Capítulo 3/1

13 8 16
                                    

Mesmo antes de ouvir Biel me chamar, já estava de pé.

Tomei uma ducha, escovei os cabelos, coisa que não fazia há séculos, escolhi alguns acessórios que pudessem melhorar minha singela aparência, me sentindo empolgada, com mais uma oportunidade de ver aquele arquétipo de Adônis sentado ao meu lado e, não que eu estivesse literalmente contando, mas nesta terceira vez, não ia aparecer de qualquer jeito.

Sim, três vezes, na pizzaria, no sonho e na escola. Mas eu não estava contando.

Tomava meu café sem correria, apesar de ansiosa para partir, quando meu irmão chega na cozinha e me olha de cima a baixo.

— Já tá pronta?! Que milagre! — Seu tom de espanto — O que aconteceu? O que tem lá hoje hem? Alguém especial?! — Deu uma risadinha irônica, enquanto tremulava as sobrancelhas, me desconcertando toda. Sabia que ele estava me zoando pelo que contei a ele ontem. — Já tô gostando desse cara, ele conseguiu fazer algo que ninguém mais consegue. Te fez pentear o cabelo. — E gargalhou contente com sua piada.

Era aquele típico comentário sem noção, de irmão mais velho, que eu preferia não ter ouvido. Me senti ridícula, toda arrumada daquele jeito, algo raro de se ver, quanto mais para ir à escola. E com certeza, minha classe notaria a súbita mudança de cuidado com minha aparência, ligando o fato à presença de Jeziel. Assim como Biel fez.

Tirei os acessórios, amarrei o cabelo num rabo de cavalo convencional, ajeitei a franja, passei o guardanapo na boca tirando o excesso de batom e segui à porta de saída.

Nossa mãe chega na sala, querendo saber do assunto. Dei bom dia, um beijo em sua bochecha e arrastei meu irmão para fora, alegando que estávamos atrasados, antes que ele fofocasse sobre o novo aluno na minha sala.

— Nem se atreva a contar para mamãe sobre isso — ameaço — ou conto que na semana que ela viajou, você trouxe sua namorada para dormir aqui.

Ele ergue os braços em rendição. — Eu não ia falar nada. Você que tá toda nervosa atoa. — Se defende.

Dirigiu quieto por todo caminho. Sua play list de Hip hop tocava. Ele até diminuiu um pouco o volume para não me provocar. Conhecia bem a lei familiar, que proibia trazer namoradas para passar a noite em casa.

— Se você manter essa boca fechada, prometo não tocar mais nesse assunto. — Propôs, assim que parou na porta da escola, esticando a mão para um acordo.

Pego a mão dele e assinto. — Feito!

Ele sabe que eu jamais faria algo assim, pois uma das coisas que nos mantém unidos, sempre, é a nossa cumplicidade. Mas foi bom ter essa carta na manga, para calar aquela boca linguaruda dele.

Quando desço do carro, um frio na barriga me surpreende. De repente, o trajeto que costumo fazer todos os dias, da entrada à minha sala, parece novidade.

O que me inquietava, era encontrar com o garoto mais lindo que já vi em toda a minha vida, sem parecer idiota o tempo todo. Das outras vezes, tenho certeza que não deixei uma boa impressão.

E quando chego na sala, lá está ele. Seus braços estirados sobre a mesa com seus dedos entrelaçados, numa expressão bem à vontade, olhando pela janela que dava para o ginásio.

Respiro fundo, como quem vai dar um mergulho, e vou preparando um 'Oi' para dizer quando chegasse próximo.

Não é nada demais cumprimentá-lo. Um simples e inocente oi, seria algo super correto. Questão de educação. — Me convenço em pensamento.

Me aproximando da mesa, preparada para dizer meu planejado oi, Letícia se coloca à frente, entre mim e Jeziel, dizendo o 'oi' que era para eu ter dito.

AndaluzOnde histórias criam vida. Descubra agora