Capítulo 27

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Pelos dias seguintes, Leo e eu nos esmeramos em fazer com que a depressão de Raika fosse vencida. Jogos em casa, passeios ao cinema, ao shopping, ela participava dos meus treinamentos, e já demonstrava estar mais animada, apesar de ainda reclamar ter saudades de casa. E por causa dessa saudade ela estava muito próxima a mim.

Leo continuava mantendo certa distância dela, apesar de eu me comportar muito bem. Nenhuma crise de ciúme, nenhum ataque de insegurança de minha parte. E Ernest também estava com o humor melhor, apesar de não poder dizer que ele estava totalmente satisfeito. E vez ou outra ele deixava escapar uma ou duas frases que me pareciam ser uma indireta para mim sobre — Leo estar tornando as coisas mais difíceis. — Eu não conseguia captar o que ele queria dizer e sempre que perguntava a Leo, ele escapava de me dar a resposta. Como sempre.

Depois de um dos intermináveis passeios ao shopping. Lugar preferido de Raika, que tinha se tornado uma consumista de primeira, com Ernest a mimando com bolos e bolos de dinheiro, para que ela se sentisse mais feliz, deixamos Raika na casa de Leo e ele me levou em casa para me preparar para mais tarde.

Ernest havia dado a sugestão de levarmos Raika para um lugar aberto, pois como ela sentia falta de casa, talvez o contato com a natureza amenizasse a situação.

Quando chegamos para pegá-la, Ernest se recusou a ir conosco, dizendo que passeios assim era coisa para jovens, então fomos nós três e uma cesta de guloseimas preparada especialmente para a ocasião por ele.

Leo nos levou ao parque florestal. Estava deserto, o que nos deu liberdade para conversarmos durante horas.

Cercados ali, por aquele aroma de eucalipto, não tive como não lembrar como tudo começou. Um sonho. E hoje estava ali novamente, agora com Leo. Era tão estranho e ao mesmo tempo mágico. Cada parte do meu sonho me cercando numa realidade brutal, que me fazia perceber que sonhos se tornam realidade.

Leo segurando minha mão e Raika passeando entre as árvores, sem parecer se incomodar com a escuridão de uma noite sem luar. Ela estava tão à vontade e feliz, como Leo costuma ficar em meio a natureza.

Os poucos postes de iluminação, não faziam grande diferença em meio as árvores tão imensas e frondosas. E ainda assim conseguia ver o quanto Jeziel, a cada dia que passava, ficava mais atraente. Se aos meus olhos de garota apaixonada, não sei, mas ele continuava sendo o cara que me tira o folego só e olhar para ele. Ele percebeu a forma que o olhei, com cobiça e, aquela mania inconsciente que ele tem, de umedecer e mordiscar o lábio inferior, antes de presentear qualquer ser mortal com seus dentes perfeitos, um prelúdio do sorriso que vai abalar qualquer célula existente no meu corpo, e que tem o poder de embaralhar todos os meus pensamentos, surgiu sedutor.

Nesses últimos dias, nosso tempo a sós eram bem poucos. Praticamente só na hora de dormir, lá em casa, é que nos víamos a sós, Raika estava tomando todo nosso tempo, e a compensação era que ela estava muito melhor, sua luz roxa já brilhava, seu apetite já estava tão bom como antes e seus olhos azuis já retomaram o brilho. Só por isso eu não reclamava.

Ele me puxou pela cintura com as duas mãos e olhou por cima do meu ombro para ver Raika, que estava a uns cinco metros de nós. Depois, a ponta de seu nariz deslizou sobre meus cabelos ao encontro da minha orelha, me fazendo arrepiar quando inspirou meu perfume. Suas mãos subiram por minhas costas aproximando mais meu corpo ao dele e ergui meu rosto para encontrar seus lábios. Ele não me beijou, ficou me olhando, fazendo me sentir uma joia rara, algo precioso, o qual ele quisesse admirar antes de tomar posse.

— Não estamos sozinhos — me tirou do estupor do seu olhar.

Levei alguns segundos para me lembrar do motivo para estarmos aqui e me afastei de Leo procurando por Raika, que nesse pouco tempo, tinha saído das nossas vistas, Leo também rastreou com os olhos a área em que estávamos e se preocupou.

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