Ro Woon (Ator)- We don't talk anymore

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Fiquei ali, na sala pouco iluminada que outrora ecoava de risos e segredos partilhados, agora assombrada por um silêncio inquietante. O ar parecia pesado, sufocante, como se as próprias paredes estivessem a fechar-se sobre mim. Não conseguia livrar-me do sentimento de que algo tinha mudado, que as cores vibrantes da nossa outrora feliz relação tinham desvanecido para tons acinzentados. Foi uma perceção que me assaltou como um fantasma, gelando-me até ao âmago.

S/n e eu tínhamos construído um mundo juntos, onde o amor e a alegria floresciam sem esforço. A nossa ligação era uma melodia que tocava em perfeita harmonia, e cada nota era um testemunho da força do nosso vínculo. Rimos juntos, chorámos juntos e enfrentámos os desafios que a vida nos lançava de mãos dadas. Parecia um vínculo inquebrável, um que resistiria ao teste do tempo. Mas pouco sabia eu que a própria essência da nossa ligação estava a desfazer-se, e eu estava cego para os fios que se desfaziam.

O primeiro sinal surgiu subtilmente, como um sussurro do vento que passa despercebido até se tornar numa tempestade furiosa. Os sorrisos de S/n, uma vez um reflexo de pura felicidade, começaram a perder o brilho. Havia um olhar distante naqueles olhos que costumavam iluminar-se ao ver-me. Era como se um véu tivesse descido, separando-nos da intimidade que uma vez partilhávamos. Primeiramente, desvalorizei, atribuindo-o ao stress ou ao fluxo da vida. Pouco sabia eu que a maré estava a virar-se contra nós.

O segundo sinal foi o silêncio que se instalou entre nós como um convidado indesejado. As nossas conversas, uma vez repletas de trocas animadas e sonhos partilhados, agora perduravam em pausas desconfortáveis. As palavras que costumavam fluir sem esforço foram substituídas por um pesado silêncio, uma lacuna que parecia impossível de preencher. Foram durante esses momentos de silêncio que senti o abismo crescente entre nós, um vazio que se alargava a cada dia que passava.

Tentei chegar perto, agarrar os fragmentos que desapareciam da nossa ligação, mas era como tentar agarrar fumo com as mãos nuas. As respostas de S/n tornaram-se cautelosas, evasivas, como se as paredes se estivessem a fechar ainda mais. Era como se estivesse à beira de um precipício, a assistir impotente enquanto o chão sob nós se desmoronava. O calor que outrora irradiava dos nossos abraços tinha-se transformado numa memória distante, deixando para trás um vazio frio que se infiltrava no cerne do meu ser.

À medida que os dias se transformavam em semanas, vi-me a refazer os passos da nossa jornada, tentando identificar o momento em que tudo mudou. Foi um aniversário esquecido, uma celebração negligenciada ou uma promessa esquecida? Vasculhei as memórias, procurando pistas que desvendassem o mistério do nosso amor a desvanecer-se. Mas as respostas permaneciam elusivas, escondidas nas sombras do que costumava ser.

Numa noite, enquanto estava sozinho no silêncio do nosso lar, a verdade atingiu-me como um raio. Não se tratava de marcos perdidos ou gestos esquecidos; tratava-se da mudança intangível na dinâmica da nossa ligação. O riso que outrora ecoava no nosso espaço partilhado tinha sido substituído por um eco oco, um lembrete crasso da alegria que tínhamos perdido. O amor que nos unia tinha-se transformado num eco distante, desvanecendo a cada dia que passava.

A perceção atingiu-me como uma onda gigante, a cair sobre mim com uma força que me deixou sem fôlego. Tinha-me tornado um estranho na minha própria relação, um espectador a assistir aos fragmentos do nosso amor a desintegrarem-se. A dor que acompanhava esta revelação era visceral, uma pontada aguda que roía as margens do meu coração. Como passámos de ser os arquitetos da nossa própria felicidade para as vítimas da nossa ligação a desfazer-se?

Confrontei S/n, as palavras pesadas na ponta da língua, ameaçando transbordar como uma barragem prestes a romper. A conversa que se seguiu foi uma dolorosa dança de verdades não ditas e lágrimas não derramadas. S/n admitiu sentir uma distância que nenhum de nós conseguia ultrapassar. As razões eram vagas, perdidas num labirinto de emoções que nenhum de nós conseguia compreender totalmente.

Sentámo-nos no rescaldo do nosso mundo despedaçado, rodeados pelos destroços de um amor que outrora se erguera alto. Foi um doloroso reconhecimento de que o capítulo que tínhamos escrito juntos tinha alcançado as suas últimas páginas. Os ecos do nosso riso e dos sonhos partilhados pairavam no ar, assombrando os espaços vazios que outrora estavam preenchidos pelo calor da nossa ligação.

Nos dias que se seguiram, navegámos a dança desconfortável da separação. Os espaços partilhados tornaram-se campos de batalha de ressentimento não expresso, e as rotinas outrora familiares pareciam os vestígios de uma vida que já não nos pertencia. Foi um processo lento e angustiante de desemaranhar os fios que nos tinham unido, cada movimento carregado com o peso do adeus.

O amor que um dia nos definiu tornara-se uma memória agridoce, um fantasma que persistia nos cantos da nossa história partilhada. Enquanto me afastava dos destroços da nossa relação, não pude deixar de me questionar como algo tão bonito poderia desmoronar em fragmentos tão pequenos que pareciam desaparecer no ar.

No silêncio que se seguiu, encontrei consolo na perceção de que, por vezes, o amor transforma-se num sussurro silencioso, desvanecendo-se sem aviso prévio. Os ecos do nosso tempo juntos ressoariam para sempre nas câmaras do meu coração, um lembrete de um amor que outrora ardia intensamente mas, como todas as coisas, estava destinado a extinguir-se. E ao entrar no caminho incerto de um novo começo, levei comigo as lições do nosso amor a desfazer-se, um mapa para navegar o delicado equilíbrio entre agarrar e deixar ir.

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