Capítulo 29

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Acabei adormecendo no sofá depois de tanto chorar. E quando ouço a campainha, abro os olhos e noto a casa toda escura. Já havia anoitecido. Com as cortinas fechadas, nem a luz externa dos postes nas ruas, traziam alguma iluminação. Tudo escuro como um túmulo. Meu túmulo.

A campainha soa novamente. Resolvo ficar quieta, imóvel como um defunto que me sentia, esperando que o visitante indesejado vá embora. Fosse quem fosse, eu não queria atender ninguém.

— Melissa, preciso falar com você — Era a voz de Ernest.

Ri por dentro, sem o menor humor. Era de se esperar que Jeziel viesse conversar comigo, mesmo me trancando, desejando ficar sozinha, sem querer ver a cara dele, no fundo eu esperava por isso. Gostaria de ter a chance de rejeitar sua insistência em me dar algum tipo de desculpas. Eu devia ter o direito de ignorá-lo, enquanto insistisse na campainha, para que eu abrisse a porta.

A mim, devia ter sido permitido mandar Jeziel a merda, quando do lado de fora, ele dissesse que precisava falar comigo. Nem isso me concederam, Jeziel mandou seu vassalo para me importunar. Eu devo mesmo ser uma imbecil.

— Vamos Melissa, eu sei que está aí. E eu posso abrir a porta se quiser, mas prefiro que você abra.

Será que esse povo não pode me deixar em paz?!

— Por favor Melissa...

— Vá embora! — grito furiosa.

— Preciso mesmo falar com você.

— Não quero falar com você! Não quero falar com ninguém!

— Não vou sair daqui antes que me ouça.

— Mais que droga! Bando de filhos da... — Praguejo e deixo o sofá, sentindo uma leve vertigem ao me levantar com dificuldade, porém, cheia de ódio e decidida abrir a porta e mandar Ernest à puta que pariu, para que me deixe em paz.

Ernest me encara com pena, o que me deixa ainda mais furiosa.

— O que você quer?! — rincho com grosseira, mas não consigo manda-lo para lugar algum.

No fundo do meu ser, alguma coisinha ainda quer que alguém me explique o que foi que aconteceu. Quem sabe, Ernest veio me dizer que tudo não passou de um mal-entendido, que não vi direito o que vi, que interpretei errado o que Jeziel me falou, que tudo não passou de um pesadelo... qualquer coisa que possa aliviar minha dor.

— Me convida para entrar? — diz, ainda me olhando como quem olha para um cachorro de rua que acabou de ser chutado.

Estendo a mão para sala.

— Posso ascender as luzes? — Sem tocar no interruptor, a luz se ascendeu fazendo meus olhos arderem.

Cruzo os braços e fico de pé diante dele, tentando exibir o mínimo de dignidade que ainda me restava. Eu estava machucada e completamente abalada, mas não queria dar o gostinho a Ernest, que nunca foi com a minha cara, de ter o prazer de me ver derrotada.

— Sei que pensa que eu não simpatizo com você Melissa, mas isso não é verdade. A única coisa que me faz agir indiferente, é a posição que está ocupando, que não é sua. Eu vim aqui, em primeiro lugar, porque Jeziel está muito preocupado com você e sabe que você não o receberia. Raika também está preocupada e chateada, com medo de perder sua amizade.

O encaro, querendo fuzilá-lo com os olhos. Só pode tá de brincadeira...

— É verdade, Raika não tem culpa de nada. Ela é tão vítima quanto você.

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