050. confirmação

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ᴄᴀᴛᴀʀɪɴᴀ's ᴘᴏᴠ

— Tem certeza? — a psicóloga pergunta.

— Sim. Por que? — eu me intrigo com o que ela disse.

— ...Na última sessão você disse que não queria saber do Leonardo. Que o odiava e desejava que ele jamais cruzasse seu caminho outra vez. Agora está dizendo que sente a falta dele, mais do que tudo.

Desvio o olhar. Eu tô cansada.

— Eu pensei melhor. Aquilo que eu disse foi na hora da raiva. Não temos que levar em consideração, você como psicóloga sabe disso, não sabe? — cruzo as pernas na poltrona que pedi que colocassem no meu quarto.

Creio que pra que os pacientes não se sintam tão rejeitados ao chegarem nessa clínica, os recepcionistas e funcionários oferecem coisas. Benefícios, digamos assim. Mas só no início. Sei lá, uma máquina de café — pra quem pode tomar, ursos de pelúcia, livros, sobremesa favorita em um dia da semana, etc. No meu caso, escolhi a poltrona e não tenho ideia do porquê.

Talvez eu estivesse dopada na hora.

— Isso tem se mostrado um ciclo. Já aconteceu outras vezes. — ela diz com sua feição de sempre, sem expressão alguma. — Não se lembra? — eu junto as sobrancelhas. — Há meses você vem mudando de opinião sobre isso. "Pensando melhor" e sempre dizendo o mesmo, porém em oposições.

— Agora é definitivo, Jay. Eu sei disso. E também sei que eu posso ser um tanto...imprevisivelmente previsível, às vezes. — falo meio entristecida.

— Bom, o que pretende fazer, então? Agora que é definitivo.

— Eu quero falar com o Leo. Ver ele outra vez, tentar ajeitar as coisas entre nós.

— Que coisas?

Você sabe perfeitamente!

— Foi minha culpa o motivo do nosso término. Enfim, eu agi como idiota, cê sabe. Conto isso toda vez, desde que te conheci.

— Sim. Eu sei que vocês discordavam, brigavam bastante, se magoavam...Ambos, Catarina. Não só você. — Jay diz.

— ...Tá, pode ser. Mas ficar sem ele é sem dúvidas a parte ruim disso tudo. Eu me pergunto se ele pensa em mim, se tá preocupado, se tentou me procurar...se ainda me ama como dizia.

— O que seus amigos disseram?

— Sem novidades. — respondo em desânimo. — Já deu pra mim de ficar aqui, presa. — suspiro, sentindo o olhar dela sobre mim.

— Presa?

— É. Eu sei que foi importante pra eu não acabar morrendo de overdose, mas eu já tô melhor.

— Tá?

Como eu odeio essas perguntas de confirmação. O que foi que eu acabei de falar?

— Sim, eu tô. Eu não quero mais saber de droga nenhuma. Na verdade, nunca me importei com isso, realmente. Foi somente uma forma de escape, o meu vício é outro.

— ...O Leonardo. — ela conclui.

— Se ele soubesse o que ele fez comigo...

— Você acha que ele não sabe?

— Ele pode até saber, mas não entende a dimensão. — retruco. — O Leo me mostrou o que é se apaixonar intensamente. Foi como um mentor e um experimento ao mesmo tempo. Ele entrou na minha mente, no meu coração, na minha memória. E não vai sair nunca.

— Voc-

— Tá, tá bom. Dependência emocional, eu sei. Exageros. "Olha lá, a borderline!" — debocho.

Um silêncio se instala, imagino que ela tem pena de me ouvir falando assim.

— Bom, Catarina, vamos continuar trabalhando nisso. Até semana que vem? — Jay levanta após checar o horário em seu relógio.

— Até. — dou um meio sorriso pra ela, que logo sai.

Como estou trancada aqui, sendo cuidada e vigiada, não há muito o que eu possa fazer. Gabriel continua sendo meu melhor amigo, mas dessa vez não vai rolar, ele que me desculpe. Não tenho que ouvi-lo me repreender mais uma vez. Eu posso tentar falar com a Agnes, mas ela tá tendo trabalho dobrado agora. Vai ser difícil, porém o que eu tenho a perder?

Deito na cama dura do quarto e suspiro, pensando no meu apartamento, nas minhas coisas.

— Catarina? — Ciara, uma das enfermeiras, abre a porta e ao me ver, se aproxima com o remédio e o copinho d'água. Eu finjo que tomo, o escondendo embaixo da língua. — ...Você não me engana.

— O quê? — quase engasgo.

Ela é a única funcionária daqui que me trata de igual pra igual. Deve querer fugir das regras de moral que provavelmente impuseram pra ela.

— Engula, Catarina. Você precisa. — ela me encara. — Agora. — insiste e eu faço, abrindo a boca em seguida e provando que fiz. — Muito bem. Agora, por que não vai até o pátio externo? A violinista já chegou, a maioria do pessoal está lá.

— Acabei mais uma sessão de terapia. — falo como um alerta pra ela entender o meu aborrecimento.

— ...Ok. Eu ficarei aqui te fazendo companhia, então. — ela senta ao meu lado, dando um pulinho.

— Não, Ciara, você não entendeu? Eu não tô bem. — resmungo.

— Por isso, mesmo. — ouso uma risadinha nada profissional da parte dela. — Como foi com a Jay?

— Como sempre. — bufo. — Pelo jeito eu não saio daqui tão cedo. Não pela porta da frente...

— Para, vai. Você já melhorou muito. Sua hora de receber alta vai chegar, só tente não pensar nisso o tempo todo.

— Aham. — reviro os olhos e agarro o travesseiro.

𝐊𝐈𝐓𝐓𝐘, leonardo dicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora