Capítulo 9

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Eu dividia minha vida entre o hospital e o tempo em casa; costumava passar mais tempo no hospital, de certa forma.

Embora tenha perdido essas duas semanas no hospital, resolvi não deixar que isso me afetasse.

Ajustei o jaleco, olhei para faixa e entrei no hospital com um suspiro; o dia de ontem foi péssimo e não queria pensar nele.

Não queria me irritar e se era o que ela queria, eu não daria esse gosto de me tirar do sério.

Subi pelo elevador e fui para a sala de reunião, esperar até que ela me designasse para algo de residente e não interno.

Mas desta vez, quem ordenou o que eu deveria fazer foi Michelle.

Ótimo, ela já tinha escolhido a favorita. Isso não era o que me incomodava tanto, mas era o fato de a pessoa ser Michelle! Logo ela.

— Lilian, você vai ficar com a senhora do quarto C. - Michelle inventou um sotaque para dizer meu nome.

— E o relatório, você pode entregar para mim que eu vou passar para Elizabeth. - Ela me entregou os documentos do quarto C.

— É só Lily, onde está a doutora Olsen? Preciso falar com ela. - Perguntei, encarando o tablet de Elizabeth que ela segurava.

— Seu nome são 4 letras? Que esquisito. - Ela riu com os dentes.

Ela não respondeu minha pergunta, então continuei com a mesma cara.

— Eu não sei, tá legal? Ela só pediu que eu resolvesse para ela e estou fazendo.

— Seu Bip tá apitando, deve ser a senhora do quarto C. - Ela apontou para o Bip na minha cintura.

Sai da sala de reunião e fui até onde o Bip chamava, o quarto C.

Ao chegar, era uma senhora tão velha que eu perguntei se ela não precisava de acompanhante para estar ali; ela chamou porque precisava trocar a fralda.

Ela não falava e era muito pesada para que eu a limpasse sozinha. Tentei chamar alguém para que me ajudasse, mas ninguém respondeu ao meu chamado no Bip.

Então fiz sozinha; minhas costas já estavam latejando pelo peso da idosa, mas mesmo assim continuei. Devo ter demorado para acabar, porque uma enfermeira perguntou se eu não pararia para o almoço.

Definitivamente não almoçaria agora depois de trocar essa fralda. Preciso achar Elizabeth. Estou decidida; pensei isso ontem e hoje.

Vou pedir para que ela me realoque. Não posso ser neurocirurgiã se estou sendo residente fazendo trabalho de interno; isso não está certo.

E como Matt disse, ela não pode me humilhar só porque tem um prêmio muito incrível e desejado por milhões de pessoas.

Mordi os lábios, tirando a luva, lavei as mãos e desci para o laboratório; preciso ver onde ela está no quadro médico.

Ao chegar na ala do laboratório, não foi necessário olhar onde ela estava no quadro médico porque ela estava bem na minha frente, ajustando a touca de peixinhos.

O corredor estava vazio, e era o momento perfeito para dizer o que precisava dizer para ela; então me aproximei aos poucos, planejando como começaria a dizer.

"Boa tarde, doutora Olsen, posso falar com você sobre você?" Não, isso tá péssimo.

"Boa tarde, doutora Olsen, queria perguntar se você pode me realocar! Porque, bom, estou tendo problemas com o jeito que me trata."

Ontem não parecia tão difícil, pensei.

Acho que demorei, porque ela estava de saída, mas antes eu tinha que perguntar, se não ia ficar com isso na cabeça, então perguntei antes dela dar as costas e sair.

— Dra. Olsen, posso falar com você um momento? - Pedi, ajustando os cabelos bagunçados pela pequena corrida pelo corredor.

Ela me olhou, depois olhou para o quadro médico, então respondeu com tom direto.

— Seja breve, tenho uma cirurgia daqui a pouco. - Ela respondeu, indo em direção ao canto da parede do corredor.

Vou ser bem breve, o sua bruxa, pensei, mordendo os lábios para segurar a raiva.

— Você acha que não sou profissional o suficiente? - Perguntei, honestamente curiosa com sua resposta.

Elizabeth ergueu uma sobrancelha e desviou os olhos para o quadro novamente; pela sua reação, ela me pareceu confusa.

— Não entendi o sentido da pergunta, senhorita Blake. - Ela me olhou com aqueles olhos verdes.

Ela tá agindo como se não tivesse me tratado como interna por quase um mês.

Tentei explicar que na reunião, há um tempo atrás, ela disse que eu deveria ser mais profissional.

Elizabeth manteve o olhar em mim enquanto tentava falar, e acabei gaguejando algumas vezes e repetindo algumas palavras.

E por um momento, antes dela desviar os olhos para o quadro médico novamente, poderia jurar que vi ela sorrir.

Está debochando de mim.

— Lily, não acho que sua competência seja o problema aqui. - Ela foi direta e sua voz foi firme, mas não consegui entender o que ela quis dizer.

Se não era minha falta de competência, o que é que a incomoda tanto para me tratar com indiferença?

Eu preciso saber, e ela precisa dizer.

— Dra. Olsen, há algo que eu faço que a incomoda? - Novamente perguntei, buscando alguma resposta.

Ela somente desviou os olhos para o quadro médico novamente e parecia sorrir de canto; isso estava me irritando.

— Apenas concentre-se em aprender e fazer o seu trabalho, Lily. - Ela simplesmente falou e se afastou da conversa.

Não acredito que ela vai me deixar aqui, observando ela se afastar no corredor.

Meu corpo agiu por impulso e segui ela; ela abriu a porta do quarto de descanso e estava prestes a entrar quando segurei seu pulso; uma de suas mãos estava sob a maçaneta da porta, e a outra presa pela minha mão.

Ela encarou nossas mãos, e depois a mim, e eu fiz o mesmo; estava totalmente surpresa com que tinha feito e imediatamente soltei seu pulso.

— Me desculpe, não quis ser rude com você naquele dia, Dra. Olsen. - Tentei me desculpar novamente.

Eu preciso participar de cirurgias, e ela não pode me impedir só porque não foi com minha cara.

A respiração dela estava acelerada, consegui ver seu crachá balançando; sabia quando um coração estava acelerado, porque vivo isso todos os dias. E o dela está.

Esperei com que ela explodisse comigo e começasse a gritar, mas ao contrário do que esperava, ela trocou nossos lados.

Ela segurou meu pulso com uma força que eu não esperava que ela tivesse e me puxou em direção a porta; nós duas estávamos na sala agora.

Ela apertava firme meu pulso, e isso me deixou assustada, porque ela tinha uma força que não aparentava; e com isso, meu corpo estava sendo arrastado com uma só de suas mãos, o que me fez perder o controle das minhas pernas.

Elizabeth Olsen e Lily BlakeOnde histórias criam vida. Descubra agora