Abrindo os olhos

17.2K 1K 299
                                    

— Meu Deus o que aconteceu com o seu pescoço?!

— Pergunte ao Ian.. Pierre ainda precisa de alguém para marcar a lista?

— Sim, você quer continuar?

— Quero..

Eu tinha decidido não me aproximar tanto do Ian, essa atração estava ficando forte demais e eu não queria mais me frustrar. Ele não queria transar comigo e eu não ficaria perto pra vontade não aumentar.

— Tudo bem, está no escritório em cima da mesa pode entrar e pegar.

— O Vicent não está lá?

— Está mas o que tem haver?

Eu tinha mais medo dele do que do Ian, eu sei o quanto ele é poderoso e ele podia me matar em segundos se quisesse.

— Nada..eu vou pegar a lista.

Segui pro escritório e quando parei na porta respirei fundo antes de bater, eu já tinha falado com ele mas nunca a sós e eu estava nervosa...

— Calma Zoe...é só entrar dizer oi e pegar a lista..

Dizia a mim mesma tentando me acalmar e então bati... sua voz grossa do outro lado me disse para entrar e assim eu fiz..

— Oi, eu pedi ao Pierre para terminar a lista eu posso pegar?

Ele mesmo ergueu o papel parecendo estar concentrado no que fazia e então eu entrei e encostei a porta e peguei a pasta de sua mão. Mas então ele ergueu seu olhar para mim, me encarando sério, notei quando seu olhar desceu ao meu pescoço e ele sorriu.

— Foi meu filho?

— Sim..

Não sei o que ele pensou ao ver as marcas dos dedos do Ian na minha pele mas ele sorriu, provavelmente achou que ele tinha feito isso ao transar comigo...quem me dera..

— Não tivemos tempo pra conversar Zoe, sente-se.

— Eu gostaria mas tenho que fazer isso.

— Isso não importa, sente-se.

Assim como o filho ele gostava de mandar nas pessoas e eu odiava ter que obedecer, puxei a cadeira e me sentei sobre seu olhar fixo que nunca desviava me deixando constrangida.

— Não precisa ter medo de mim não vou te machucar..

— Desculpa, mas você me deixa nervosa.

— Eu gosto da sua sinceridade... sabe Zoe eu não sei o que tem em você mas deve saber que meu filho está obcecado. Eu entendo eu era exatamente assim com a mãe dele.

— Onde ela está?

— Morreu no parto, odiei o Ian por muito tempo por causa disso mas agora eu entendo que foi o destino..ela não aceitava nosso trabalho, bom pelo menos o Ian foi inteligente com você, considerando de onde veio.

— Não entendi, como assim?.‐ Ele sorriu parecendo pensativo sobre isso. Eu não entendi, como assim de onde eu vim?.— Meu pais são amorosos eu nunca me imaginei participando de algo assim..

— Claro...foi apenas um comentário sem sentido..- Com toda certeza teve um sentido mas ele não iria me dizer então decidi não perguntar mais.
— Zoe já ouviu a filosofia de que um louco reconhece outro louco?

— Sim já ouvi.

— Pessoas comuns não conseguem enxergar a magia do que fazemos aqui, muitos nos classificaria como psicopatas e realmente somos... e eu digo somos porque você também é uma.

— Diz isso porque eu matei aquela mulher? Ela merecia..

— Não, eu digo isso pela sensação que você sempre teve sobre a morte, a sensação de se sentir excitada pelo medo. Eu sei o que sente porque somos iguais Zoe, somos o que somos.

— Eu nunca tinha sido agressiva, nunca gritei nem chingava antes de vir pra cá..

— Não externamente, estou certo?

Sim ele estava certo... tudo isso que fiz aqui, todos os gritos, todas brigas com o Ian, e o tesão pela violência eu sempre senti.. mas onde eu estava eu não podia ser quem eu sou, as vezes quando o Ian me coagia na frente da escola toda eu tinha vontade de empurrá-lo para alguma sala vazia e transar com ele até não conseguir mais andar.

Tinha fantasias acordada de nós dois esse sentimento que tenho por ele não é novo..eu sempre o odiei mas sempre senti vontade dele na mesma intensidade.

— Se arrepende do que sente?

— Não.

— Porque?

— Porque não dá pra se arrepender de algo que sempre esteve aqui comigo.

— Bingo. Você está sendo você mesma Zoe, ainda quer voltar pra casa e continuar fingindo ser quem não é?

Ele estava certo, eu não queria mais voltar... eu sinto saudades dos meus pais, gostaria de falar com eles apenas pra dizer que estou bem mas eu não quero voltar, eu gosto de estar aqui porque posso ser eu mesma sem julgamentos.

Faz dias que eu não sinto mais os enjoos depois de comer e estou quase aprendendo a lidar com meu corpo. Nesta realidade eu sou apenas uma garota normal, diferente do mundo onde fui criada neste daqui eu não sinto nada além de coragem.

— Pode ir criança...eu estou orgulhoso de você, seja bem vinda a família.

Ainda tinham muitas pontas soltas mas eu tinha uma certeza, eu sou diferente..sou uma psicopata mesmo sendo criada a vida toda como uma simples garotinha.

Saí do escritório com uma sensação estranha e boa dentro de mim, não conseguia parar de pensar na conversa e em como pude ignorar minhas vontades a vida toda.

— Onde estava?

Minha mente estava tão longe que só quando Ian falou comigo eu notei sua presença.

— Conversando com seu pai...Ian,você me acha louca?

— Acho, mas porque a pergunta?

— Sempre soube que eu era uma psicopata? Como você?

— Zoe eu não tô entendendo o assunto, o que meu pai te disse?

— Me responde porfavor, sempre soube?

Ele olhou pra mim e parecia não querer entrar no assunto mas eu precisava saber o porque ele me maltratava tanto na escola, não era normal ele pegar no meu pé sendo que haviam outras várias garotas que ele podia fazer isso.

— Eu queria abrir seus olhos, fazer você sentir essa raiva que hoje você demonstra sentir...Aquilo que fez ontem me enfrentando, eu esperei oito anos pra ver você fazer isso...conseguiu me deixar com raiva.

Ele sorriu como se fosse uma boa memória mas ele literalmente quase me matou sufocada, talvez eu precise me acostumar que isso é a linguagem de amor dele.

— Quando eu te humilhava na escola e você abaixava a cabeça ao invés de reagir isso me deixava decepcionado. Eu sabia como você era realmente sempre soube..

— Porque não me contou o que sua família faz?

— Você teria se assustado Zoe, apesar de saber que você era como eu, também sabia que isso tudo era demais pra te dizer.. você tinha que viver. Eu tô orgulhoso de você.

Eu sorri como uma idiota por isso, eles estavam orgulhosos por eu ser eu mesma e isso nem tinha haver com a morte daquela mulher.

Era bom ser finalmente reconhecida e admirada por mais que no mundo normal isso fosse um absurdo aos olhos das pessoas. Eu sou eu mesma aqui e sinto orgulho de dizer que sou uma psicopata.

ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora