049. ordeiro

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ʟᴇᴏɴᴀʀᴅᴏ's ᴘᴏᴠ

Tempo atrás, um amigo meu tinha ido pra boate — aquela boate. Na manhã seguinte ele me ligou falando que aconteceu um escândalo lá por conta de uma stripper que teve uma overdose de drogas. Eu só não imaginava que essa stripper era a Catarina.

Não nos víamos há quase três meses. Foi horrível pra mim passar esse tempo longe dela, mas eu não pensei que ela estivesse mal. Pelo contrário, quanto mais eu me fodia emocionalmente, melhor achava que ela devia estar. Eu vi ela se drogando aquela noite, mas nem cogitei que isso viraria um vício. Fui burro pra caralho.

Eu me sinto tão culpado, mas tão culpado...

Consegui falar com Gabriel e ele disse pra eu conversar com ele antes de tentar fazer o mesmo com a Cat. Marcamos pra essa conversa ser hoje, agora na verdade. Estou aqui sentado à mesa de um café, aguardando por ele.

— Oi. Desculpa a demora. — Gabriel chega. Ele coloca sua bolsa pendurada na cadeira e se ajeita na minha frente.

— Tudo bem. — respondo, encarando meus dedos.

— Bom... — dá um suspiro. — Tem muito o que ser falado.

— Sim, mas com você?

— Claro. Eu sou a pessoa que mais conhece a Catarina no mundo. — ele diz em obviedade.

— ...Ela sempre dizia que vocês brigavam bastante, que depois que você reatou com seu ex, ficaram distantes-

— Eu sei, eu sei. — Gabriel bufa. — Tenho minhas falhas, mas se eu briguei com ela e fiz o que fiz, foi pra proteger a Catarina.

— ...De quê?

— Leo, ela sempre atraiu problemas, confusões...Não importa onde ela esteja. — ele conta. — Ela destruía as relações com as pessoas brincando com elas, deduzindo seus pensamentos, sendo livre e enérgica do jeito que ela é. Mas aí ela te conheceu, se apaixonou por você, e condenou à si mesma por isso. Eu sei que ela te sufocava, assim como você sufocava ela com as suas.

— Onde você quer chegar? — engulo seco.

— Não sabe, mesmo? — semicerra os olhos. — Catarina tem dependência emocional em você. Uma bem grande, por sinal.

— O quê?! — aumento o tom de voz, perplexo.

— Toda vez que vocês brigavam e ficavam longe um do outro, ela entrava numa depressão absurda. Quando você terminou com ela nessa última vez, ela não aguentaria se aquela tristeza toda voltasse, então se jogou nas drogas.

Meus olhos se encharcam e eu fico sem ter a menor ideia do que dizer. O que eu fiz? O que porra eu fiz?!

— Eu também fico péssimo quando tô longe dela. — um murmúrio sai, eu soluço.

— Olha, não se martirize assim. — Gabriel diz, gentil. — A Catarina não é fácil. Eu entendo se você precisou se afastar, mesmo não querendo.

— Mas agora eu me arrependo muito. Eu devia ter ficado, devia ter insistido-

— Não, Leonardo. Não. — ele me interrompe. — Se vocês continuassem juntos, ela até poderia estar bem hoje. Mas seria uma questão de tempo pra alguma catástrofe acontecer. Não tem como evitar, não tem cura...

— ...O quê não tem cura? — franzo o cenho.

— Eu ia chegar nesse ponto. — ele fecha os olhos com força, parece se preparar pra dizer. — Ela foi diagnosticada com transtorno borderline.

— ...M-Mas ela tá onde? Ela teve sequelas da overdose?

— Ela tá numa clínica de reabilitação. Foi sugerido pelo médico que atendeu ela no hospital aquela noite, e por incrível que pareça, ela achou uma boa ideia. As sequelas foram poucas, também pela hora em que encontraram ela caída lá na boate. A Cat tá se recuperando, mas ainda é cedo. Muito cedo.

— Então eu não posso vê-la? — deduzo, irritado comigo mesmo.

— Não. Leo, eu sei que vocês se gostam, mas isso tudo tem que ter um ponto final. Não dá pra ficar nesse vai e vem insuportável. Isso tá matando vocês aos poucos.

— O que você quer que eu faça? Eu amo a Catarina!

— Eu quero que você enxergue a realidade. Tem pessoas que não podem ficar juntas. Você não merece a Catarina e a Catarina não te merece. Não quero ver a minha melhor amiga numa situação dessa outra vez...

— Se você se importa tanto, me fala: como não percebeu que ela tava se drogando?!

— Quê?! Por favor, né querido? Você conhece aquela garota muito bem. Sabe que ela faz de tudo pra conseguir o que quer, e no fim dá certo. — eu reviro os olhos. — Ela mal me contava as coisas, mas desde que começou o tratamento, isso tem mudado. Agora conta tudo. Tudo mesmo. Eu sei que não devo criar expectativas nisso, porque devido ao transtorno, a Catarina é uma pessoa extremamente instável.

— ...Ela sabe que saiu na mídia que ela é uma stripper?

— Sabe. — Gabriel confirma. — Mas agora isso não importa mais.

— Por quê?

— Porque a chefe dela à demitiu, por conta do vexame.

— Não, não, não, não... — esfrego meu rosto, inconformado com o quão idiota eu sou.

— Negar não ajuda muito. — Gabriel mantém seu tom frio de mandão. — Também recomendo que você não me ligue mais, nem pra Agnes. Fique longe, bem longe.

— Eu não posso fazer isso, Gabriel.

— Pode sim. Pode e vai.

— Meu amor por ela é muito forte pra isso.

— Justamente. Se você à ama tanto, deixe ela ir. Deixe ela se tratar, deixe ela se reencontrar consigo mesma. Você pensa que é só pedir desculpas e pronto? Vai ser só amor e sexo pra sempre? Nada disso. Vocês são todos imaturos e tóxicos, mas eu tô aqui pra colocar ordem na situação. — Gabriel fala como se fosse, sei lá, o pai ou irmão mais velho da Catarina.

Isso me deu um baque enorme.

— Tudo bem.

𝐊𝐈𝐓𝐓𝐘, leonardo dicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora