Pistas do Passado

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Ficou olhando a porta fechada, por uma eternidade

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Ficou olhando a porta fechada, por uma eternidade. Levantou-se, sem saber o que fazer de si mesma. Não tinha planos, nem pensamentos. Só muita energia.

Queria destruir a simetria do quarto, mudá-lo para não lembrar de Ellyus por ali.

Tentou mexer em tudo. Impossível. A cômoda pesava toneladas, as cadeiras pareciam grudadas no chão. Tinha perdido a parada. Não adiantava mudar objetos, quando queria era mudar o coração. Na bagunça, a miniatura caiu no chão. Que ficasse lá.

Como pudera quase se entregar àquele homem outra vez? Como tivera coragem de mostrar que o amava? E deixar que tomasse todo tipo de liberdade com ela novamente? Estava era ficando doida! Perdendo o respeito por si mesma e se fazendo vulgar. Chega de casas bonitas, homens inteligentes de olhos azuis...

Seus olhos cansados de lutar contra os próprios desenhos e pensamentos, leva Elizabeth a sonhar novamente.

"O cigano chega em casa alquebrado, a febre alta e uma tosse insistente. Com o corpo debilitado, arrasta os músculos doloridos até a cama e se joga, agarrando-se às cobertas para tentar se aquecer, ao som da cantoria de seu povo na rua de poeira da pequena vila, voltando para casa com imensos cestos equilibrados nas cabeças com a última pesca do dia. Estava a um ano criando raízes na beira daquele porto, mas Pablo estranhamente se sentia triste por não poder mais viajar com sua família. Sua saúde estava delicada, haviam dito que os ares do mar ajudaria.

Pablo não sentia isso, encontrou outros ciganos que também haviam decidido criar raízes dentro do pequeno vilarejo. A ilha de Danica aprecia ser um bom lugar, só aprecia na verdade.

Horas mais tarde, batem à sua porta. Sua vizinha veio pedir açúcar, os cabelos presos com um lápis, o pescoço nu, o avental manchado de fruta como o de um pintor desleixado.

Capaz ser só mais uma miragem? Um fantasma? Ele não a reconhece, mal a cumprimenta, a visão turva, as pernas dobram em um desmaio de tanta fraqueza.

Ao perceber o estado de Pablo, se oferece para cuidar dele enquanto se recupera. Alimenta-o com sopa quente, troca seus lençóis úmidos, desliza lentamente a toalha molhada na sua testa, no seu tórax e pescoço para brigar com a febre, percorre seus vales e montanhas sob suas mãos pacientes. Por alguma razão, ao tocá-lo, o corpo dele estremece ainda mais, a temperatura não cede, os calafrios persistem. Tulipa não tem pressa e zela por aquele corpo tombado, delirante na cama...

Dias passam enquanto melhora, e só então ele percebe que havia algo de diferente nessa moça... Os olhos não olham, vagam pela sala sem rumo, não o buscam furtivo quando ele se banha... O tempo voa. Os dois se confiam, suas vidas, medos, histórias, criam intimidade e cumplicidade, risadas, confidências.

E só então, na primeira noite sem delírios, a cegueira da vizinha se faz entender, no negrume da lua nova... Seu toque, delicado e preciso, como se, apesar do escuro, ela pudesse enxergar e memorizar cada centímetro da pele do cigano Pablo, apenas com os dedos longos e curiosos.

Ellyus - Sedução & AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora