08. cavalheiro

437 43 21
                                    


ʟᴇᴏɴᴀʀᴅᴏ's ᴘᴏᴠ

Sabe quando uma coisa acontece com você não dando a menor importância e eventualmente, de um jeito estranho, você percebe que devia ter dado atenção? É basicamente assim que me encontrei depois que falei com a Kitty pela primeira vez.

Naquela madrugada eu voltei pra casa e em questão de minutos, pensei que minha noite podia ter terminado bem melhor. Se é que você me entende.

Claro que ela só dá em cima de mim por causa de dinheiro. É o trabalho dela, no fim das contas. E depois daquele "eu sei" dela quando me apresentei, entendo perfeitamente porque ela quer tanto — ou finge que quer. Ela sabe quem eu sou, sabe que tenho muito dinheiro, e modéstia à parte: sabe que um momento mais "íntimo" comigo fará dela uma pessoa mais feliz consigo mesma.

Passaram-se três dias depois que conversamos. Se é que posso chamar aquilo de conversa. Eu não dei à Kitty uma data certa do meu retorno porquê nem eu mesmo sei, minha agenda é muito cheia, e mulher é o que não falta nesse mundo. Mas hoje decidi voltar lá.

Não vou dizer que achei ela diferente das outras, que a mulher tem um brilho especial, nem nada disso. Mas ela me atraiu de uma maneira que não consigo explicar, apenas sei que é forte pra cacete.

Essas últimas semanas eu saí com uma modelo, a Savannah. Temos uma química boa, mas ela disse que tem medo de relacionamentos e se afastou, acrescentando que namorar pessoas não-anônimas é um erro tremendo.

Não posso discordar, mas também não concordo.

Já namorei, sim. Bem menos mulheres do que as revistas dizem — pra eles cada mulher que sai numa foto comigo é fodida por mim. É bom estar em um relacionamento, mas ultimamente eu ando de boa demais pra isso. Sabe por que? Porque também é bom poder sair sem dar satisfação.

Muito bom.

Estaciono meu carro à alguns metros distante da boate, mas claro que os paparazzis vão me achar. Saio do veículo antes que eles possam me cercar por completo, abaixo meu boné e passo pelo host mostrando minha pulseira VIP.

Já dentro do local, eu caminho com as mãos nos bolsos pra observar o movimento e me localizar quanto à música. De repente ouço gritos masculinos de euforia e assobios, apresso o passo pra ver o que aconteceu e ao chegar perto do palco, entendo tudo.

Uma das strippers tirou o sutiã e o jogou no chão. Na verdade, ela parece estar muito bêbada. Nem se importou. E os outros muito menos.

Começo à andar novamente, agora em direção aos sofás no canto. Provável que seja meu local favorito. Antes que eu possa me acomodar, vejo Kitty sair do corredor das cabines atrás de um velho, cheia de notas nas mãos. Ela não nota minha presença e eu noto seu piercing no umbigo brilhando.

Encaro seu rebolado enquanto praticamente desfila pela boate, atraindo os olhares de todos. A música que tocava acaba e outra inicia, é quando eu pego um cigarro da minha cartela e o acendo.

É hora de dançar.

Vejo que muitos dançam junto aos strippers, só que fora do palco, por perto. Giro meu boné, deixando-o ao contrário e vou até essas pessoas.

Leva um tempo até Kitty retornar, ir diretamente até uma das barras e começar à se esfregar na mesma. Nós dançamos cada um da sua maneira, no seu próprio ritmo e eu já me sinto dentro dela. Mas não o suficiente.

A morena de batom vermelho me nota e abre um sorriso de malícia. Ela aponta pra mim e desce até o chão, eu lembro de seu sotaque e me pergunto mentalmente quais serão suas origens. Algo patético de se pensar quando se está com tanto tesão.

— Então hoje é o dia? — ela desce num pulinho e fala bem perto de mim.

— O quê? — me faço.

— Sem conversinha? Eu sou cara, você sabe.

— Claro que é. E eu pagarei o quanto for, mas não hoje.

— Ah, jura?! — ouço seu riso debochado.

— Como eu já disse, eu gostei daqui. Vim dançar, me divertir. — respondo, ela assente fazendo pouco caso.

— Não sei porque eu ainda dou trela pra você. — Kitty passa por mim e vai até uma mesa vazia, eu a sigo.

Ela pega um copo que está em cima da mesa e senta, bebericando o líquido sem se importar de quem seja, ou o que seja.

— Relaxa... — me sento à sua frente.

— Nunca estive tão relaxada, DiCaprio. — Kitty suspira. — E seus amigos? Não vieram contigo?

— Não. — balanço a cabeça em negativo. — Sente falta do Shane?

— Ele pelo menos vai direto ao ponto. — ela retruca a provocação.

— Você não gosta quando o cara vai com calma? — entro na onda de flertes que ela gosta de fazer.

— Depende. — Kitty me fita, fazendo um leve bico. — Mas aqui é muito melhor fazer logo o que se quer.

— Eu adoraria fazer logo o que eu quero, mas to tentando ser um cara mais cavalheiro dessa vez.

— Uau, super cavalheiro. — ela ironiza, eu rio. — Você não tá pensando que a gente vai transar, né?

— Quem falou em transar, gatinha? — junto as sobrancelhas.

— Ah, bom.

— Você podia confirmar, falar umas safadezas... — murmuro. — Não é assim que strippers fazem? Se mantém no personagem até o fim.

— Tô sem saco pra isso. Você é tão... — ela aperta o copo com força, fazendo uma careta de raiva. — que me faz sair um pouco do personagem. Até porque já deu pra perceber que dinheiro seu eu não vou conseguir hoje, né?

Kitty me olha como se lesse meus pensamentos. Não sei como, mas parece que ela sabe exatamente das minhas intenções. Porém isso vai mudar.

— Outro dia eu venho e vou exigir o melhor show particular da sua vida, aí eu te pago o valor que for.

Um joguinho divertido de enrolar, esperar por outro dia, prometer um ótimo pagamento, pra distrair. Não passando de uma maneira de me infiltrar na memória da mulher pra sempre. Ou por muito tempo, ao menos.

𝐊𝐈𝐓𝐓𝐘, leonardo dicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora