028. molly

217 24 0
                                    


ʟᴇᴏɴᴀʀᴅᴏ's ᴘᴏᴠ

Cheguei num ponto que não me considero mais uma pessoa normal. Na minha percepção, uma pessoa normal não continuaria clicando na mesma tecla sabendo que as circunstâncias são impossíveis de se resolverem. Tão insuportavelmente complicadas...

Eu me arrependo — em partes — do que disse à Catarina naquele nosso último dia juntos. Já sabia que ficaria irritado assim que acordasse, mas acabei ficando muito mais. "Em partes" porque ao menos eu soube da verdade, que ela também estava só curtindo com a minha cara, com meu dinheiro e com os meus sentimentos.

Isso é o que minha mente responde toda vez que eu cogito a possibilidade da mulher ter mentido só pra não sair por baixo. Pode ser que seja, também, sei lá. Mas pra quê ficar remoendo esse detalhe? Não é como se caso eu perguntasse agora, ela de repente resolvesse falar a verdade.

O que eu descobri quando Catarina foi embora furiosa é que eu estava comprometido com aquilo. Muito comprometido. Não vou dizer que amava ela mais que tudo, mas basicamente: passei o resto do dia e os momentos seguintes mega frustrado e sem querer ver ninguém.

E sobre as fotos que tiraram de nós juntos? Elas realmente saíram em alguns lugares. Fui questionado sobre isso e apenas respondi que não conhecia a tal moça, que estava apenas à ajudando pois ela tinha passado mal. As reações do público e da mídia foram positivas, isso me surpreendeu.

E claro, me fez ter ainda mais raiva de mim mesmo. Fodi tudo. Catarina e eu não tínhamos nada, e eu fodi tudo o que poderíamos chegar à ter.

Primeiro eu quis nunca mais voltar naquela boate. Pensei nas brigas que teríamos se nos encontrássemos, nos possíveis escândalos, na desconfiança das pessoas, o que podia resultar no reconhecimento da Kitty como "a garota dos meus braços que passou mal", etc.

Mas depois da despedida de solteiro que fui convidado e compareci, me dei conta que brigar outra vez com a minha stripper favorita seria a melhor coisa que poderia me acontecer. Se não podemos nos gostar, eu prefiro que nosso contato seja através da raiva. Prefiro que ela me xingue e ainda sim eu à veja, do que simplesmente fingir que nunca existimos.

Ando trabalhando nisso desde que comecei à sair com outra garota. Loira dos olhos verdes, seu nome é Molly. Como quase todas as que eu já fiquei, ela me considera praticamente um presente de Deus.

Tem uma semana que vamos juntos à boate e eu aproveito pra ver Catarina. E ela também me vê. Vê até demais, cada passo meu, cada movimento, cada vez que a Molly me beija. Enfim, aquela hipótese dela sentir algo verdadeiro por mim voltando...

— Tá ficando estranho, já. — Molly bufa ao meu lado, eu acordo do meu transe e olho pra ela.

— O quê? — pergunto de testa franzida.

— Aquela mulher lá. Uma das strippers. Não para de olhar pra cá, pra você no caso. — ela aponta pra Catarina, eu já sei onde ela está.

No momento em que Molly aponta, Kitty caminha devagar até o banheiro e entra por uma das portas. Eu engulo seco e beberico o energético que pedi.

— Acho que não, hein? — respondo, disfarçando o sorrisinho que eu dei.

— Claro que sim. Ela devia trabalhar em vez de ficar secando homem acompanhado. — Molly passa sua perna por cima da minha. — Conhece ela, por acaso?

— Não. — nego.

— Hm. Bom.

Um tempinho passa e Catarina retorna. Ela sobe no palco e eu concluo que seu intervalo acabou. Se aproxima de uma das barras e dança lindamente, porém com uma expressão séria no rosto. Em determinada hora, ela escorrega no salto e quase cai.

Parece, sei lá...cansada?

Um frio insano invade meu estômago quando mais um intervalo chega e a de cabelo escuro senta na beira da passarela. Enquanto Molly fala sem parar no meu ouvido, eu observo Catarina tirar seus sapatos e receber uma garrafa d'água de Agnes.

As duas conversam brevemente até que Kitty fica sozinha de novo. Durante uns segundos seu rosto permanece baixo, mas logo sobe e seus olhos encontram os meus. Engulo seco e minha respiração fica funda.

Molly percebeu. Merda.

— Não acredito. De novo?! — o incômodo da loira me irrita, mas eu não falo nada. — Eu vou lá.

— O quê? Não, fica aqui. — seguro o braço dela, impedindo que se afaste.

— Leo, eu quero saber qual é a dessazinha com você. Tudo bem que cê é mega famoso, mas as outras strippers não estão fazendo o mesmo, estão?

— Deixa assim, Molly. Sério. Não é nada. — insisto, mas ela puxa seu braço.

— Não quero saber. Eu vou lá e acabou! — Molly joga o cabelo no ombro e sai andando na direção de Catarina.

— Puta que pariu... — xingo baixo.

𝐊𝐈𝐓𝐓𝐘, leonardo dicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora