025. privacidade

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ᴄᴀᴛᴀʀɪɴᴀ's ᴘᴏᴠ

Agnes e Gabriel pintaram as unhas um do outro e agora estão conversando sem parar. Eu não me incomodaria se eles estivessem fazendo isso em outro lugar sem ser meu quarto.

— Mas você tem que tomar cuidado. Se quer dar outra chance pra ele, ok. Mas tem que ficar atento, continuar com o pé atrás, sabe? — Agnes fala à respeito do traste do João Pedro.

— Eu sei. Todo mundo me julga, mas eu sou a pessoa que mais sabe disso. — Biel responde.

Pé atrás...

Será que eu realmente sempre soube que o Leonardo tava me usando? Ou será isso uma mentira que eu criei pra amenizar minha decepção? Não, claro que não. Como eu já disse, ele sabia exatamente o que me dizer. Ele queria que eu ficasse confusa comigo mesma.

— Você falou com ele hoje? — Agnes pergunta.

— Só quando acordei, mas logo desligamos. Vamos ter mais tempo quando ele chegar.

Não acredito que me deixei ser iludida assim. Isso nunca aconteceu comigo antes, nem mesmo na escola. Nem mesmo com a porra do único namorado que tive, que me traía com uma menina mais nova. Eu sempre fui apenas de me divertir com os homens, gira-los no dedo como uma bola de basquete, e só.

Óbvio que não me apaixonei pelo DiCaprio, saímos por pouco tempo. Mas a ideia de uma possível vida com ele passou pela minha cabeça, então ainda sim é algo grave. O que eu sou, afinal? Uma adolescente?

— Ele já veio pra cá alguma vez? — sinto os olhares vagos dos meus amigos sobre mim.

— ...Que eu saiba, não. — Gabriel diz após uma pausa, acho que estava me encarando enquanto eu não paro de mexer no laço da minha blusa.

Sei que ele é um idiota, um imbecil, um manipulador. Mas tô lembrando do que ele me disse no dia da jacuzzi. "É como se no fundo você não se ache digna o bastante pra ser quista por algo além do seu corpo."

Eu me adoro, me acho a maior gostosa, isso é fato. Será isso um problema? Será isso "o" problema? Talvez se eu não tivesse dado em cima do Leonardo aquele dia na boate, as coisas seriam diferentes. Talvez ele se interessasse de verdade por mim.

Catarina, não pira. Você é uma stripper! Tanto faz se for confiante ou insegura, provocante ou tímida. Continuará sendo apenas uma noite de diversão pra eles. Todos eles. Homens grotescos.

Que bom que pensamentos são privados. Eu não suportaria que todo mundo soubesse do quão merda tá sendo me recuperar desse baque.

— Catarina. Alô! — vejo uma mão ser balançada bem próxima do meu rosto e me assusto.

— Ai, o que foi? — dou um tapa nessa mão e Gabriel geme de dor.

— Tá tudo bem? — Agnes questiona, de uma forma muito cuidadosa.

— Não. — nego sem pensar direito, eu devia ter mentido.

— Ainda tá brava comigo? — Gabriel revira os olhos.

— Brava com você...? — junto as sobrancelhas, não entendendo. Até que... — Ah. Sim, eu tô.

— Eu prometo que quando o João chegar, não trago ele aqui. — ele fala.

— Pelo contrário, é pra trazer sim. Quero ver se ele se arrepende de ter te feito sofrer, mesmo.

— Mas não é pra você assustar ele. Tô de olho em você.

— Não, Gabriel. Eu tô de olho em você. — corrijo. — Em você e no babacão, lá.

— Quem? O DiCaprio? — Biel provoca, eu bato meu travesseiro nele. — Para de me bater!

— Então cala a boca!

— Gente, chega! — Agnes interrompe a pré-briga. — Esse apartamento nunca esteve tão barulhento.

— Lá vai ela querer nos expulsar. — Gabriel brinca.

— Jamais. Eu só quero que vocês se entendam. Lá no Brasil era assim?

— Mais ou menos. — respondo, Gabriel me fuzila com o olhar. — Tá, era assim, só que em contextos diferentes. Mas definitivamente era menos sofrido.

— Até porque o único que sofria era eu. Essa daqui ficava de boa, e agora olha só! Chorando por ator de Hollywood. Quem diria? — o garoto diz.

— Não tem ninguém chorando aqui, cale sua boca. — corto o barato dele.

— Vocês se amam tanto... — Agnes ironiza.

— Eu não. Só amo você. Você me entende. — aponto pra ela, Gabriel cruza os braços.

— Então tá bom, Catarina. — ele bufa.

— Fica quietinho, que você perdoa ex. Não tem lugar de fala. — Agnes se acaba de rir com a minha fala.

— Então tá bom, Catarina! — Gabriel levanta e sai emburrado do quarto.

Agnes continua rindo e nem eu me aguento.

— Quero só ver quando o cara estiver aqui. O pau vai torar. — ela comenta, se acalmando.

— É melhor que tore, mesmo. Assim eu vou ter outra coisa pra me preocupar e pensar. Não me conformo que depois da noite de ontem o Gabriel acha que vai ser melhor ter o ex namorado na cola dele aqui...

— ...Tá parecendo mais uma dependência emocional. Cê não acha?

— Pode ser. Sei lá... — afundo a cabeça no travesseiro e reflito.

Ontem saímos quando Gabriel voltou do trabalho. Como estávamos de ressaca e eu recém tive aquela discussão "reveladora" com o Leonardo, fomos somente dar um passeio na praia.

Acabou sendo uma das noites mais divertidas de todas. Tinha pouquíssima gente e decidimos nadar sem roupa. Não bebemos, não fumamos, só desfrutamos e nos embriagamos com as ondas do mar. Eu esqueci os problemas, esqueci tudo. Foi como se estivesse nascendo de novo, vendo o mundo com uma perspectiva inocente.

Falando em nascimento, eu mal falo com a minha mãe desde que vim pra cá. Ela liga, mas na maioria das vezes eu tô ocupada ou fora do prédio. Não me considero uma filha exemplar, mas minha mãe também não ajuda. Passou minha existência inteira gritando e me repreendendo, até mesmo quando eu não estou errada.

Por isso e outras coisas não foi difícil ir embora. Acho que conseguiria facilmente passar o resto da vida aqui sem ver a mulher que me pariu uma única vez.

E a tristeza vai voltando...O que aquele homem fez comigo? Que ódio!

𝐊𝐈𝐓𝐓𝐘, leonardo dicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora