Obsessão

Vontade de aprender

Eu estava tão cansada depois da segunda vez que acabei dormindo e meus planos de fazer o dia todo tinham ido por água abaixo. Nunca senti meu corpo tão relaxado e eu estava feliz como nunca, remexi na cama e de olhos fechados notei que o Ian já não estava mais ali, quando abri os olhos me surpreendi por já estar de noite.

Eu tinha apagado o resto do dia...

Estava completamente nua na cama com apenas o lençol me cobrindo, levantei um pouco sonolenta e tomei um longo banho ainda sentindo o meio das minhas pernas doendo um pouco sensível e sorri pela sensação de finalmente não ter mais o peso da virgindade pra suportar.

Eu sei que era fútil me preocupar com isso mas eu queria tanto que agora que finalmente aconteceu eu não podia acreditar. Ele foi incrível comigo, tão paciente e delicado e eu sei que não posso me acostumar com ele assim afinal foi apenas um momento...

Quando sai do banho coloquei a roupa mais confortável que pude e desci para procurá-lo, já eram oito da noite e nesse horário eles estavam jantando, eu ainda tinha problemas com isso apesar de não vomitar a dias.. ainda era complicado comer e não sentir culpa, eu sempre sentia..

Quando cheguei a mesa eles estavam todos ali, levantaram seus olhares pra mim como se eu fosse uma desconhecida inclusive Ian.

— Que foi?

— Nada..- Ian disse segurando o riso e baixando a cabeça.— Ia pedir pro Vitor te chamar agora, senta e come.

Me sentei na mesa vendo Pierre rir enquanto "lia um livro", e Vicent também nos encarava.

— Não quero comer eu tô satisfeita.

— É claro que está..

Pierre disse baixo e só então notei o porque eles estavam assim...meu rosto estava queimando e eu me virei ao Ian sussurrando em seu ouvido para perguntar.

— Eles nos ouviram, não é?

— Sim..

Eu sei que é algo normal e que todo mundo faz mas eu não queria que minha primeira vez fosse de notícia pública, em parte também era culpa minha eu não deveria ter feito um escândalo. Continuei de cabeça baixa mas meu estômago estava roncando, eu estava com fome mas estava com medo da comida.

Ian pegou um prato e começou a me servir olhei pra ele com reprovação mas o mesmo parecia não ligar porque colocou a comida a minha frente e apenas disse

— Coma.

— Eu não quero.

— Tudo bem, acha que 20 sequências na barra são o suficiente?

Ele tinha voltado ao que era antes, durou muito pouco o jeito carinhoso eu devia saber, respirando fundo ainda com raiva comecei a comer a massa com molho branco, sentindo minhas mãos tremerem pela sensação, era minha primeira refeição no dia e era tão difícil...

Nem notei quando Ian passou o dedo sobre minha bochecha limpando uma lágrima que tinha caído. Saber que eu não era mais gorda não ajudava a me livrar dos meus traumas com comida, pelo contrário, eu tenho tanto medo de voltar a ser daquele jeito que meu cérebro me força a não querer comer mais..

— Ian tem um caso especial pra você amanhã.

— Sobre o que?

— Um lutador, estava preso por tráfico até ano passado a própria esposa o denunciou você vai ler os detalhes do caso.

— Porque ele é especial?

— Vai saber quando ler o relatório, leve a Zoe com você acho que ela vai gostar.

Eu fiquei ansiosa com aquilo, queria continuar com o trabalho que Ian fazia mas também queria saber sobre coisas novas, eu ainda não tinha aprendido metade das coisas que eu poderia aprender aqui. Quando Ian me explicou sobre o negócio da família ele disse que eles matavam, sequestraram e traficavam.. até agora eu só vi a parte onde eles matavam.

Pierre ficava por todos os lados o dia todo no celular ou com papéis nas mãos eu queria saber tudo sobre o que eles faziam porque cada detalhe parecia interessante o suficiente.

Quando o jantar acabou Ian subiu comigo pro quarto praticamente se tornando minha sombra, não que eu estivesse reclamando mas ele tem feito isso a dias.

— Porque toda vez que terminamos de comer você fica vindo atrás de mim?

— Que foi? Minha presença te incomoda?

— Não mas...

Eu não tinha notado antes mas Ian estava me obrigando a comer a dias, sendo que antes ele não se importava, isso pouco tempo depois do Pierre me questionar sobre minha bulimia. Ele me faz comer e depois passa horas atras de mim as vezes nem mesmo fazendo nada apenas olhando pra mim...

—...você sabe...não sabe?

Eu já sabia a resposta antes mesmo dele assentir, era vergonhoso na verdade as pessoas não deveriam saber o que eu fazia e o motivo tosco pelo qual eu fazia.

— Não pode continuar fazendo isso com você mesma..

— Não é uma escolha.

— Claro que é. Eu sei que deve ser difícil Zoe mas eu estou te oferecendo ajuda e um apoio...a quanto tempo faz isso?

—...um ano..

— Acha que consegue parar e não fazer mais? Eu juro que se conseguir parar eu não vou mais ficar atrás de você.

— Tem quinze dias que eu não faço mais isso... eu não quero mais fazer..

Ele veio até mim e me abraçou, deixei que ele me consolasse eu nunca contaria isso a ele mas estava aliviada por ele finalmente saber e não me julgar por isso.

— Eu tô orgulhoso de você, não vou cansar de falar isso... se quiser pode trabalhar comigo todos os dias depois do café e do almoço pra se distrair..

— E depois do jantar? Como me distraio?

— Vou te foder todas as noites pra você não pensar nisso.

Esse era o jeito carinhoso dele, e eu adorava. Mas em um coisa ele tinha razão, eu queria trabalhar com ele daqui em diante, nada de listas e nomes para marcar, apenas pessoas pra assassinar.

— Já que vamos trabalhar juntos eu queria saber sobre tudo o que vocês fazem.

— Curiosa?

— Muito mais do que deveria... acha que eu posso aprender sobre tudo e participar? Seu pai deixaria?

Ele bufou uma risada e eu não entendi o motivo, a pergunta era séria, o pai dele era o chefe de tudo isso e se ele não permitisse toda a minha curiosidade não serviria de nada.

— Meu pai deixaria você comandar a porra toda depois de aprender Zoe, você tem potencial pra muito mais...

Ian sempre me dizia isso e acho que ele está certo porque eu sinto essa vontade de mais e de cada vez mais me consumindo por dentro, matar aquela mulher foi bom mas continuar matando deveria ser melhor ainda.