Capítulo 28

3 1 0
                                    

Por cima dos ombros de Raika, enquanto Leo se afastava daquele beijo, e abria os olhos devagar, com se despertasse de um sonho, ele me viu parada sem ação assistindo a cena. Só então ele se afastou dela.

Instintivamente, como para me proteger e me afastar do que me causou uma dor lancinante, dei alguns passos trôpegos para trás. Jeziel saiu da água, querendo se aproximar. Caminhei mais vários passos de costas.

Em segundos ele me alcançou, segurando meu braço. Eu arranquei meu braço de sua mão. Olhei para ele tão assustada... tão perturbada... diante de mim agora estava alguém que eu não conhecia. E aquele estranho a minha frente tinha... beijado minha irmã.

Pisquei os olhos que já estavam transbordando em lágrimas e tentei mirar o rosto daquele estranho e em meio a meu espanto o reconheci. Reconheci aqueles olhos que agora trazia uma culpa e um pedido desesperado de perdão. Eram os olhos do homem que eu amava, era Leo.

Ele tentou mais uma vez se aproximar, com um olhar suplicante e mais uma vez me afastei tropeçando de costas.

Olhar para ele agora era o mesmo que ver o mundo em que eu acreditava... em que eu vivia, e me sentia protegida, ser totalmente destruído. E doeu... doeu demais olhar para ele. Então me virei.

— Melissa... — ouvi a voz que por tanto tempo me trouxe tanta segurança e paz, mas que agora só me causava desespero.

Eu não queria ouvir.

Comecei a correr. Corri para tentar ficar o mais distante que pudesse do que estava me sufocando... me matando.

Estava difícil achar o caminho da saída, algum caminho qualquer que fosse, pois as lágrimas que se formaram, ardiam e que agora caiam descontroladamente, molhando meu rosto, embaralhavam minha visão.

— Melissa!?... — Leo chamou, mas eu não quis parar.

Ele me alcançou novamente, me segurou pelo braço me obrigando a parar.

— Me desculpe...

— Não se desculpe — Falo me virando para ele, exasperada, retirando a mão dele de mim. — Nem se justifique. Ou vai querer me convencer que eu não vi o que acabei de ver?

Ele ficou calado me olhando.

— Você a beijou! — Acuso, apontando enfurecida para o rio atrás dele.

Ele nada diz. Não tem como se defender.

— Não dá pra ficarmos assim — soltei ríspida e desesperada — Pensei que você estava só preocupado com Raika, por achar que a responsabilidade do que ela está passando era sua, mas vejo que é muito mais. Eu não consigo mais chegar perto de você, você não consegue mais conversar comigo. Não me toca, não me beija, nem me olha mais nos olhos. Às vezes tenho a impressão que você nem nota que estou por perto. E agora isso?!

Ele abaixa a cabeça olhando para o chão.

— Me diz o que está acontecendo Leo? — Falei com o coração dilacerado.

— Eu não sei — Sua voz embargada, tão baixo, jogando os cabelos molhados com as mãos para trás, que quase não o ouvi.

— Seja sincero comigo — As lágrimas ainda lavando meu rosto — Você está gostando dela?

— Não sei! — Ele grita — Estou confuso. Meu coração me diz uma coisa minha mente diz outra... eu não sei o que está acontecendo comigo.

Não era isso que eu precisava ouvir. Um: — Não sei — e ― estou confuso — soou pior que um sim.

— Então me dê só uma resposta. De quem seu coração fala, de mim ou dela? — falei no último fio de esperança.

Ele abaixa a cabeça novamente e se cala.

O silêncio de Leo, foi como uma apunhalada em meu coração.

— Eu acreditei em você... Acreditei que me amava! Mas você mente tão bem que eu me deixei iludir... — falei num último suspiro.

Levo a mão até meu peito apertado, para conter a dor e sinto algo por debaixo da minha blusa. O pingente. Enfio a mão por dentro e puxo para fora o colar que ele havia me dado. Com força arranco de meu pescoço.

— Tome. Eu não preciso de você, nem disso. Eu não preciso mais das suas mentiras. — Ele não estende a mão para pegar, então atiro o colar no chão — Esqueça que eu existo. Estou saindo da sua vida. Não serei mais o motivo de suas dúvidas.

Chorando, corro para o lado da casa que era o que eu conseguia ver entre as lágrimas e esbarrei com Maxuel retornando para o rio.

Leo ainda gritava meu nome, mas eu me agarrei a Maxuel implorando para me levar para casa.

— O que aconteceu?! — Ele me pergunta aturdido.

— Por favor, me leve pra casa agora — Eu chorava aos prantos, enquanto implorava a ele.

Leo parou de me perseguir. E Maxuel não viu outra alternativa a não ser me levar embora.

O rugido alto da moto de Maxuel, não conseguiu espantar o que vi. A cada segundo a imagem de Leo e Raika no rio me chicoteava.

Em casa, Max se recusava a me deixar sozinha, no estado em que eu me encontrava. Me perguntou algumas vezes o que tinha acontecido, ainda que ele desconfiasse, mas logo desistiu de buscar respostas, quando via que tanto mais ele tentava decifrar o mistério, mais eu ficava perturbada.

O que eu devia responder? Que tinha terminado com Leo, o homem que eu amava, porque ele tinha beijado minha irmã? E pelo jeito estava apaixonado por ela? Não. Era demais para mim.

Ele me serviu um copo de água com açúcar e perguntou se queria que ele ficasse ou chamasse alguém.

Menti, dizendo que já estava melhor, porque tudo que eu queria era ficar sozinha.

Quando ele saiu, tranquei todas as portas e janelas da casa para impedir que Leo, de alguma forma, entrasse. Não que isso fosse impedi-lo, mas ele saberia que eu não estava disposta a falar com ele e diante da minha dor, eu nunca mais queria vê-lo.

Chorei a tarde toda deitada no sofá. O telefone de casa tocou e eu me recusei a atender. Quando caiu na secretaria eletrônica era Biel.

Mel, está tudo bem aí? Você deve estar na rua. Meu coração está apertado por sua causa, deve ser de saudade. Me mande notícias ainda hoje. Não quero ficar preocupado aqui, ou pego um avião hoje mesmo e volto pra casa. E Jeziel, está cuidando direitinho de você? Se ele te magoar eu parto ele ao meio. Eu tive outro sonho esquisito, só que desta vez, você estava sozinha. Se cuida. Espera eu chegar aí, para se meter em encrencas. Te amo e... Tchau.

Ouvir a voz de Biel, tão longe, me fez sentir realmente sozinha. Sozinha como nunca estive, sozinha como jamais me senti. Uma desolação reverberou em minha alma. De repente, eu não conseguia sentir mais nada além de solidão, desolação e dilaceração em cada molécula do meu ser. Como se alguém tivesse me lançado no mais profundo abismo do inferno.

Me lançaram sem piedade a um lugar sem nenhuma luz, sem alento, nem esperança... apenas dor. Dor... dor. E ainda agora, sinto que estou caindo, como se eu já não tivesse afundado o bastante. E não quero lutar contra essa dor. Quero que ela me consoma, que ela me queime de dentro para fora, que me incinere, que transforme em cinzas a minha existência. Desejei nunca ter nascido, tudo por causa dessa dor.

 Desejei nunca ter nascido, tudo por causa dessa dor

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
AndaluzOnde histórias criam vida. Descubra agora