Discutimos o que foi falado mais cedo com Levi e Isabelle, e o resultado foi uma devastação em meu peito.
Os sintomas físicos que ele sentia não desapareciam da minha cabeça. Temi poderem anunciar o que sua versão mais nova falou.
Reparei que os ferimentos em seus braços precisavam ser higienizados e pedi ao Wolfgang que pegasse os produtos que, outrora, comprei para limpar um corte em sua mão.
Enquanto eu limpava suas feridas, vi um hematoma em seu antebraço direito. A minha força se dissipou quando ele me disse que provocou o ferimento. Ao fim, o vi se levantar e meus olhos o seguiram até o banheiro.
Após alguns minutos, o Wolfgang voltou, com o corpo limpo e roupas trocadas, e se sentou ao meu lado no sofá.
Os meus pensamentos estavam afundados em águas escuras e frias. Entretanto, a presença dele fazia com que a luz do sol alcançasse essas águas.
Me virei em sua direção, encontrei seus olhos e o contemplei com ternura ao tocar o seu rosto com ambas as mãos.
O Wolfgang sorriu de maneira travessa e segurou os meus pulsos. Me surpreendi com o gesto.
Ele se jogou em minha direção e colocou a força do seu corpo contra o meu.
Eu não perdia o seu olhar brincalhão de vista. Por vezes, percebia esse olhar descendo até a minha boca.
Um desejo competitivo, de um moleque imaturo, emergiu em mim e eu tensionei o meu corpo, resistindo à força que ele colocava.
Enquanto o olhava, via o seu peito subir e descer rapidamente, ofegante. Por mais que ele me empurrasse, não tinha forças para ganhar de mim.
Seu olhar saiu do meu e encarou os meus braços enrijecidos, cuja firmeza o impedia de me empurrar.
Aquela brincadeira ficou divertida e um riso juvenil me escapou, o que fez o Wolfgang rir da mesma maneira.
- Babaca. - Ele falou em meio ao riso.
Subitamente, relaxei meus braços e cedi. Senti o corpo dele cair em direção ao meu e sua respiração quente soprou no meu rosto.
Ali, eu soube que a brincadeira já estava ganha, pois o Wolfgang caiu no meu truque.
Aproveitei a distração e o segurei pelos pulsos, com cuidado, evitando tocar nos ferimentos. Vi a raiva aparecer e sumir de seu rosto em uma fração de segundos e ele soltou um riso jocoso de quem sabia que fora dominado.
Inclinei-me sobre o Wolfgang e fui acompanhado pelo arfar crescente de seu peito. O sorriso se desfez e seu olhar perdido caiu sobre os meus lábios.
Debrucei um pouco mais, ficando por cima e obrigando-o a se deitar no sofá. Seus olhos não paravam de encarar a minha boca e eu sentia uma vontade desesperadora de o beijar.
Mais uma vez, o riso jocoso me escapou e ele também riu. Ríamos como dois moleques tontos.
- Ganhei de você. - Provoquei-o após conter a minha risada. Diante da provocação, vi surgir nuances de malícia em seus traços delicados.
O Wolfgang passou as pernas ao redor dos meus quadris, em uma trapaça baixa e eu revidei pressionando seus pulsos contra o assento do sofá.
Era uma forma de vingança por despertar meu desejo, evidente em nosso contato íntimo, e impedir qualquer disfarce da minha própria ereção.
O Wolfgang pareceu satisfeito com a minha reação a julgar pelo sorriso malicioso que se formou em seus lábios.
- Grande merda. - Retribuiu a provocação. Ele tinha o sorriso travesso estampado na face... E como eu amava aquele sorriso.
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Filhos da Entropia
Mistério / SuspenseNo ano 1973, vivendo na época da Ditadura Militar, Wolfgang era um jovem brasileiro pobre, gay, filho de um imigrante austríaco, órfã de mãe e sem quase nenhuma perspectiva de vida. Trabalhando em um bar péssimo, ele vai vivendo os dias entre incont...