Capítulo 23/1

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— Então é isso. Se você tiver que fazer algum esforço para provar o nosso amor, para ficar comigo, é melhor eu ir embora, não é?! Se você pensa assim...

Epa! Não é isso não.

Organizei meus pensamentos, respirando fundo para a próxima frase. A conversa estava tomando um rumo perigoso.

— Só não entendo por que é tão importante eu colocar fogo nesse palito ridículo. — Baixei o tom de voz — E se eu não conseguir? Eu não vou servir para você? Isso é o quê? Um teste de aptidão?! Algum tipo de concurso, pra saber se podemos ficar juntos?

Ele não me olhou e eu fiquei com medo da resposta.

— Por que a gente não pode ser como um casal normal, que pede ao outro, provas de amor normais, como uma carta, uma música? Um palito não pode servir de prova do meu amor por você.

— Não é seu amor que está a prova, Mel — O tom dele também baixou — É até aonde esse amor pode te levar.

— Eu morreria por você Jeziel.

— Eu não permitiria isso. Jamais.

— Me explique de uma vez, por que isso é tão importante?!

Ele fechou o semblante, contraindo os lábios, como se sentisse dor.

— Mel, por favor. Eu te amo tanto... tanto... — Segurou meus ombros, nos seus olhos havia uma aflição indecifrável — Mas não posso pensar só em mim. Andaluz precisa de mim. Eu não posso me esquecer disso.

— Não estou entendendo.

— Você sabe com que propósito eu vim até aqui Melissa?

— Você veio me encontrar. Não foi?!

— Não Melissa. Errado! — Ele estava impaciente novamente — Eu vim encontrar a rainha de Andaluz, a profecia, a filha do general Euri. Aquela que será apta a enfrentar o inimigo ao meu lado e... — Ele se cala, empurrando com os dedos, seus cabelos para trás, erguendo a cabeça para o teto, soltando uma longa lufada pela boca.

— E o quê?! — falo angustiada.

— E nada. — baixou a voz novamente, endireitou o corpo, se virando de costas.

— Jeziel. O que você está dizendo, é que se eu não conseguir desenvolver os dons, não vamos poder ficar juntos? É isso?

— Eu tenho que voltar para Andaluz Melissa, falta pouco tempo.

Percebi que ele não respondeu a minha pergunta, e que usou o pronome 'eu' ao invés de 'nós' pela primeira vez, desde que me contou sobre sua dimensão.

— Sem mim? Você vai me deixar?! — Tento controlar a histeria que toma conta do meu peito.

Ele não responde novamente, e seu silêncio me deixou apavorada.

—Para com isso! Você não pode... eu não posso... — Me vi engasgar com as palavras — Não posso viver sem você. Você prometeu que estaria comigo sempre!

— Desculpe, eu não devia ter... — Se calou novamente.

— Desculpas?!! Você não pode fazer isso comigo! O que quer? Que eu implore? Eu te amo Jeziel! Está me ouvindo?! Droga Leo, você não pode tirar isso de mim!

Nossa briga estava feia, senti que poderíamos chegar a um ponto final. Abalada e fora de mim, avancei contra ele, esmurrando seu peito.

— Você veio atrás de mim, com essa história de destino, de almas gêmeas e me fez te amar! Agora quer tirar isso de mim?! Droga Jeziel, você não pode, não pode... — repito várias vezes a frase, me lançando contra ele, sem parar.

Seu rosto estava indecifrável e ele nem ergueu as mãos para se defender.

Me deixo cair no chão, me sentindo derrotada pela falta de reação dele. As lágrimas descendo pelo meu rosto e o medo de perde-lo, estavam me sufocando.

Abri a mão e o palito ainda estava lá. Seguro novamente entre meus dedos e o encaro com tanta raiva, que meus dentes cerram.

— Eu não aceito te perder... Não para uma coisa tão insignificante como essa!

— Não é o palito — A voz dele também carregava um tom de derrota.

— O que é então?! — Pergunto exasperada, me voltando para Jeziel que fugiu do meu olhar.

— Droga!! — vocifero encarando com ódio, o palito — Por que você não pega fogo logo, seu palito imbecil, idiota e imprestável?!

SHIIFTHH !!

O palito pegou fogo. Numa chama tão alta, que não parecia vir do palito.

— ISSO! — Leo deu um brado — É isso ai! Assim que se faz! — Ele tomou o incandescente palito de fósforos da minha mão e o jogou ao chão.

Fico chocada, de boca aberta, olhos arregalados e levo as duas mãos a testa, completamente surpresa. Ele me ergue sorrindo e me gira num abraço festivo.

— Você conseguiu! Eu disse que conseguiria! — Me coloca no chão segura meu rosto e me beijava eufórico — Obrigado, obrigado, obrigado — me agradece e me beija incessante – É incrível como seus sentimentos tem tanta força sobre seus dons, como abrem a porta de sua mente — Venha — Ele pegou a caixa de fósforos do chão e me deu outro palito — Tente novamente — hesitei — Vamos, será fácil agora. Só pense no fogo.

Seguro entre os dedos, visualizo ele aceso e, "BUM"! Acende de novo.

— Isso garota!

Agora quem riu fui eu. Um riso nervoso. Só precisei usar a imagem de um palito aceso, na memória, e aconteceu.

— É só isso?

— É. Tome outro — Ele estava eufórico.

O mesmo processo. E lá estava o palito queimando entre meus dedos.

Depois de uma caixa de fósforos inteira, a nossa briga já havia sido esquecida. Com a cabeça deitada em seu colo, enquanto ele mantinha seus pensamentos muito distantes daqui, miro seus olhos e vejo que estão esplendorosamente calmos e iluminados.

— Então, tem mais uma caixa de fósforos para mim?

— Não. Mas tenho um prêmio para sua primeira vitória — Diz animado.

— Sério? Vai me tratar como um bom cachorrinho adestrado? Acerto o comando e você me dá um petisco.

Ele ri. Meu coração se alegra. Não estamos mais brigando. Tudo voltou as boas. Somos o velho casal apaixonado e meloso de sempre.

— Vou te levar para comer a pizza, que eu sei que você adora, e depois vamos ao meu chalé. Um tempo só para nós dois. O que acha desse petisco?

Sorrio em resposta e me apaixono um pouco mais por esse garoto, que é capaz de me levar a fazer qualquer coisa. Até trazer a existência, uma chama vinda do nada.

E por ele, sou capaz de incendiar o mundo inteiro.

E por ele, sou capaz de incendiar o mundo inteiro

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