria, o ergui nos braços, compartilhando o momento de vitória no jogo de futebol improvisado durante sua festa de aniversário. Com ele em minhas costas, corremos pela grama enquanto ele vibrava de felicidade.
Percebi Anitta observando a cena com um sorriso afetuoso no rosto e, num gesto de gratidão,
mandei-lhe um beijo.

- Eu sou campeão, papai! - Joaquim exclama, radiante de felicidade.

- Você é o meu campeão, garotinho! - Respondo, com um sorriso transbordante de orgulho e amor, envolvendo-o num abraço caloroso.

Após nosso animado jogo de futebol, o sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu de tons dourados, quando Anitta anunciou que era hora de nos arrumarmos para o parabéns. Rapidamente nos organizamos, Joaquim secando o suor da testa e ajeitando seus cabelos, mostrando sua empolgação pela festa.
Caminhamos juntos até a mesa do bolo, onde Anitta já aguardava, e nos posicionamos. Com Joaquim nos meus braços, ao lado de sua mãe, começou o coro de parabéns. Envergonhado, ele escondeu o rosto no meu ombro, um gesto adorável que derreteu meu coração. Suavemente, acariciei suas costas, transmitindo-lhe todo o carinho e apoio.
Ao final da canção, Anitta e eu beijamos suas bochechas ternamente, e um sorriso iluminou o rosto de Joaquim, que nos abraçou com ternura. O amor palpável entre nós três provocou suspiros entre os convidados, testemunhando a beleza da nossa união familiar. Era um momento simples, mas repleto de significado e amor.

- Onde está o discurso? -Adriel irrompe entre os convidados, e eu automaticamente ergo os olhos para o teto.

- Quem te deu permissão para convidá-lo, Adriel?
-Brinco, ciente da mania persistente do meu primo em querer discursar.

- Eu falo ou você? -Anitta pergunta, lançando-me um olhar interrogativo.

- Deixa comigo. -Respondo, vendo seu olhar surpreso, então, pego o microfone das mãos de uma das organizadoras. - Então, em primeiro lugar, quero expressar minha gratidão pela presença de todos neste dia tão especial. -Começo, um pouco nervoso- Hoje é o aniversário desse pequeno... -Abraço meu filho ainda mais forte, sentindo o amor transbordar- Ele me mostrou o verdadeiro significado do amor incondicional e forte. Sou imensamente sortudo por ser pai de uma criança tão extraordinária. -Meus olhos passeiam pela multidão de convidados e, por um instante, encontro o olhar de Beatriz, que parece menos do que satisfeita, mas decido não me deter- Quero expressar minha profunda gratidão à minha esposa, sem ela, eu jamais teria conhecido esse sentimento tão especial. Amo vocês dois mais do que as palavras podem dizer.

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