Capítulo 1

340 46 43
                                    

No meu primeiro dia como residente no Avery's, um hospital no centro de Nova York, vesti o impecável jaleco que antes pertencera à minha mãe. Estava muito ansiosa, então já havia planejado tudo.

Entretanto, perdi o controle do horário ao desmaiar duas vezes no banheiro, estragando meus planos.

Os dois desmaios, causados pelo PoTS, atrasaram minha chegada ao hospital, mostrando que meu próprio corpo estava me sabotando, assim como acontecia com a mamãe.

E isso era só o começo de um dia que prometia ir de mal a pior. Os desmaios não só me deixaram atrasada, como também me fizeram sentir envergonhada por ser a única a se atrasar logo no primeiro dia.

Com meus cabelos loiros bagunçados, eu me sentia completamente perdida ao perguntar a uma mulher baixinha onde deveria ir e sentir ela me olhar de cima a baixo.

Depois de alguns minutos, com ela ainda me olhando, a mulher apenas puxou um catálogo de cima do balcão e me entregou.

Era um mapa do hospital, e o fato de ela não ter dito nada me constrangeu ainda mais. Levei alguns minutos lendo para encontrar a sala B, causando mais atraso.

Ao entrar em uma sala que, de acordo com o catálogo, era a sala B, abri a porta um pouco rápido demais e me arrependi quando ela fez um barulho como um portão velho.

Mordi os lábios quando percebi que o lugar, antes cheio de vozes, se silenciou.

Uma mulher no centro foi a primeira a me olhar. Ela segurava um tablet e parecia muito concentrada na sua explicação, explicação que eu interrompi.

Ela era muito bonita e se não estivesse vestida como cirurgiã, diria que era modelo pela sua aparência sexy e autoritária. Ela parecia ser a chefe, já que estava no centro e liderava um grupo de residentes.

Não havia momento pior para que eu chegasse. Ela falava sobre a importância de ser pontual. Adivinha quem virou o exemplo perfeito de atraso? Isso mesmo. "Lily, a loirinha atrasada".

A mulher era realmente deslumbrante, com os cabelos escuros com pontas loiras. Ela não parecia costumar sorrir, mas era daquelas que você se pergunta como ficaria sorrindo.

Ela tinha olhos verdes tão bonitos que eu posso jurar que ninguém se esqueceria tão facilmente daqueles olhos.

— Poderia fechar a porta, por favor, senhorita? - Ela pediu me olhando.

Senti todo meu corpo estremecer. Como se acabasse de acordar, olhei para minhas mãos e ainda segurava a maçaneta da porta.

Mordi o lábio de vergonha e terminei de fechá-la. Ela fez novamente um barulho, mas desta vez mais baixo. Com a cabeça baixa, andei até o grupo de residentes que me observava se aproximar.

Não tive coragem de olhar para ela depois daquilo. Por algum motivo, ela me deixava com vergonha de mim mesma, então só observei os outros médicos enquanto ela ainda explicava sobre tolerância de horário.

Depois que ela explicou, um homem alto e gordinho assumiu a explicação, falou sobre nossos plantões, horários e alocação de residentes. E assim foi até a formação de grupos de residentes.

Eram quatro médicos. Três tinham uniformes azuis escuros, ou seja, eram cirurgiões, e eu precisava ser escolhida por um deles.

Éramos dezesseis residentes, e eu observava cada um ser escolhido enquanto rezava para ser escolhida, como acontecia na escola.

Arrisquei um olhar para a mulher e ela já havia escolhido quatro residentes. Uma delas, só pelo olhar, eu já tinha certeza que não foi com minha cara.

A mulher ficou em um longo silêncio e enfim, escolheu cuidadosamente a última integrante da sua equipe, ou seja, eu.

Sua declaração foi direta: "Vou ficar com aquela", ela apontou para mim, "a loirinha atrasada". Seu modo de escolher provocou risadas entre os médicos ao seu lado e um desconforto evidente da minha parte.

Fui até seu grupo e segui ela pela tour no hospital. Ela não era muito paciente, então só falava o básico e respondia perguntas relevantes.

Ela deixou uma garota falando sozinha pela pergunta idiota, e me senti mal ao ver a garota encolher envergonhada.

Ela já havia passado por no mínimo seis corredores e os meus passos intensificaram, tentando acompanha-la, o que me causou agitação.

Meus batimentos estavam tão acelerados que os sentia pela garganta, e isso, claro, devido ao PoTS. Depois de longos minutos calada, pedi uma pausa para normalizar o ritmo, mas fui ignorada enquanto ela prosseguia, indiferente ao meu pedido, e como a garota que ela ignorou eu me encolhi.

Meu coração batia acima dos 97 por minuto, e sabia que iria desmaiar como hoje cedo. Então, decidi sair da tour e sentei no único lugar livre, o chão do hospital.

Ela parou a explicação sobre os quartos e direcionou seus olhos verdes para mim, e então tive a atenção dela e da equipe de residentes.

Seu rosto não expressou emoção, mas sabia que ela estava incomodada de uma residente interrompê-la pela segunda vez no mesmo dia.

Então, com uma só palavra, ela ordenou que eu me levantasse.

Eu não conseguia falar, então mostrei meu pulso com o relógio da Hello Kitty que a minha mãe me deu quando eu tinha dez anos. Era um relógio de batimentos cardíacos, marcando uma taquicardia de 147 por minuto.

Ela franziu o cenho, se aproximou de mim, segurou meu pulso, mas ainda não entendia que os meus sintomas eram da síndrome de PoTS.

Quando finalmente consegui explicar, a reação dela foi rude, como se minha condição fosse algo que eu pudesse escolher.

— Você é minha residente em neurocirurgia e tem síndrome de PoTS? - Ela me questionou.

Acho que paralisei por alguns segundos. Ela é realmente médica? Não conseguia acreditar que ouvi isso de uma pessoa que usa um macacão azul.

Me irritei e fiz algo que não costumo: levantei a voz.

— Minha mãe tinha PoTS e era uma neurocirurgiã notável, sabia? 1354 é o número de cirurgias, e todas ela fez com síndrome de PoTS.

Mencionei enquanto a mulher agora me analisava com os olhos.

— E tem mais, tem outras pessoas com problemas similares. A Elizabeth Olsen, minha neurocirurgiã, fez uma cirurgia de 18 horas com ansiedade e é a melhor no que faz. - Senti a garganta secar ao terminar de falar.

Não dá para julgar alguém pela aparência ou por problemas que não se entende.

— Doutora? - Perguntei o nome dela.

— Sua neurocirurgiã? — Ela perguntou, ainda segurando meu pulso.

Os olhos dela me olhavam como se quisessem me perfurar, enquanto os outros residentes observavam e cochichavam, parecendo se divertir.

Antes que eu pudesse responder, um chamado de emergência mencionou o nome de Elizabeth Olsen, chamando minha atenção.

A mulher largou meu pulso, levantou e se afastou, respondendo ao chamado do Bip.

Não, meu Deus, só pode estar de sacanagem, ela é a Elizabeth Olsen?

- - -

Elizabeth Olsen e Lily BlakeOnde histórias criam vida. Descubra agora