Capítulo 26

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Depois de horas do nosso reencontro, nós já estávamos deitadas, olhando para o teto e conversando coisas banais, como velhas amigas, Jeziel bate no batente da porta.

— Não estão com fome? Ernest quer nos levar a pizzaria — Ele pareceu aliviado também, sem todo aquele estresse que pairava sobre todos nós quando estávamos juntos.

— Pizza! — forcei uma empolgação.

Ela me olha como quem não quer sair de casa.

— Vai ser bom você sair deste quarto, e a pizza é uma delícia. Depois, de barriga cheia, a gente volta para cá e assiste a um filme. Sei que vai adorar. Em andaluz não tem essas coisas, não é? Aproveite enquanto pode, das maravilhas que este mundo tem para oferecer, e quando voltar pra casa, terá boas lembranças. — falei e esperei alguns segundos olhando seu rosto de fada que se expressava indecisa.

— Está bem — concordou por fim, se levantando graciosamente da cama ajeitando os cabelos com os dedos, ainda que não estivesse com um único fio fora do lugar. Me senti constrangida, não pela beleza dela, mas em como eu pude passar tanto tempo odiando aquele ser tão amável e sensível com aquele jeitinho de anjo.

Raika estendeu a mão para mim e saímos andando de mãos dadas debaixo da supervisão de Leo que, apesar de aliviado, estava estranhando aquilo tudo. Minha mente estava aberta a ele, e por isso sabia, que tudo que eu estava fazendo, fazia querendo realmente, não era hipocrisia.

Ernest também estava espantado, mesmo feliz pela melhora no humor de Raika. Ele nem me tratou com seu azedume costumeiro por todo nosso passeio.

De volta à casa de Jeziel, nos posicionamos entre as almofadas na sala de vídeo. Leo se sentou ao meu lado, lançando os braços sobre meus ombros, Raika se colocou do outro lado, recostando a cabeça em meu braço, Ernest ao lado de Raika, segurando para ela o balde de pipocas, que ela ocasionalmente pegava.

No decorrer do filme, Raika escorregou a cabeça até meu colo. Ernest quando percebeu que ela dormiu, se moveu devagar, saindo da sala, avisando a Jeziel, silenciosamente, que ia para seu quarto. Fiquei assistindo a reprise de Shrek com Leo, sem dar uma só palavra. Não queria incomodar o sono de Raika, até que Leo se mexer ao meu lado.

— Ela dormiu — Ele sussurra.

— Eu sei — Também sussurro.

— É melhor eu te levar para casa — Ele parou por alguns segundos — Ernest também já dormiu, acho que terei que leva-la.

Notei que ele ficou meio constrangido. A frase, leva-la para o quarto, incluía ter que pegá-la no colo, na minha frente.

— Tudo bem. Nós combinamos de cuidar dela, lembra?

— Ela pode dormir aqui — sugeriu.

— Ela precisa de uma boa noite de sono, está exausta. Não é justo abandonar Raika aqui, depois de nos acertarmos com ela. — Argumentei. Eu não ia ficar feliz se fizessem isso comigo.

Avaliou por mais alguns segundos a situação e suspirou vencido. Se levantou, indo para o outro lado e passou os braços por baixo dela. Raika ressonou um pouquinho, enquanto ele a erguia, mas não foi o suficiente para que ela acordasse.

No quarto, quando Jeziel a colocou sobre a cama, puxei o cobertor até seus ombros e arrumei seus cabelos. Ele ainda me olhava surpreso, mas não disse nada.

Me preocupei em como ela se sentiria ao acordar sozinha, então escrevi um bilhete, prometendo um passeio a tarde e deixei no criado ao lado da cama com o número do meu celular, caso ela precisasse falar comigo antes. Ao sair, fechei a porta com cuidado.

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