Capítulo 27/2

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Depois de um bom tempo dentro do rio, tempo suficiente para sombra da árvore que me protegia, ter desaparecido, Maxuel saiu do rio.

— Eu vou a casa, ver se nosso almoço está pronto — anuncia — quer vir comigo Melissa, para você não criar raízes aí? — Brincou.

Não sei como Maxuel me viu ali. Os outros pareciam ter esquecido completamente da minha insignificante existência. Tanto que, para não parecer totalmente deslocada, fingi estar me deliciando com o sol que estava tostando meus neurônios, antes de aceitar o convite de Maxuel.

Ao menos poderia alongar meu corpo que já estava ficando todo dormente da mesma posição.

Leo e Raika ainda estavam na água. Olhei para Leo, avisando que acompanharia Max até a casa. Ele concordou tranquilamente.

— Pedi a cozinheira que fizesse o prato especial da família — disse hospitaleiro — vocês vão comer o melhor e mais fresco peixe de suas vidas.

— Adoro peixe — falei para agradá-lo. Eu não adorava de verdade, era só para manter a conversa que ele levava pela estrada até a casa da fazenda.

No meio do caminho me lembrei que havia deixado meu celular debaixo da árvore. Eu precisava ficar com ele caso minha mãe ou Biel ligassem, então deixei Maxuel continuar o caminho e voltei para apanhá-lo.

De longe, por trás de algumas árvores dava para ver Leo e Raika ainda se divertindo na água. Ele parou um pouco distraído no rio e ela lhe jogou um jato de água. Ele mergulhou e a puxou pelos pés a fazendo afundar. Eu estava ali observando a brincadeira dos dois. E já não estava mais tranquila, vendo os dois sozinhos e tão íntimos e à vontade. O ciúme, que há muito tempo tentava sufocar, vendo aquela brincadeira, estava surgindo novamente.

Vi quando ela saiu da água e pulou nas costas dele. Num golpe ele inverteu a posição colocando-os frente a frente. Os dois sorriam animados com a diversão, mas o sorriso se transformou num olhar que excedia a amizade e o cuidado. Ele olhou para ela da forma como há alguns dias costumava olhar para mim. Mesmo distante percebi o desejo emanar no olhar de Leo.

Fiquei chocada. Paralisada com a cena. E com a intensidade da troca de olhares, eu vi o que fingi durante dias, não ter percebido. O interesse de Leo em Raika.

Eu sabia. Lá no fundo eu sabia. Eu já tinha percebido a forma carinhosa que Leo passou a trata-la. A atenção, em como ele passou a se esforçar mais para que ela estivesse conosco em cada passeio, em cada momento. E quando ele estava sozinho comigo, sua cabeça estava muito longe. E nós também estávamos longe um do outro. Não era mais como antes. Eu é que, com medo de aborrecer a ele ou a ela, não me queixava. Fui muito tola. Estava acontecendo debaixo do meu nariz dia a dia. E somente hoje e diante do que estou vendo, pareço ter despertado.

A certa distância, a tortura daquela cena me sufocou e me deixou sem ação. Devagar, passo a passo me aproximo, cada momento mais perto daquilo que meus olhos viam, mas meu coração se recusava a acreditar. É uma ilusão... só pode ser uma ilusão... Eu tenho que chegar mais perto e confirmar que é só uma terrível e cruel ilusão.

Completamente esquecida e invisível, contemplei Leo absorto nos olhos hipnoticamente azuis de Raika. E quando suas mãos, carinhosamente, seguraram o rosto dela, e ele, suavemente se curvou se aproximando ainda mais, eu estava a poucos metros da margem do rio, percebendo a real e dolorosa verdade. Não era ilusão.

E ele a beijou.

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