042. me castigando

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ᴄᴀᴛᴀʀɪɴᴀ's ᴘᴏᴠ

Leonardo e eu caminhamos juntos rumo ao seu carro, assim que eu largo. Novamente flagrados pelas câmeras, mas eu não me importo. Espero que Leo também não, é difícil dizer o que essa expressão no rosto dele significa.

Entramos no veículo e eu sou a primeira à colocar o cinto. O homem ao meu lado ajeita o boné e dá partida. O silêncio dele me mata, decido puxar assunto quando cruzamos a esquina.

— Como foi enquanto eu não tava por perto? — pergunto, o olhando.

— Normal. Só fiquei sentado no mesmo lugar, observando tudo.

— Bebeu bastante? — digo, querendo arrancar essa resposta dele.

— Não muito. — dá de ombros.

— ...Então não devia estar dirigindo, né? — falo sério em tom de brincadeira.

— Você quem me deu seu drinque, Catarina. Eu só segui bebendo. — rebate, eu junto as sobrancelhas de leve. — Tô perfeitamente bem pra dirigir.

— Tá com raiva, por acaso? Eu não fiz nada. — resmungo.

— Deixa isso pra lá. — o ouço bufar e meu coração se parte. Cadê aquele carinho todo de quando ele chegou?

Passamos o resto do caminho em silêncio. Em certo momento eu ligo o rádio e foco na música que toca. Finalmente no estacionamento do meu prédio, saímos do carro e entramos no elevador. Eu fico me olhando no espelho, enquanto Leonardo encara o chão.

Tirar minhas botas de cano curto é a primeira coisa que faço ao adentrar minha casa. Jogo-as longe, deixo minha bolsa no sofá e viro pro Leo, pronta pra acabar com essa estranheza dele.

— O que foi? — questiono, vendo-o se afastar e recusar meu abraço. — Meu Deus, Leo. Que mau humor.

— Não é nada.

— Então deixa eu te beijar. — tento agarra-lo, mas ele segura meus punhos delicadamente.

— É melhor você tomar banho, antes. — o loiro diz, seu olhar um pouco trêmulo.

— O quê? — franzo a testa.

— Tô falando sério, Cat.

— Leonardo, qual o seu problema? Eu não tô suja. — me defendo.

— ...Sim, você tá. Muito suja. — Leonardo afirma. — Não dá pra gente fazer nada assim. Eu não vou tocar em você até que você tome banho.

— Mas por quê?

— Como assim, por quê? Até pouco tempo atrás você tava lá, seminua e se esfregando pra outros caras. — ele fala de forma grosseira. Não teria como ser diferente. — Não é qualquer homem que acha isso a coisa mais normal e limpa do mundo, né?

As palavras dele me atingem profundamente.

— Você tá bêbado? — é tudo o que minha boca consegue dizer.

— Não, eu não tô! — Leonardo exclama. — Com licença...

Ele vai até o sofá e se acomoda no mesmo, de forma desleixada. Eu fico parada onde estou, ainda processando o que aconteceu. Um nó fodido se forma na minha garganta e eu sinto vontade de chorar. Leonardo pressiona suas têmporas e eu me dou por convencida de que ele provavelmente está bêbado.

Desfaço meu rabo-de-cavalo e vou até o banheiro, me lavar. Adoro usar a banheira quando volto do trabalho, mas hoje eu escolho o chuveiro. Passo a esponja ensaboada pelo meu corpo de modo agressivo, como se me castigasse.

Já vestida e no meu quarto, tento ignorar aquele idiota que ainda está no apartamento e aplico meu hidratante capilar, em frente ao espelho.

— Cat? — Leonardo aparece na porta, coçando o canto da barba e sem seu boné.

— Oi. — respondo mais baixo que o normal.

— O que foi? — ele estranha.

— Nada. Eu só disse "oi", como você deduz que tem algo errado apenas por isso? — guardo o hidratante e passo pelo de olhos azuis.

— Eu te conheço. — ele me segue até a cozinha.

— E eu sei que você mentiu. Com certeza bebeu pra caralho, e por isso vai ter que dormir aqui. — ele faz uma careta. — É só se olhar no espelho. Você tá patético, "Senhor DiCaprio"... — debocho, pegando meu prato congelado e então preparando o forno pra esquenta-lo.

— Ok, já entendi onde isso vai chegar. — solta uma gargalhada irônica. — Não vamos discutir por conta de uma besteira como essa. É o que você quer, mas não vai acontecer.

— O que eu quero é que você se foda. — quase o interrompo.

— Catarina, qual a sua?! Ficou estressada literalmente do nada!

— Pois é, eu sou a louca da história. — falo em sarcasmo, sem a menor coragem de encara-lo.

— ...Quer saber? Eu vou embora daqui, agora mesmo. — Leonardo sai bruscamente, indo até a saída.

Eu corro pra impedi-lo, mas antes que ele sequer chegue na sala, bate a perna num móvel. O loiro geme de dor e cai com tudo no chão.

— Tá vendo? Viu só o que dá?! — me abaixo e vejo qual a situação da perna, se cortou ou algo assim. — Calma, não foi nada. — consolo ele, mesmo o odiando com todas as minhas forças nesse momento. — Vem, amor...

Com muito esforço, consigo arrasta-lo e depois fazê-lo ir de boa até minha cama. Ele deita com os olhos fechados e o corpo encolhido. A batida ainda dói, mas não foi nada grave.

Levo minha comida pro quarto e como ao lado de Leonardo. Meu estômago rejeitando a refeição e minha cabeça à mil. Ouço Leonardo soltar um soluço e me entristeço, tanto por ele quanto por mim. Tenho vontade de abraçá-lo, dizer que o amo e que faço tudo por ele. Mas depois do que ele disse?

Estando embriagado ou não, aquilo machucou. Foi como se ele dissesse o que não tinha coragem de dizer sóbrio. Sei que já nos ofendemos muito, mas na minha mente tudo era porque queríamos mascarar a paixão. E agora tudo parece diferente. Estamos juntos, mas não estamos. Dormimos juntos, mas não namoramos. A mídia sabe que somos um "casal", mas não nos assumimos como tal.

Depois de comer, eu pego um cobertor separado pra cobrir o Leo e desligo as luzes. Abraço à mim mesma e choro baixinho até dormir.

𝐊𝐈𝐓𝐓𝐘, leonardo dicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora