Entrando no jogo

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Era o jantar outra vez e eu já não suportava estar ao lado dele. Essas pessoas comiam a mesa como se não tivessem acabado de matar alguém naquele porão eu podia ver ainda o sangue por baixo das unhas de Ian mas eles conversavam normal e aquilo estava embrulhando meu estômago.

Depois do que houve no quarto com ele o vi descer e pegar uma quantidade enorme de ferramentas e indo em direção ao porão, eu já sabia que ele estava indo fazer o trabalho sujo outra vez.

— Zoe querida, não está comendo...- Vicent disse de um jeito carinhoso notando meu prato intocado.

— Estou sem fome, posso subir?

— Não.

Ian foi quem respondeu ao meu lado me obrigando a ficar ali, felizmente ele não estava me obrigando a comer. Pierre estava de frente pra mim me encarando com pena e eu odiava o fato dele saber sobre meu problema com a comida.

— Então Ian, como foi hoje?

— Gutierres ainda está vivo.. o cliente pediu um video da tortura depois que eu já tinha começado.

Eles falavam disso a mesa? como era possível?

— Filhos da puta, não confiam no nosso trabalho.

— Já que estamos falando sobre isso a família Ferraz do governador está nos apressando.- Pierre o respondeu entrando no assunto.

— O que eles querem?

— Uma garantia de que vamos cumprir o trato, eles tem direito pagaram adiantado.

Vicent pareceu pensar em alguma coisa e então olhou pra mim, eu já estava nervosa com o assunto mas continuava calada pra que ninguém me colocasse no meio disso.

— Ian precisa de ajuda para filmar não é?

— Sim preciso. Não dá pra torturar ele e filmar ao mesmo tempo.

— Leve a Zoe com você amanhã.

— O que?!.- deixei transparecer meu pavor e ele olhou pra mim erguendo as sobrancelhas.— Eu...eu...não posso..porfavor.

— Você vai com ele, não é um pedido.

Minhas mãos estavam tremendo eu não queria ter que fazer isso, Ian me prometeu que eu cuidaria dos papéis e eu estava bem com isso.

— Eu não consigo ver sangue....eu passo mal..não seria uma boa ajuda..

— Você estava olhando o homem que matamos aquele dia no hall de entrada e não desmaiou. Acho que já está se acostumando.

— Mas eu...

— Mas nada, você vai com ele e ponto.

Eu não ia aguentar ficar ali agora, mesmo que ninguém tenha me dado permissão eu levantei da mesa indo pro quarto. Eu tinha uma mistura de sentimentos que eu não sabia explicar, era medo, raiva, frustração...eu odiava esse lugar e odiava as pessoas daqui me dizendo o que eu tinha que fazer e me obrigando a fazer coisas que eu não queria.

Quando cheguei ao quarto precisei sentar na cama para me acalmar, meu coração estava batendo muito forte e um frio estranho se instalou no meu corpo. Ian abriu a porta e naquele momento eu não o queria por perto.

— Porfavor sai.

— Não vai ser o fim do mundo.

Ele se sentou ao meu lado e isso me deixou ainda mais indignada, ele realmente achava que eu acreditaria no que ele estava dizendo depois de todas as mentiras que ele me disse?

— Ah claro que não, pra você. Me disse que eu não ia precisar ver gente morta.

— Não fui eu quem mandei você me acompanhar amanhã, foi meu pai.

— E você nem contestou.

— Você realmente escutou ele? Acha que eu poderia contestar alguma coisa?

— Poderia tentar, mas você ficou lá parado sem dizer nada apenas obedecendo.

Ele deu uma risada sarcástica e tirou um cigarro do bolso acendendo e tragando forte. O cheiro daquilo me incomodava mas ele parecia tão relaxado ao fumar que até cogitei em pedir um trago mas não fiz isso, eu não podia me viciar em alguma coisa pra ignorar minha realidade.

