Dor do que poderia ter sido

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Eu estava zonza ainda quando acordei no hospital, estava cheia de agulhas e minha cabeça doía, sentia meu corpo mais fraco que nunca e quando olhei para o lado Ian estava segurando minha mão dormindo na cadeira.

Meus pais estavam no sofá também dormindo desconfortáveis e eu estava tentando me lembrar do que tinha acontecido.

Lembro apenas de ficar zonza e entre poucos minutos em que eu acordei senti muita dor.

— Ian..

Balancei sua mão o fazendo acordar e no mesmo instante ele olhou pra mim assustado. Seus olhos estavam vermelhos e inchados como se tivesse chorado muito.

— Ei amor...como se sente?

— Fraca.. o que aconteceu?

Ele respirou fundo mas antes que pudesse me explicar começou a chorar, eu nunca vi o Ian desse jeito e eu estava preocupada.

— Ian? O que houve?

— Você teve uma crise nervosa e.... você estava grávida..

— O que? Não eu...estou tomando remédio como....

— Estava...com um mês..

—....estava?..

Aquela era a pior sensação do mundo, eu não queria ser mãe agora mas com certeza eu ia querer esse bebê, havia um nó gigante na minha garganta agora mas eu não conseguia chorar ainda estava assimilando a notícia do que poderia ter sido.

— Era uma gravidez de risco, a médica disse que não ia passar de cinco meses.

— Não era pra ser... tudo bem..

Eu não queria ser insensível com a dor dele mas eu não sabia como agir, estava muito confusa e meu coração doía.

— Tudo bem? Você disse mesmo tudo bem?

Antes que eu pudesse me explicar meus pais começaram a acordar e a médica entrou no quarto, eu não sabia como estava o clima entre eles mas já me preparava pro pior.

— Doutora agora que ela acordou eu quero a opinião da psiquiatra.- minha mãe disse sem nem ao menos olhar pra mim.— Estamos todos de acordo com isso.

Olhei para o Ian e ele apenas assentiu eu não fazia ideia do porquê daquilo, eles pensam que eu estou louca?

— Zoe seus pais solicitaram a psiquiatra do hospital pra saber se você foi coagida a ir embora, ou se foi coagida a manter relações com seu namorado.

A médica explicou com calma e quando olhei para meus pais eles nem mesmo olhavam ou falavam comigo.

— Estou explicando porque mesmo sendo maior de idade se alguém achar que você está sendo coagida somos obrigados a prestar ajuda mesmo se você recusar.

— Tudo bem, eu não vou recusar..

A médica saiu do quarto mas antes que meus pais pudessem sair eu comecei a dizer o que tinha pra falar

— Eu não estou louca, eu estou com o Ian porque estou apaixonada por ele. Eu sinto muito por ter desaparecido, mas acho que se vocês querem me cobrar uma explicação disso também vou pedir uma explicação do porquê não me disseram que eu sou adotada.

Eles me olharam surpresos por eu saber, meu pai estava pálido e minha mãe tentou começar a se explicar mas a psicóloga entrou. Contra vontade eles saíram e Ian também ia sair sem olhar pra mim mas o puxei para um beijo que ele retribuiu no mesmo instante.

Me sentia culpada por não ter dado a devida importância pro sofrimento dele mas nem eu mesma sabia o que estava sentindo.
A psiquiatra se aproximou com um sorriso fechando a porta deixando apenas nós duas ali.

— Olá Zoe eu me chamo Vivian, vamos conversar um pouco tudo bem pra você?

— Claro..

.............................................

Aquilo levou duas horas, foi uma conversa realmente apesar de ter mentido em várias partes da forma mais natural que pude. Ela chamou meus pais no quarto e também chamou o Ian que me abraçou assim que entrou.

— Ela não tem síndrome de Estocolmo como vocês pensaram.- meus pais olharam pra mim indignados.— Na verdade eu me surpreendi, nunca vi alguém tão jovem com tanta firmeza nas decisões.

— Então ela está com ele porque quer? Engravidou desse.....dele, por que quis?

— Sei que não é o que esperava ouvir mas sim, não tem nada de errado com ela.

Minha mãe apenas assentiu respirando fundo e depois veio até mim e me deu um tapa na cara, Ian tentou reagir por mim mas eu o impedi, merecia isso.

— vai doer muito no meu coração mas hoje você deixou de ser minha filha.

Eles saíram do quarto junto com a psiquiatra mas eu não me permiti chorar, aquilo doeu mas eu já sabia que seria assim.

— Tudo bem?

— Claro por que não estaria Ian? Eu tenho você é só o que importa.

Ele sabia que por dentro eu estava destruída, não precisou de mais nada pra ele apenas me abraçar como eu queria, sentir o cheiro dele era confortável, podia ouvir seu coração e isso me acalmava.

— Ninguém pode dizer agora que você não me ama, foi comprovado por um médico.

Ri de sua piada idiota esquecendo completamente meus pensamentos, ele tinha um jeito tão simples de me fazer esquecer..

— Você tinha dúvidas?

— Eu não mas meu pai tinha.

— o que? Como assim?

— Foi ele quem me denunciou, queria ver se você ia depor ao meu favor.

Eu nem sabia o que pensar sobre isso, Vicent viu como eu fiquei quando Ian desapareceu como ele ainda duvidava dos meus sentimentos assim?

— Ian ele te fez correr o risco de ser preso só pra me testar?

— Sim, foi exatamente isso. Bem vinda a família.

— Você não tá bravo com ele?

— Já devia ter se acostumado de que meu pai é um jogador Zoe, ou entra no jogo dele ou morre. Você também está se tornando uma, vimos você depor através do vidro, mentiu muito bem e meu pai está orgulhoso.

Era bom ouvir isso, um elogio na verdade... meus pais não entenderam como Ian agora era tão importante pra mim, tenho a impressão de que eles planejaram toda minha vida e não queriam que eu fosse para outro caminho.

Mas como a psiquiatra disse eu tenho na minha mente exatamente o que eu quero e como quero. Perder esse bebê não estava nos meus planos, eu sinto a perda dele como se tivesse o segurado nos braços, dói mas como tudo na vida eu posso superar pelo menos é o que espero.

— me desculpa por não ter respondido do jeito certo a perda do nosso bebê... eu não sei o que tô sentindo.

— Você queria ter perdido ele?

— Não Ian, mesmo não sendo a hora certa eu ia adorar ter um filho seu mas.... eu não sei como demonstrar a você o quanto dói..

Ele me abraçou mais forte tentando conter seu próprio choro, Ian não é sentimental então só porisso dava pra ver o quanto estava doendo nele.

— Temos cinco casos em casa esperando por nós, vai ter muitas oportunidades para demonstrar o que está sentindo.

Era exatamente disso que eu precisava.

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