Capítulo 2

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A manhã seguinte chegou e meu rosto estava claramente marcado pelo cansaço. Tive uma noite mal dormida, que se transformou num verdadeiro pesadelo, relembrando os acontecimentos do dia anterior.

Não consigo acreditar no que fiz ontem. Levantei a voz para ninguém menos que Elizabeth Olsen. Como não a reconheci?

Meu Deus, por que fui abrir a boca? Por quê? E ainda disse que ela era minha neurocirurgiã favorita.

Na verdade, disse que ela era minha! Não especificamente minha neurocirurgiã favorita. O que ela vai pensar de mim?

Passei as mãos pelos olhos e levantei da cama. Meu quarto não estava tão ruim, já havia deixado um pouco do jeito que gostava.

É bem amplo e frio, então não está tão parecido como era na França, mas tem uma vista encantadora do jardim, meu lugar favorito.

Senti a camisola de seda se ajustar no meu corpo ao colocar os pés no chão. Me aproximei da janela do quarto e Gisa já estava no jardim.

Faz um ano hoje que estou morando com Gisa minha madrasta, e nesse meio tempo aprendi a apreciar sua dedicação ao jardim.

Ela cuida dele por conta própria, então faz tudo sem obrigar ninguém, rega e poda. Isso é algo que valorizo nela, a única coisa também.

Ela costuma estar sozinha, mas hoje está acompanhada por meu pai, elegantemente arrumado para mais uma viagem a trabalho.

Era raro os momentos que via os dois juntos, e sinceramente gostava dessa distância que os dois têm. Não odeio ela ou ele, mas também não os amo. Na verdade, não sinto nada.

Acho que os 17 anos sem sua presença fez com que eu aprendesse a não sentir nada, ou talvez sua indiferença à mamãe e a mim causou isso.

Uma vez na faculdade, contei a Matt, meu melhor amigo, o motivo de não sentir nada por meu pai, e a reação dele foi o único momento que me questionei se isso era ruim.

Contei a ele que meu pai e Gisa estavam em um cruzeiro, com bebidas e diversão, enquanto meu padrasto ligava desesperadamente, implorando por uma resposta para transfusão de sangue que minha mãe precisava.

Eles ignoraram a ligação porque estavam em um cruzeiro e no dia seguinte, minha mãe morreu. Desde aquele dia, passei a não me importar mais com ele, assim como ele fez com a mamãe.

Deixei a janela com um último olhar para Gisa abraçando meu pai. Estavam se despedindo amorosamente, dois atores.

Era engraçado como ele fazia tudo por Gisa sem ela pedir, tudo que a mamãe implorava. E eu ainda me pergunto como ele pode viver com ela mesmo depois de tudo que fez com minha mãe.

Ao descer as escadas, senti o frio da manhã invadir minha camisola. A maioria das minhas roupas foram ganhadas de Gisa, e essa era uma delas. Uma peça de seda branca que batia nos joelhos pela diferença de altura de Gisa.

Ela é alta, uma modelo de alguma marca famosa que nem sei pronunciar.

A roupa tinha um grande "G" roxo bordado na coxa como todas as outras, era sua marca registrada.

Foi assim que meu pai a conheceu, durante uma apresentação de desfile sobre suas roupas terem um "G"

Logo no aniversário da mamãe.

A roupa me caía como um vestido largo demais, a cor combinava com meus cabelos que formavam uma corrente de ondas douradas até as costas.

Eu era grata por uma coisa: não herdei traços de meu pai. Puxei minha mãe. Meu pai exibia cabelos castanhos claros e olhos verdes de sono.

Elizabeth Olsen e Lily BlakeOnde histórias criam vida. Descubra agora