O corpo do Wolfgang tremia em espasmos. Seus olhos reviraram e sua boca expelia saliva. O nariz sangrava, manchando sua blusa branca.
Isabelle e Levi olhavam para ele com medo nos olhos e eu sentia dor. O Wolfgang não merecia sofrimento algum.
Toquei os ombros dele e o virei de lado para que ele não se engasgasse com o sangue e com a saliva.
— Porra, o que a gente faz? — O Levi perguntou.
— A gente precisa levar ele pro hospital que eu trabalho. — Respondi. Meus olhos embaçaram com algumas lágrimas e notei que eu estava tremendo.
— Vem, vamos. — Isabelle se levantou ao dizer isso. Ela respirava aceleradamente.
Bruscamente, o Wolfgang parou de se debater. Senti mais medo ainda, mas eu não podia paralisar por causa dele. Nunca pude.
Levei os dedos, com leveza, até o seu pescoço, sobre sua artéria carótida e senti os batimentos cardíacos pulsantes no vaso sanguíneo. Fitei o relógio na parede enquanto os contava em um intervalo de um minuto.
Senti as pulsações regulares, o que me causou alívio. O mundo ao meu redor desapareceu. Só existia o relógio, o Wolfgang e eu. O ponteiro maior se moveu e eu contei 110 batimentos. Ele estava com taquicardia, mas era esperado para alguém que convulsionava.
Seus olhos escuros abriram e o Wolfgang me fitou com um semblante confuso. O rosto estava manchado de rubro e os olhos marejados. Tirei os dedos da carótida, levemente saliente, na lateral do seu pescoço.
Seu peito arfou e ele puxou o ar em um guincho alto.
— Você tá bem? — Isabelle se aproximou de nós, ajoelhando-se ao lado do Wolfgang.
— Eu pensei que tava morto… — Ele sussurrou, esfregando a mão debaixo do nariz e espalhando o sangue para as mãos e bochechas.
— Como assim? — Indaguei.
— Antes de apagar, eu tive a sensação de que tava morrendo. — Ele se apoiou, pelos cotovelos, para se sentar e eu o ajudei.
— Quanta coisa. Aquela merda no ônibus e agora isso. — Levi falou com uma voz alta e agitada. — Eu tô confuso. E tô assustado, não vou mentir.
— A gente precisa documentar tudo. — Isabelle sugeriu. — São muitas informações. Isso não pode ficar só na nossa cabeça.
— Eu concordo. — Verbalizei. Isabelle era muito inteligente, suas ideias sempre eram boas.
Olhei o Wolfgang com o canto dos olhos. Ele estava cabisbaixo.
— Minha cabeça tá explodindo. — O rapaz se queixou, colocando os dedos por entre os fios de cabelos negros.
A jornalista se levantou com pressa e logo retornou com um copo de água para o Wolfgang. Ele consumiu o líquido todo em um gole, embora eu temesse que ele pudesse se engasgar. Sua resistência após as convulsões era incomum. Ele não teve sequelas dos 30 minutos de convulsão, quando foi para o hospital, e também não parecia sonolento ou debilitado ali na sala da Isabelle. Seus olhos estavam atentos ele e bebeu a água com uma facilidade extrema, bem como conseguiu se firmar sentado sem letargia.
— Porra, eu tô todo ensanguentado. — O rapaz se queixou após beber a água.
— Tá parecendo um cachorro doido. — Levi provocou.
— Vai se foder. — Wolfgang rebateu. Sua voz saiu jocosa. Levi riu com a reação dele.
— Você pode tomar banho se quiser, Wolfgang. Eu acho que tenho algumas camisas do meu ex aqui. — Isabelle sugeriu.
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Filhos da Entropia
Misteri / ThrillerNo ano 1973, vivendo na época da Ditadura Militar, Wolfgang era um jovem brasileiro pobre, gay, filho de um imigrante austríaco, órfã de mãe e sem quase nenhuma perspectiva de vida. Trabalhando em um bar péssimo, ele vai vivendo os dias entre incont...