Obviamente demorei mais do que dez minutos para chegar. Havia me esquecido de que não estava no escritório quando decidi encontrar o Josh. Quando desci do Uber, ele já estava parado em frente à portaria. Parecia desleixado e confuso, e nem por isso menos bonito. Vê-lo tão próximo, tão real e tão sólido quase me fez cair de joelhos.
— Olá Samuel. Como sabe onde eu moro? – Havia aquela incerteza impregnada em sua voz.
— Descobri sem querer, há mais ou menos um mês. Trabalho a uma quadra daqui e sempre venho a essa padaria aqui em frente para um café. Pode parecer impossível mas de fato foi uma grande coincidência.
— Sei... há um mês, então.
Ele pensou que eu estava mentindo, e com razão. Eu sabia que devia esclarecer os fatos. Sabia, mas não conseguia. Eu não tinha forças então deixei ele pensar o pior, porque o pior era o que eu merecia. Se tinha que haver um vilão, que fosse eu, nunca o meu irmão.
– Quer dar uma volta? – ele me surpreendeu com a pergunta. Assim como eu, ele parecia perdido, mas não parecia ter pressa em se afastar, então me apeguei a isso.
Caminhamos até uma praça nas imediações e nos sentamos num banco por ali. Quando percebi que conseguiria falar sem parecer um derrotado, tentei conversar.
— Me desculpe, Josh. Tudo é bem diferente quando não tem uma tela nos separando. Não sei o que deu em mim para jogar isso no seu colo desse jeito sem considerar as implicâncias do meu gesto. O caso é que... eu não tinha com quem conversar então, enfim, me desculpe.
Ele me olhou em silêncio por um tempo. Foi o momento em que me permiti contemplá-lo ao vivo e a cores. Os olhos verdes vistos assim de perto pareciam esmeraldas acesas, e os lábios sensuais e rosados estavam entreabertos quase como num convite. Ele tinha o maxilar cinzelado e escurecido por uma camada de barba despontando, e um maldito furinho no queixo digno de levantar paus e molhar bocetas por aí. Senti meu estômago esquentar e uma reação conhecida me atingiu abaixo da cintura. Ele era extremamente bonito, provavelmente o homem mais bonito que já conheci, e olha que eu trabalhava com modelos...
— Sinto muito pelo seu irmão.
Eu abri e fechei a boca. Eu queria dizer algo mas se o fizesse, provavelmente desabaria. Eu não queria demonstrar fraqueza. Não queria parecer um fiasco, nem que ele descobrisse o quão fodido eu estava por dentro. Mas eu o queria. Queria com todas as minhas forças e pagaria qualquer coisa para tê-lo para mim. Eu sabia que não passaria de uma mentira, de uma falácia, mas eu o queria nem que fosse por alguns instantes, e meu desejo era tão intenso que chegava a doer.
— Quanto isso vai me custar, Josh?
— O quê?
Assim que vi sua expressão, me dei conta da merda que estava prestes a fazer. Eu não tinha esse direito. Eu não podia comprar afeto, atenção ou respeito. Se eu fizesse isso, cruzaria a última linha e não poderia me reconhecer mais. Eu jamais poderia curar a dor pela perda do meu irmão comprando amor ou compreensão.
Saquei meu celular e chamei um Uber. Eu não deveria ter ido até ali. Estava prestes a me levantar quando senti uma mão no meu braço.
O toque me queimou como uma brasa. A eletricidade percorreu meu corpo daquele ponto até os fios da minha nuca. Olhei para Josh consternado, então ele me puxou. Num instante, eu estava com a cabeça em seu peito e seus braços ao meu redor. Não posso descrever o que aconteceu dentro de mim quando minha boca encostou no centro do seu tórax e o aroma de sabonete e homem me atingiu com tudo. O ar escapou quente dos meus pulmões e meu pau ficou duro na hora.
Eu precisava daquilo. Eu precisava tanto daquele toque que me vi envolvendo seu corpo com meu braço e erguendo a cabeça para repousar minha boca em seu pescoço a fim de roubar um pouco mais de sua essência para a posteridade. Aspirei o aroma da pele e tudo saiu do lugar dentro de mim. Ele tinha o melhor cheiro do mundo, e não era de algum perfume. Era o cheiro dele, que me fisgou e mudou toda a perspectiva do momento.
Eu desfrutei do abraço por um pouco mais de tempo até que notei a veia em seu pescoço pulsar visivelmente. Sua respiração ficou ruidosa e a temperatura do corpo másculo mudou, talvez não literalmente, mas para mim ele parecia estar em chamas. Não pude mais me conter e o olhei nos olhos. Quando nossas írises claras se encontraram, aço e esmeralda se chocaram, e eu tive certeza de que não conseguiria mais me afastar de Josh. Eu tive certeza de que precisava dele, talvez devido ao buraco que se alargava dentro de mim, talvez devido ao abismo que a minha vida inteira tinha sido até esse momento.
Eu não sabia de onde isso tinha surgido, sequer em que momento começara a crescer, mas estava lá. Eu o desejava. Eu o queria, só não sabia se poderia tê-lo porque, pela primeira vez na minha vida, eu não ia forçar a barra. Eu não ia manipular as peças nem jogar meu jogo de sedução. Eu não poderia saber se era algo real se eu usasse dos meus artifícios furados para chegar onde queria com esse cara.
Mas então ele se aproximou, e eu senti seu hálito atingir meus lábios. Quente, convidativo e, porra, eu tinha limites!
— Quer saber, Josh... estou pronto a me afundar numa dívida por isso...
Então, finalmente completei a distância e o beijei.
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Do lado de cá (romance gay)
Short StoryConto erótico - GAY 🌈 Esse é um POV de outro conto já publicado e finalizado: DO LADO DE LÁ. Se quiser conferir, dê uma olhada aqui: https://www.wattpad.com/story/361329559-do-lado-de-lá. Se quiser pode começar por ele, ainda que sua leitura não se...