048. o sonho agonizante

113 16 2
                                    

aviso de gatilho: vício em drogas.

ᴄᴀᴛᴀʀɪɴᴀ's ᴘᴏᴠ

Nós terminamos naquela noite. Ou melhor dizendo, Leonardo terminou comigo. Na hora eu agi com indiferença, mas claro que sofro por isso todos os dias. Já se passaram quase três meses e quanto pior eu fico, melhor eu acho que o Leo está.

Nunca mais nos vimos, nunca mais falamos por telefone, nunca mais tive notícias dele. Foi como se ele tivesse me deletado de suas lembranças pra sempre. Minha culpa só aumenta, eu acho que mereço tudo o que tô passando.

Gabriel me deu tantos tapas e sermões, mas eu nem dei ouvidos. Ele falava sem parar, e eu só pensava em quando veria as meninas de novo.

Sim, as mesmas meninas da festa. Me sinto um pouco interesseira por andar com elas só pelo que elas podem me oferecer, mas o que eu posso fazer? É ficar dopada ou me sentir completamente esgotada como toda vez que estou longe do Leonardo. Prefiro isso do que morrer de amor.

Um amor tão bom, mas tão ruim às vezes.

Com o tempo eu me acostumei com as drogas. Eu passei à vê-las como uma parte da minha rotina. Também aprendi à escondê-las, com quem compra-las, onde usá-las e não usá-las — pelo menos é o que minha mente diz pra si mesma toda vez.

Sei que minha aparência está um caco, eu tenho vários espelhos em casa. Sei que pago as contas com atraso, o proprietário do apartamento já me disse que desse jeito nunca vou conseguir compra-lo dele. Sei que sou uma péssima amiga, vejo isso transparecer no olhar da Agnes. Sei que não sou uma boa pessoa, eu estraguei tudo com o único homem que amei.

— Você não pode faltar no trabalho de novo, Cat. — Agnes fala, terminando de lavar a minha louça.

Sempre invento uma desculpa diferente pra não fazer as coisas direito. A dessa vez é que eu tô desanimada e carente por sentir falta de um par romântico do meu lado.

— Pode ficar tranquila, que eu vou. — respondo jogando minha cabeça pra trás.

— Mesmo? — ela insiste.

— Mesmo. — afirmo e ela vira pra mim.

— ...E vai considerar aquilo que eu te falei, sobre a terapia? — me olha por cima, cuidadosa.

— Não. Eu tô bem. — nego balançando o dedo.

— Você não tá bem, e mesmo se estivesse, quem tá bem também pode precisar de terapia.

— Melhor você parar de insistir. — levanto e vou até a geladeira, buscar água gelada.

— Senão o quê?

— Senão eu te expulso daqui. — sorrio sem mostrar os dentes, ouço Agnes emitir um som de choque. — E eu tô falando sério.

— Tudo bem. Vamos encerrar esse papo por agora, antes que as coisas piorem. — como normalmente, ela lida com sensatez.

Chega à hora de nos arrumarmos pra irmos trabalhar, e eu me apresso pra terminar primeiro. Agnes entra no banheiro pra terminar sua maquiagem e eu fecho a porta do meu quarto. Tiro de dentro do colchão um saquinho com a melhor de todas as pílulas que as garotas me apresentaram e tomo uma, junto com o resto da água que bebia mais cedo.

Guardo o resto dos comprimidos e mais algumas sacolinhas dentro da minha bolsinha de ombro e vou até a sala, pra esperar minha amiga.

Muita gente tentou falar conosco quando entramos na boate, não sei porquê e nem dei atenção no momento. Me arrumo no vestiário e depois vou ao banheiro. Antes que eu saia do mesmo, escuto uma stripper falar ao telefone sobre os paparazzis. Assim que ela me vê por perto, sai rapidamente.

No palco, eu danço do jeito que quero. Seja estranho ou não, sexy ou não, desengonçado ou não. Às vezes minha cabeça gira por horas e eu me sinto num sonho agonizante. Agradeço mentalmente quando consigo levar um cliente pra uma das cabines.

Ele usa uma boina esquisita e não parece nada excitado enquanto eu me esforço cada vez mais pra seduzi-lo.

— É você aquela namorada do Leonardo DiCaprio? — o cara pergunta literalmente do nada. Eu paro meus movimentos e o fito com meus olhos pesados.

— Ex. — é tudo o que eu digo.

— Por quê terminaram? É pelo seu trabalho aqui?

— Que perguntas são essas? Quem diabo é você?! — minha voz fica mais firme.

— Tá com medo de responder? — um sorriso cínico brota no rosto do homem.

— ...Você é um paparazzi, um repórter, o quê?

— Ficou interessada?

Que raiva, puta merda!

— Some daqui. Some daqui agora! — abro a porta brutalmente e aponto pra saída.

— Calma aí, Catarina. Eu vou. — ele levanta e passa por mim, gargalhando. — E quer saber? Você dança muito mal pra uma stripper.

— Vai se foder. — murmuro, ele sai.

Um nervosismo enorme me invade e eu me desespero. As lágrimas querendo cair e meus braços inquietos. Vou depressa até minhas coisas nos bastidores e pego minha bolsa. Penso em ir ao banheiro, mas corro o risco de me verem. É quando decido voltar até as cabines.

De porta fechada, eu tomo uma pílula. Depois duas, quando o efeito demora à surgir. Depois a terceira e nada. Foda-se, eu preciso continuar tentando, senão essa angústia só vai piorar. Abro um dos saquinhos com ecstasy e cheiro tudo. Antes de sequer começar a esperar eu abro outro, mas o conteúdo cai todo no chão. Nessa hora, ouço chamarem meu nome. Meu desespero aumenta e meu corpo inteiro dói.

— Cat! — Agnes grita ao me ver sentada no chão, paralisada e de olhos arregalados.

— Meu Deus... — outras vozes femininas falam.

— O que é isso? — ouço Valerie falar com espanto.

𝐊𝐈𝐓𝐓𝐘, leonardo dicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora