Capítulo 33/1

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Mais dias de sobrevivência passaram lentamente. Depois da carta que li de meu pai, as lembranças de Jeziel insistiam em querer me açoitar, mas eu as driblava me ocupando de afazeres.

Para meu desespero, Biel partiu para Inglaterra. Apesar dele ter se dado bem com a família que conheceu, preferiu alugar um apartamento, então mamãe foi com ele, para transformar o cafofo de Biel num lugar habitável.

Em poucas horas, me vi completamente sozinha em casa. De novo. O que não era nada bom, mas ao menos não precisava fingir o dia inteiro, que estava bem. Podia ficar amuada num canto, por todo o tempo que eu quisesse, me esforçando para esquecer o motivo da minha tristeza.

O tempo se arrastava. As horas se transformaram em dias e os dias em semanas. E eu lutava todo santo minuto, para manter minha sanidade mental.

Meus esforços, finalmente estavam dando resultados. Eu já conseguia assistir a um seriado, sozinha na sala, sem me sentir só metade, naquele sofá enorme. Conseguia ir à pizzaria buscar meu jantar, sem olhar para a mesa em que o vi sentado, voltei a ouvir minhas músicas prediletas, sem atribuir as letras, a minha história com Jeziel. Como dizem por aí, que o tempo cura tudo, depois de tanto tempo, eu já conseguia, por um milagre, pensar em outras coisas. Vida que segue.

Mamãe ia e vinha de suas viagens, sempre preocupada com minha falta de interesse em tudo. Ela insistia para que eu a acompanhasse em suas viagens. O que eu recusava sempre. Mesmo sentindo a mudança positiva em mim, ainda preferia estar sozinha.

 Mesmo sentindo a mudança positiva em mim, ainda preferia estar sozinha

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— Querida, é a mamãe. Não vou conseguir voltar pra casa esse fim de semana. Um problema aqui na filial, vai me fazer ficar longe de casa por pelo menos mais dez dias — disse Dona Eliana, pelo telefone. Percebo que meus próximos dias, seguiria sem ninguém para me distrair.

— Tudo bem mãe, fique tranquila, por aqui está tudo normal.

— Odeio ter que te deixar sozinha por tanto tempo. Eu ficava mais sossegada quando Biel estava em casa.

— Não tem com o que se preocupar, não preciso de babá, já sou bem crescidinha. E chegaram aqueles livros que eu pedi, vou me ocupar bastante, nem sentirei a falta de vocês.

E ela desliga após me dar centenas de recomendações.

Enquanto me preparo para dormir, a campainha toca.

Quem pode ser a uma hora dessas? resmungo descendo os degraus até a sala.

Olho pela janela e não vejo ninguém. Penso ser molecagem das crianças da rua, mas a campainha toca novamente, enquanto eu observava através do vidro. Fico intrigada, abro uma brecha na porta e espio.

Vejo um homem caído ao pé da entrada. Assustada, me apresso a fechar a porta, e antes que a encoste na tranca, uma voz fraca, chama meu nome.

Melissa... A voz saiu quase inaudível, e apesar de tantos meses sem ouvir, reconheço de imediato.

 — A voz saiu quase inaudível, e apesar de tantos meses sem ouvir, reconheço de imediato

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