Capítulo 84

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Anitta

Miami

Em mais um dia de internação, ansiava desesperadamente por tranquilidade, pela estabilidade do meu estado e do bebê, e pelo alívio das dores. Contudo, fui despertada naquela manhã por uma sensação sombria que se apoderou do meu peito, deixando-me verdadeiramente angustiada e inquieta naquela cama impessoal do hospital. Incapaz de encontrar conforto em qualquer posição, me debatia, sentindo-me sufocada. O retorno do sangue no acesso intravenoso devido aos meus movimentos incessantes levou os enfermeiros a reestabelecerem a conexão, revelando o tom pálido de preocupação no rosto do pai do bebê.
Gabriel, naquele dia, optou por permanecer ao meu lado, abdicando da visita ao Joaquim em casa, imerso em preocupação diante da aparente deterioração. Sua presença era um bálsamo, acalmando-me em meio à agitação.
À medida que a nova linha intravenosa foi estabelecida e as medicações administradas, gradualmente o desconforto cedeu. No entanto, devido à minha agitação, foi necessário administrar um sedativo, mergulhando-me em um sono pesado. Ainda assim, a angústia persistia, assolando-me com pesadelos que exacerbavam meu tormento.
No aterrorizante devaneio, via-me não apenas perdendo o bebê que esperava, mas também Joaquim e Gabriel. Era um cenário de desespero e impotência, onde testemunhava, horrorizada, meus entes queridos sendo arrastados por uma criatura monstruosa, maior que a vida, envolta em vermelhidão e sangue. Meus gritos ecoavam pelo vazio, clamando pelos nomes de Gabriel e dos meus filhos, enquanto me via enraizada ao chão, incapaz de me mover. O lamento de Joaquim ressoava em meus ouvidos, um eco lancinante que me fazia chorar em desespero, impotente diante da ameaça iminente.

- Não... - Despertei assustada, envolta em suor, meu corpo tenso e alarmado ao me sentar abruptamente na cama.

- Finalmente a "Bela adormecida" resolveu acordar. - A voz de Beatriz ecoou pelo quarto branco e sem vida onde eu estava internada, e lá estava ela, no canto, observando-me com um sorriso sarcástico. - Já estava cansada de tanto esperar.

- O que você está fazendo aqui? - Minha voz saiu ríspida enquanto meus olhos buscavam freneticamente pela presença de Gabriel.

- Ih, Gabriel teve que correr para socorrer o pestinha de vocês. - Beatriz respondeu casualmente, provocando uma reação visceral em mim, fazendo meu coração disparar e meus olhos se arregalarem.

- O que você fez com o Joaquim? - Quase gritei, a angústia apertando minha garganta enquanto lutava contra o medo que ameaçava me consumir.

- Não fiz absolutamente nada. - Ela riu, erguendo as mãos em sinal de rendição, seus olhos brilhando com um sarcasmo cortante. - Aquele menino precisa aprender limites, sabia? Não quero que meu filho tenha um irmão tão mal educado.

- Não fala assim do Joaquim. - Rosnei, sentindo a fúria borbulhar dentro de mim, desejando desesperadamente confrontá-la.

- Por que você não se levanta e vem até aqui?
- Beatriz desafiou, sentando-se no sofá de acompanhante e envolvendo-se no casaco de Gabriel, provocando-me com sua ousadia. - Que perfume maravilhoso ele tem, não é?

- Você é patética, Beatriz! - Meus olhos se reviraram, sentindo um misto de desprezo e repulsa ao encarar sua presença odiosa.

- Como você se sente nessa cama, dando tanto trabalho para dar um filho ao Gabriel, enquanto eu estou aqui, deslumbrante, esperando um filho dele também? - Ela se levantou do sofá, dando uma volta graciosa, alimentando minha raiva e indignação. - Olhe pelo lado positivo, quando você perder este, Gabriel nem ficará triste, pois teremos o nosso.

- Cala a boca, Beatriz! - Gritei, as lágrimas ardendo em meus olhos enquanto o desespero me consumia. - Some daqui.

- Não posso acreditar que você está aqui. - A voz de minha mãe ressoou quando ela adentrou o quarto, seguida por Gabriel. - Sua infeliz!

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