"Sem essa de 'amar demais machuca'. O que dói é amar sozinho."
Perguntou para onde iam, Ellyus respondeu com um tom de voz que ela estava aprendendo a conhecer. Voz de quem só contava a metade da história. O resto viria na hora. Ia se acostumando a não fazer pressão, recebendo só o que ele queria dar.
A direção era outra, completamente diferente. Quando Elizabeth perguntou por que, Ellyus disse casualmente.
— Bem, na realidade, resolvi que precisava de alguma informação do representante do cônsul americano em Bojana.
— Isso quer dizer que não voltaremos para a ilha hoje?
— Provavelmente. Algum problema? Tem outros planos por acaso?
— Não. Só que eu não...
Interrompeu-se. Por que Ellyus estava saindo tanto do caminho? Ver o representante do cônsul americano, num sábado, não fazia muito sentido. Se Elizabeth sabia que o escritório estaria fechado, ele também devia saber.
Perguntou a si própria por que não queria passar o fim de semana longe da ilha com Ellyus. Bojana, com certeza, era digna de ser visitada. Mas sentia que era mais do que um simples fim de semana e que a mudança de planos tinha algo a ver com a visita ao hospital.
Mas que escolha tinha?
Se Ellyus quisesse ir para o Pólo Sul, teria que segui-lo, sem pestanejar.
Tenho tanta iniciativa quanto um cachorro fiel, ralhou consigo mesma. Fez um voto de que, sob nenhuma circunstância, iriam repetir os acontecimentos daquela noite. Não importava o que ele fizesse, ela não reagiria emocionalmente.
Esperou uma explicação mais completa de seus planos, mas ele continuou quieto, pensativo. O tráfego engrossou e apareceram outros sinais de que estavam chegando a Bojana. Cidadezinhas que avistaram à distância surgiam limpas, lavadas e engomadas. Entravam em terra próspera, e os campos refletiam isso, verdejantes, assim como a altura do feno, já estocado.
A transição da estrada do campo para a estrada da cidade foi uma mudança de séculos. Da carroça aos carros incrementadíssimos e rápidos, italianos e iugoslavos, alguns ingleses. Cada motorista queria ser o primeiro a chegar em Bojana. Chapas da Suécia, Tchecoslováquia e outras. Elizabeth ficou fascinada com a variedade. Podia fazer o índice de um Atlas com todas elas.
Quebrou o silêncio, perguntando a Ellyus finalmente.
— Aonde vai toda essa gente?
— A Iugoslávia, minha Eilis, é um dos pontos turísticos mais apreciados no mundo todo. Os americanos é que não a descobriram, ainda.
— Parece que vão para Bojana.
— Não é? Depois de um pouco de férias na cidade, as pessoas costumam ir para o Adriático ou para o norte, nas Antonijas, as cidades irmãs que fazem parte dos Alpes, que se orgulham de ter o panorama campestre mais sereno do mundo. E estaremos em Bojana daqui a uns vinte minutos. Tenho que mudar do meu horrível croata para o meu horrível eslovaco. Daqui vai dar pra você ver os campos de flores naturais, veja, aqueles pontos em branco e amarelo.
Apesar do tráfego denso, suas mãos no volante pareciam mais relaxadas, e havia ruguinhas no canto de seus olhos. De riso e não de preocupação. Elizabeth não fazia idéia de por que tinha mudado de humor tão subitamente. Só sabia que também estava alegre. Era ótimo viajar com Ellyus, assim.
— Pode me ensinar uma ou duas palavras de eslovaco?
— Repita a palavra prosim, Eilis.
— Prosim? — Experimentou. — Prosim.
— Para a primeira vez, nada mau. Se não esquecer, vai longe. Quer dizer "por favor" e "obrigada" e mais uns doze significados sutis. Tão bom como um passaporte.
— Até que um passaporte, de uma palavra só, num lugar desconhecido, é boa coisa.
Entrando nas cercanias da cidade, passavam agora por um bairro residencial muito novo e moderno. Elizabeth perguntou se Ellyus queria que ela olhasse no mapa, mas ele agradeceu. Pelo jeito, conhecia a cidade muito bem, porque, virando aqui e ali, chegaram rapidamente ao centro. Uma cidade cheia de vida, muito européia, com vários quarteirões muito modernos e outros antigos.
