{Capítulo. 32•}

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Era uma noite tenebrosa. Carregada por espessas nuvens de chuva que escondiam cuidadosamente a lua e deixavam grossos pingos de água cair no solo, o céu era iluminando por breves feixes de luz tenebrosos, que anunciavam sua presença com um estrondoso som de assustar.

Um desses feixes de luz cortou o céu, iluminando o cômodo pouco iluminado pelas lâmpadas que a segundos atrás foram explodidas por projéteis.

O cômodo também se encontrava uma bagunça. Papéis jogado ao chão e móveis destruídos e fora de ordem. Havia um rastro de sangue seguindo um senhor de meia idade. O tal homem estava vivo. Lutava com todas as forças para se rastejar pelo chão como um minhoca em terra, totalmente humilhado. Sentia-se fraco e impotente, preste a caminhar no caminho espinhoso da morte.

A sua única esperança estava a centímetros de si.

Esticou sua mão. A ponta dos dedos estava a milímetros de distância de encostar na arma carregada; antes que isso acontecesse, um pé delicado e feminino, calçado com um lindo salto vermelho-sangue, pisotearam seus dedos.

O homem soltou um grunhido pela dor.

Seus olhos se moveram para cima, enfurecidamente, encarando a dona daquele pé delicado.

— Sua... maldita — vocifera o homem, a palavra rasgando sua garganta, amaldiçoando-a em todas as línguas possíveis pela sua traição. Não havia limites para seus xingamentos. — Eu te criei... e você ousa pisar na mão que te acolheu...?

Os olhos castanhos da mulher o encararam friamente, como se vissem algo detestável.

Me acolheu? — repetiu com desgosto, podendo ver rugas se formarem entre suas finas sobrancelhas. — Me trouxe para um inferno, quando eu deveria ir para o céu... Acha mesmo que me fez um ato de bondade, velhote? Que arrogante da sua parte.

A mulher o pisoteou novamente, movimentando o calcanhar e mantendo o solado do salto sobre os dedos enrugados. Aquilo arrancou mais grunhidos dolorosos e xingamentos do mais velho.

Ela se agachou, mantendo o solado nos dedos dele, se apoiando no joelho da outra perna. O vertido de cetim da mulher caiu em dobras suaves sobre o chão, iluminado pelas luzes dos trovões que atravessavam os vidros das janelas.

O velho sentiu seu coração disparar desesperado, sentindo um medo que nunca havia sentido em todos os seus longos anos de vida.

Sempre viveu a sua vida sendo protegido e comandando os outros enquanto vivia confortavelmente, sempre cuidando de seus filhos para que se tornassem fortes o suficiente para comandar sua organização um dia e seguir seus passos. Por isso, nunca precisou se preocupar com essas coisas fúteis.

Mas agora vendo os olhos ameaçadores de sua filha predileta, que o encaravam como se ele fosse o ser mais patético e abominável que existe, sentiu um medo descomunal ao ponto de suar frio e seu corpo tremer inconscientemente.

— Você não sabe o tanto que eu esperei por esse momento, papai — disse ela com repúdio. — Sua morte não será aqui. Não... aqui não. Minha consciência não me permite te dar uma morte rápida e sem sofrimentos. Você deve sofrer mais. Sentir mais dor. Derramar seu sangue asqueroso por cada alma perdida que você "resgatou" e desdenhara, deixando-nos a mercê da sorte e agonia.

"Você precisa se perguntar, cada dia, cada hora: será que eu vou estar vivo amanhã? Será que morrei hoje? Agora? — As sobrancelhas da mulher suavizam, agora o olhando sem interesse. — Deveria ter me deixado pra morrer, Sr. Masataki. Agora, sofra com as consequências de suas escolhas."

Masataki ouviu tudo silenciosamente, respirando pesadamente pelas narinas, cerrando os dentes de frustração.

— Acha que vai se safar, sua vadiazinha? Meus aliados vão se revoltar, vão te prender, e quando eu pôr minhas mãos em você nunca mais vai encontrar seu irmãozinho — disse ele com um sorriso confiante, convicto em suas tolas palavras.

Would you love the mob boss?Onde histórias criam vida. Descubra agora