Capítulo 7

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— Que tal um passeio hoje à noite? — Letícia se debruça sobre a mesa para falar com ele.

— Ótima ideia. — Ele responde, parecendo animado.

— Só nós dois? — Ela sugere empolgada.

— Só nós dois. — Ele responde, com a voz sedutora.

Por que logo eu tenho que ficar ouvindo isso?! Por que ele não troca de lugar com a Niviam, que se senta ao lado dela, e me deixa em paz? Ou se for o caso, eu mesmo troco de lugar com Letícia para que os dois possam ter mais tempo de marcar seus encontros. Ao menos eu teria sossego.

— Vejo que está noite será muito especial. — Ela imitou o tom dele.

— Para mim, com certeza. — Diz ele.

A conversa dos dois já estava me deixando consternada. A mesa começou a tremer, fazendo Letícia se levantar. Pensei que fosse um terremoto. Bem que a terra poderia abrir e devorá-la, mas me lembrei que não há terremotos nesse continente.

A professora entra e Letícia vai para seu lugar, me olhando mal-humorada, julgando que eu tinha tentado jogá-la para fora da minha mesa. Não, que eu não quisesse fazer isso, mas eu sequer toquei nela. E Jeziel coloca a mão sobre minha mesa, fazendo-a parar e me olhou de relance.

Um sono repentino sobreveio, me impedindo de pensar claramente no que poderia ter acontecido, e não sei como não dormi no meio da aula. Eu devia estar com algum problema sério de saúde.

Com dificuldade, mantive os olhos abertos, na volta para casa. Quando chego ao quarto, caio sobre a cama e desligo.

Após horas, acordo faminta no meio da noite, me lembrando que não havia comido nada o dia todo. Fui bocejando até a cozinha atrás de um lanche, sem estranhar estar sozinha em casa. Encontro uma jarra de suco na geladeira e uma fatia fria de Torta.

Quando mordo o primeiro pedaço, me lembro que Jeziel, neste exato momento, deve estar com Letícia pela cidade. E quem sabe onde, e fazendo o quê.

Um gosto amargo tirou meu apetite e eu sabia que não era a comida. Estava deprimida, com o fato dele ter escolhido ela e não eu.

Jogo tudo fora, perdi totalmente a fome. Minha frustração era evidente, mas estava disposta a não ficar pensando nisso. Ele não merecia minha atenção.

Volto para o quarto e quis me forçar a dormir, porque dormindo não ia lembrar dele. A tentativa foi inútil. Rolei de um lado para outro na cama e não conseguia pensar em outra coisa. Nos poucos segundos que cochilei, sonhei com Jeziel. Ele estava, para o meu desespero, lindo como sempre, sentado no balanço do parque que tínhamos ido outro dia.

Desci as escadas, andei pela sala; liguei a TV; desliguei a Tv; deitei no sofá; sentei, e percebi que estava angustiada demais para ficar sozinha em casa. Planejei ir comprar algum lanche, só que seria inútil, já que a fome tinha ido para o espaço.

Ainda estava cedo, eu poderia dar um passeio no shopping, mas não... não queria ver ninguém. No entanto, precisava fazer alguma coisa. Tinha que sair de casa antes de sufocar, antes de enlouquecer aqui dentro.

Resolvi dar uma volta para relaxar. Precisava de ar puro desesperadamente. Fui caminhando à noite sem destino, observando no céu, a lua distante e minguada, e antes que eu percebesse, acabei chegando ao parque.

Quando distraída, olhei para onde estavam os balanços, um arrepio percorreu todo meu corpo. Ele estava lá, Jeziel estava lá! Da forma como eu havia sonhado.

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