A viagem durante o dia foi completamente diferente da que tinha feito com Natasha, na primeira noite na Iugoslávia. Podia apreciar os prédios novos, em meio a edifícios de pedra antigos, solenes e majestosos. Concordou com Ellyus, quando ele comentou a cultura do povo e a sabedoria dos governantes, que conservavam as coisas antigas e construíam residências, como prêdios novos e bastante modernos. Os engenheiros e arquitetos vinham principalmente da Europa para fazerem todo o serviço. Alguns ficavam por causa do salário, outros por que se apaixonavam, constituíam família.
Ainda de bom humor, Ellyus pediu desculpas por não parar no maior hotel de Bojana, mas explicou que estava acostumado a ficar em outro, com excelente serviço.
— Acho que, dessa vez, seu quartinho vai ser melhor, Elizabeth.
O saguão era despretensioso, mas agradável, e ela ficou cativada pelo carinho com que o pessoal da recepção o recebeu. Pelo jeito eram conhecidos de Ellyus, pelos cumprimentos e abraços calorosos, talvez até ex-modelos pois tanto os homens como as mulheres eram lindíssimos.
E o que havia dito sobre a palavra prosim devia ser verdade. Apesar de não entender nada de eslovaco, escutou a palavra de cá para lá, enquanto ele conversava com o pessoal, na mesa dos recepcionistas.
O gerente saiu de trás do balcão e foi na frente, para mostrar os quartos.
Primeiro, o de Ellyus, que era grande, confortável e mobiliado num estilo muito moderno. Ele pediu que ela esperasse um pouco, até dar umas instruções ao homem. Ellyus e a mania de exigir que a maioria dos móveís fossem retirados. Elizabeth tinha curiosidade em perguntar o por que ele fazia isso, mas preferiu ficar em silêncio.
Ela ficou na janela. Do outro lado da avenida larga, via-se uma meia dúzia de prédios, todos novos, com floreiras de gerânios crescendo alegremente, indiferentes ao fato de estarem florindo vinte e cinco andares acima do solo.
Olhando para baixo, Elizabeth viu o pátio obrigatório cheio de crianças e avós com bebês no colo. Nos bancos das calçadas, homens sentados, jogando xadrez, totalmente esquecidos das bolas das crianças ou do tráfego enorme. Muito sérios, num serviço muito sério.
O gerente despediu-se e saiu, e Elizabeth virou-se para Ellyus. Um minuto depois, já chegavam frutas no quarto, dando as boas-vindas do hotel. Junto, uma garrafa de água mineral e duas garrafas de vinho tinto. Puseram tudo numa pequena geladeira tão barulhenta como a da ilha.
Elizabeth olhou para Ellyus. Tão seguro e elegante, ao agradecer os rapazes pela cortesia. Teria ele nascido assim? Ou seria o resultado de seu sucesso como modelo e empresário? Provavelmente, ao acabar seu contrato com ela, a esqueceria para sempre. Faria parte de uma longa lista de pessoas que o haviam ajudado a conseguir sucesso.
Ia telefonar, quando Elizabeth interrompeu de repente.
— Se não precisa de mim, vou pedir a alguém que me mostre o quarto.
— Ótimo, Eilis. Esteja à vontade e me chame, quando estiver instalada.
Ela precisava de alguns minutos para pôr em ordem os pensamentos sombrios que ainda a incomodavam; já era tempo de deixá-los de lado.
Seu quarto estava mobiliado como o de Ellyus. A diferença era só a cor. O dele, em tons mais neutros; o dela, em tons mais femininos, rosa com pequenos detalhes em flores verdes e lilás no papel de parede. Bonitos, mas impessoais, pois não havia nenhum objeto pessoal.
1210 Palavras
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ellyus - Sedução & Atração
RomanceEllyus - Sedução & Atração Ela uma tímida diretora de uma importante revista de Moda a God.OF.Fashion.com Ele um importante CEO da indústria da Moda e o novo proprietário da God.OF.Fashion.com Em uma reunião importantíssima com a diretoria e os aci...