— Não se contesta o meu pai Zoe quando você vai entender? Se ele te mandar fazer algo então faça.

— Eu não posso fazer isso...

Ele segurou minha mão derrepente e eu o encarei pelo ato, Ian começou a acariciar minha mão como se estivesse me consolando e pensando ao mesmo tempo. Ele era estranho, nunca demonstrava afeto a nada nem a ninguém e quando fazia "sem querer" era sempre uma surpresa.

— Minha primeira vez nisso foi com treze anos, meu pai teve uma emergência e não pôde terminar normalmente eu só estava presente vendo aquilo ou filmando. Mas nesse dia ele me entregou a arma e me disse pra terminar.

Ele não parecia triste ao contar isso pelo contrário seus olhos tinham um brilho diferente quase como se ele sentisse prazer ao lembrar, ele provavelmente era um psicopata mas era curioso ver como ele se sentiu em relação a isso.

— O homem estava algemado na cadeira chorando com uma mordaça na boca...eu apontei a arma pra cabeça dele e ele ficou ainda mais desesperado. Era engraçado até, ele tinha medo de uma criança...

— Você não sentiu pena?

— Pena? Não...quando eu atirei nele foi tão satisfatório...eu me arrepiei, consigo lembrar claramente do que eu senti. Foi a primeira vez que eu fiquei duro..como eu disse matar se torna prazeroso como um orgasmo, não disse de forma hipotética.

Eu sentia meu corpo inteiro arrepiado ao vê-lo descrever essa sensação parece que estou lá com ele, sua presença aqui agora me contando essa barbaridade estava me deixando confortável e eu não queria que ele fosse embora porque eu queria saber mais..

— Amanhã você vai filmar enquanto eu tiver espancando ele, você vai sentir medo, depois pavor e depois você vai começar a ficar interessada no meu próximo movimento...tentar adivinhar quais ferramentas eu vou usar e então quando eu o matar finalmente você vai ficar molhada, e vai se culpar porisso.

Ele não tinha como prever o que eu ia sentir mas e se ele estivesse certo? Até agora tudo que ele me disse por mais que eu tente ignorar era verdade.
Já estava tarde e com o tempo ali apenas olhando pra ele meus olhos começaram a pesar, ele me puxou contra seu peito me fazendo deitar sobre ele.

O cheiro do cigarro em seu corpo ainda era presente e surpreendentemente me deixava calma, encarava a lua do lado de fora sentindo sua mão acariciando a minha quando o sono foi chegando aos poucos.

Podia ouvir seu coração acelerado e sorri porisso sem nenhum motivo eu apenas gostava do som, e depois de um tempo eu simplesmente apaguei.

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O sol atingiu meu rosto fazendo com que lentamente eu abrisse os olhos, tive uma sensação estranha e quando me dei conta eu estava dormindo em uma conchinha com o Ian, eu estava assustada por ter me permitido dormir com ele mas estava tão confortável que eu não o afastei.

Sua respiração em meu pescoço me deixou arrepiada, e quando ele entrelaçou nossos dedos eu soube que ele estava acordado..

— Não devia ter dormido aqui.

— Porque?

— Eu podia te matar enquanto estivesse dormindo.

Ele riu contra o meu pescoço sabendo que eu não teria coragem por mais que eu quisesse, odiava gostar de ter ele me abraçando assim e me culpei por talvez querer mais disso.

Ele bufou contra minha pele me agarrando ainda mais contra ele, eu estava tão arrepiada que não conseguia esconder, ele subiu as mãos pelos meus braços notando isso e eu pude ouvir sua risada convencida..

— Você está pronta pra hoje...está excitada..

Respirei fundo nervosa porque não queria que ele estivesse certo mas ele já sabia e não dava pra esconder, minha mente só me levava ao que teria que fazer hoje mesmo contra minha vontade.

— Porfavor me diz que vai acabar rápido Ian..

— Você vai desejar que isso dure horas.

ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora