Capítulo 25

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Minhas férias estão acabando. Os melhores dias da minha vida.

Somando os passeios exóticos, as noites que passamos no chalé e as trilhas que Leo me faz percorrer, ele está comigo 24 horas por dia. Mesmo dormindo, o encontro em meus sonhos. Ele já faz tão parte da minha vida, que fico me perguntando o que será, como farei depois que Biel e mamãe voltarem de viagem? Não consigo mais me ver longe dele, nem por um minuto sequer. E quem entenderia essa dependência sem achar que é loucura?

Tento prever a vida voltando ao normal, com dias de aulas, obrigações domésticas e familiares. Só de pensar nisso fico deprimida. Hoje Leo está presente em tudo. E depois das férias? Pensar nisso me dói o coração, pois voltar à rotina será inevitável.

Me acostumei — E como foi fácil — a dormir em qualquer canto da casa nos braços dele e ser carregada até minha cama; em assistir nossos filmes, com ele enroscando seus dedos em meus cabelos, e lavar os pratos e vê-lo resmungar por ter que enxugar e guardar sem usar seus truques; ao ouvi-lo recitar as frases marcadas em meus livros preferidos... A presença dele se tornou tão essencial quanto o próprio ar. Não sei viver sem ele, como não sei viver sem um coração.

Um coração viciado que bate: Tum-tum tum, Je-zi el.

Graças a técnica de bloqueio que ele me ensinou, posso pensar essas coisas bregas de garota apaixonada, sem que Ernest faça aquela cara de entojo enquanto lê meus pensamentos, ou ver o sorriso vaidoso de Jeziel, quando lê meus pensamentos. Só o deixo saber o que penso, quando estou distraída e o bloqueio some, ou não ache constrangedor o que passa na minha cabeça. E neste momento, não quero que ele saiba o tanto que estou chateada, por daqui a alguns dias ter que retornar a minha vida normal.

No mais, Leo passou a ter que me perguntar o que quer saber sobre meus pensamentos, e eu só sou sincera quando quero. Às vezes sinto que ele se arrepende de ter me ensinado.

— Por que não me diz o que está te aborrecendo? — Ele fez a mesma cara de preocupado, de todas às vezes que percebe em meu semblante que eu não estou bem.

— Porque não tem nada me aborrecendo — Minto, como sempre, não sendo nada convincente.

— Está com saudades da sua mãe? Ou do seu irmão? — tenta adivinhar.

— Estou, mas não é nada — Minha voz não saiu firme como eu queria,

— Você está preocupada com alguma coisa ou chateada com alguma coisa.

Não respondo.

— Isso não é justo. Não vê que me deixa louco assim? Quero te ver bem, e de uns dias para cá, fica amuada. Sei que está triste, quero saber o motivo e resolver pra você.

Já demonstrei obsessão demais por ele. Não é saudável.

Ele levanta e vai até a janela, puxando a cortina para espiar lá fora, disfarçando um desconforto.

— Você está cheia de mim, não é? Não te dei um dia de folga da minha presença. Que tal assim? Vou para casa e a gente se vê no fim de semana. Ernest falou que você acabaria se cansando.

— Não! — solto quase em pânico — Ernest não sabe de nada. Não é isso. Eu não quero ficar sem você. Está tudo errado. Não estou chateada por isso, é exatamente o contrário. Não quero que você vá. Não quero que você vá nunca! Preciso de você agora mais do que qualquer um ou qualquer coisa. Esses têm sido os melhores momentos da minha vida. O que tem me chateado é o fato de imaginar que...

Calei. Faltaram palavras que traduzissem a realidade do que estava sentindo. Não sabia como confessar meu vício irremediável nele, sem o medo dele definir esse comportamento insano como uma obsessão doentia, e aí sim, querer se distanciar de mim.

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