Com o chute na cabeça, o Wolfgang caiu desmaiado no chão. Menezes então o chutou várias vezes na região das costelas.
— Almeida! — Minha voz saiu em um grito embargado. Eu realmente estava desesperado. Meu coração parecia prestes a explodir e meu corpo tremia. — Por favor, faz ele parar!
O policial Almeida me olhou.
— Ele vai matar o moleque! Faz ele parar, por favor! A gente não tava fazendo nada errado! A gente trabalha! Eu sou enfermeiro, ele é garçom! Nossa vida é honesta! Faz ele parar… Por favor…
Ele atendeu a minha súplica e segurou o colega pelos braços. Menezes se debateu, tentando pegar o revólver no coldre. Mas Almeida foi mais rápido e o impediu ao apertar o pulso do colega com força.
— Para com isso, porra! — Almeida gritou. — É só um moleque!
— Deixa de ser idiota, Almeida. Vai deixar um marginalzinho desses vivo?
— O moleque só falou merda, Menezes. Ele vai lembrar desse castigo o resto da vida, cacete! Agora, pronto. Deixa os dois!
— Você é um covarde! — Menezes deixou de se debater e se afastou do colega, caminhando em direção à viatura.
Almeida caminhou até mim e abriu as algemas. Em seguida, se agachou do lado do Wolfgang e fez o mesmo. Ele olhou para o rapaz desmaiado ali e me encarou com o canto dos olhos.
— Ele tá vivo. — Disse de maneira firme. — Pega seu amigo e some daqui.
— Obrigado, Almeida! — Corri em direção ao Wolfgang e, cuidadosamente, passei o braço do rapaz ao redor do meu ombro. — Obrigado!
Levantei o Wolfgang desacordado e andei em direção ao carro. Abri a porta do passageiro do Corcel azul do meu pai e coloquei o rapaz no banco. Dei partida e saí de perto daquelas viaturas.
Dirigi até uma rua deserta, iluminada por postes de luz amarelada, parei o carro e observei o Wolfgang. Ele tinha um corte na sobrancelha que sangrava muito. Seu nariz também estava sangrando e haviam muitas escoriações pelo seu corpo.
Pressionei o corte na cabeça com a mão, tentando fazê-lo parar de sangrar.
— Wolfgang. — Chamei-o. Temi que ele pudesse ter sofrido um traumatismo craniano com o chute do policial.
Seus olhos estavam inchados e sonolentos e se abriram quando o chamei.
— Desculpa… — Wolfgang sussurrou com uma voz fraca. — Desculpa, Mikael.
— Você sabe onde você tá?
— No carro…
— Sua visão tá escura? Borrada?
— Não… — Ele respirou fundo e grunhiu de dor. Outra possibilidade me assustou: a dele ter fraturado as costelas. — Me desculpa…
— Vou te levar pro hospital que eu trabalho. É filantrópico. Eles… Eu dou um jeito de te atenderem.
— Me leva pra casa.
— Não! Você bateu a cabeça e apanhou feio. Você precisa de um médico e precisa fazer um monte de exame.
— Por favor, Mikael. Me leva pra casa… Pro meu pai…
— Não… — Não era uma atitude racional não levar alguém naquele estado para o hospital.
— Me desculpa… Eu sou doente. Tenho uma doença mental… — Seus olhos olharam os meus. — Me deixa na minha casa e se afasta… Ou eu vou te arrastar pro fundo do poço… Como eu fiz hoje.
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Filhos da Entropia
Mystery / ThrillerNo ano 1973, vivendo na época da Ditadura Militar, Wolfgang era um jovem brasileiro pobre, gay, filho de um imigrante austríaco, órfã de mãe e sem quase nenhuma perspectiva de vida. Trabalhando em um bar péssimo, ele vai vivendo os dias entre incont...