020. sendo quem você é

277 23 3
                                    


ʟᴇᴏɴᴀʀᴅᴏ's ᴘᴏᴠ

Estamos na minha jacuzzi em plenas oito da manhã. Catarina quis que dormíssemos mais cedo pra aproveitarmos o pouco da parte do dia que temos juntos. E aqui, sentindo o corpo da mulher enquanto abraço-a por trás, algo está me tirando da realidade.

— Acho que essas brigas são naturais. Seu amigo tá preocupado com você. — dou minha resposta quando ela conta sobre sua última discussão com Gabriel. — Ele é gay mesmo, né?

— É. — ouço sua risada sarcástica, já sei que ela revirou os olhos. Catarina vira pra ficar de frente pra mim. — Eu conheço o Gabriel, sei que tudo isso faz parte da personalidade dramática dele. Mas tá horrível! Nem a Agnes aguenta mais, ele implica com tudo. Não pode ver a gente feliz ou de boa num canto, que já vem falar asneira.

— Sei lá. Talvez ele queira voltar pro Brasil. — dou de ombros.

— Não, não é isso. — Catarina parece não aceitar sequer considerar essa hipótese.

— Você não quer que seja, mas pode ser isso sim. — retruco na mesma rispidez que ela.

— O que ele quer é o ex dele.

— Ele disse isso?

— Não com essas palavras, mas deixou bem claro. Só que eu não vou deixar o João Pedro arruinar tudo. Quando os dois terminaram, Gabriel quase desistiu da mudança. Eu tive que fazer milagre pra que ele enxergasse as coisas propriamente. E agora, mais uma vez... — Kitty expressa sua indignação de um jeito bem característico, o que me faz querer rir e beija-la ao mesmo tempo.

— O que vai fazer? — pergunto com um meio sorriso.

— O que eu sempre faço: alguma coisa. — ela beija o canto da minha boca. — Por que homem é tão cafajeste, Leonardo? — fala manhosa.

— Difícil responder essa. Mesma coisa que perguntar porquê você se atrai pelo sexo oposto, sendo que não o suporta. — digo, ela me sonda intensamente. Seu rímel borrado e bochechas levemente avermelhadas.

— Ah, cala a boca. — Catarina me dá um tapinha divertido no rosto.

— O quê? Eu fui sincero. — rio. — Mas vamos parar de falar dos seus amigos? O que importa pra mim é você.

— Não tem o que saber de mim. — ela se faz, adora fazer isso.

— Claro que tem. — insisto, levando minha mão devagar até a nuca da morena. — Podemos começar por isso mesmo.

— Isso o quê?

— Essa sua resistência. É como...se no fundo você não se ache digna o bastante pra ser quista por algo além do seu corpo. — despejo meus pensamentos. — Pareci um psicólogo agora, mas é sério.

— Não é isso, mesmo! — Catarina garante. — Eu simplesmente não confio em qualquer pessoa. Não sou alguém que sonha em casar, ter filhos, por exemplo.

— Ah, eu também não. — dou de ombros. — Você já namorou sério?

— Só uma vez, eu era adolescente.

— E foi uma merda, pelo jeito. — adivinho.

— Claro, né? Eu só aceitei o pedido do menino porque ele fez uma cena na nossa escola. Meses depois, meu pai descobriu e proibiu. Fiquei tão feliz quando fui terminar com o moleque! — ela conta entre risos.

— Porra, gatinha. Coitado.

— Coitado? Três dias depois do término, descobri que ele me traia com uma menina do sétimo ano. — arregalo os olhos. — Coitado meu pau.

— Que eu saiba, nunca fui traído. — nego com a cabeça, lembrando dos meus últimos relacionamentos.

— Sendo quem você é, claro que não. Mas aposto que você já traiu muito, né? — me provoca.

— Não. Quando eu tô com alguém, eu levo à sério o negócio. — respondo, ela olha pra baixo.

Uma hora depois, saímos da jacuzzi e nos aprontamos pra eu levar Catarina de volta à sua casa. Ela passa um perfume meu e eu pego as chaves do carro certo. Já dentro do veículo, mantenho as janelas fechadas e coloco os óculos escuros. Eu sei que isso à incomoda, mas por gostar de mim, ela acaba não dizendo nada. Mas o que vou fazer? Se descobrirem que eu tô saindo com uma stripper...

Ainda mais nesse caso que não chega à ser sério. Eu estou apenas me divertindo.

Chegando na porta do prédio, eu não paro de olhar em todas as direções, caçando um fotógrafo sequer. Catarina tenta me beijar, mas com a distração eu desvio. Ela se irrita e me puxa pra juntar nossos lábios com vontade.

— Até mais, loiro. — a de cabelo curto se despede, dando uma piscadinha.

Observo seu corpo balançar enquanto ela anda até sair da minha visão. Automaticamente mordo o lábio e solto o ar preso dentro de mim — é hora de ir embora. Apesar de querer muito continuar na minha brincadeira de namorico às escondidas, eu tenho compromissos agora.

𝐊𝐈𝐓𝐓𝐘, leonardo dicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora