Eu já estava no portão quando ele chegou. Vi sua expressão confusa quando desceu do carro, mas quando olhou para mim, a sombra do desejo passou por seu rosto, e isso foi suficiente para endurecer meu pau. O maldito adônis não precisava fazer nada e já me colocava "de pé".
Ele me seguiu pelo jardim, calado. Tirei meus chinelos na porta, um hábito antigo. Ele tirou os tênis sem que eu pedisse. Eu usava um moletom e uma camiseta velha que foram as primeiras peças que encontrei depois que chamei o Uber e me dei conta de que não podia recebê-lo pelado.
Quando ele andou um metro para dentro da sala, eu o ataquei. Essa é a palavra. Eu agarrei seu pescoço como se quisesse esganá-lo, e choquei minha boca na sua com toda a fúria contida por ter ficado uma noite sem dormir, por ter me embriagado com um vinho meia boca e por ter passado cada mísero segundo pensando nele desde que saí do seu apartamento. Ele conseguiu o que queria e fez o que prometi que jamais deixaria alguém fazer. Ele roubou minha alma e eu a queria de volta e, aparentemente, acreditei que conseguiria sugá-la a partir de sua boca.
Percebi que passava dos limites quando choquei sua cabeça contra uma parede. Eu estava sendo um estúpido, um animal, mas ele não reclamou. Ele tampouco correspondeu ao beijo ou esboçou qualquer reação. Me senti tentando rasgar uma lâmina de aço, porque não importava a força que eu aplicava, a raiva que eu sentia e a determinação em machucá-lo, ele não se abalou. Ele não se afastou, nem se defendeu, se curvou ou quebrou. Filho da puta imbatível! Ele parecia um muro maciço, e foi quando percebi que estava fora de mim e precisava recuar.
Me afastei mas mantive uma mão em seu pescoço. Ele respirava pesado e era a única evidência de que sentia algo. Seus olhos verdes me queimavam e havia sangue em seu lábio inferior. Me senti mal, mas só um pouco. O que estava empilhado logo abaixo era mais intenso do que a constatação de que eu continuava sendo um monstro. As emoções começaram a se atropelar dentro de mim, e comecei a despejar tudo sobre ele.
– Você me perguntou se havia uma chance. Você me fez essa maldita pergunta, e eu confesso que saí da sua casa sem querer olhar para trás. Você é um homem adulto, Diego! Você tem idade para entender que o que fala causa um efeito à sua volta. Você não pode jogar as coisas assim em cima dos outros sem esperar que volte para você de alguma forma!
– Eu fui sincero... – ele começou a falar, mas eu apertei mais o seu pescoço e o calei com meu polegar.
– Você causa um efeito, Diego! Causou no meu irmão, causou em mim desde o primeiro momento. E não foi o seu físico hercúleo ou sua carinha de deus mítico. Foi quando ficou vermelho em frente à câmera e revelou um mundo de inseguranças que você faz de tudo para cobrir com um sorriso bonito. Tenho 34 anos, e nunca fiquei inseguro na frente de um homem em toda a minha vida. Nunca! Você fodeu minha determinação, você furou meu invólucro de segurança e rompeu tudo aqui dentro! Você me obrigou a fazer tudo o que eu disse que nunca faria. Você está aqui hoje porque, mesmo que eu tenha prometido pra mim mesmo nunca mais te ligar, nunca mais te procurar, eu estou há mais de 24 horas acordado tentando ficar de boa com tudo, então eu cansei de tentar e resolvi deixar as coisas claras pra você!
Ele se desvencilhou e deu para ver que estava nervoso. Deu para ver também as marcas dos meus dedos em seu pescoço, e isso aumentou minha raiva de mim mesmo em proporções épicas. Ele finalmente começava a reagir, e as palavras que cuspiu em cima de mim estavam cheias de mágoa.
– Você fala como se fosse minha culpa você acessar meu canal por cima do seu irmão e me pedir pra fazer sacanagens na sua frente. Você pagou, você tirou a roupa, você pediu uma noite de sexo e depois abriu o coração sobre a história do seu irmão. Você invadiu meu apartamento e roubou meu contato no celular. Foi você, não eu! Eu só estava curioso, e frustrado, confesso, mas não esperava nada além de um pouco de atenção.
Ele estava certo. Estava fodidamente certo e eu terrivelmente errado, para variar.
– E agora, espera? – perguntei. A esperança se entranhando por dentro, tentando encontrar um caminho para dissipar a escuridão.
– Eu estou aqui, não estou? Mesmo sem entender direito qual é a tua, mesmo depois da pior conversa que tive na minha vida com a minha ex-noiva - sim, é ex, se você ainda estiver se perguntando - mesmo estando todo estragado por dentro por entender que sou só eu contra o mundo e que tudo bem estar sozinho porque a vida é uma merda, eu estou aqui na sua frente te ouvindo me acusar de te aborrecer só por existir! Me desculpe por isso, não posso evitar, não tenho tendências suicidas como a minha mãe tinha.
Suas palavras foram como um chute no estômago. Me senti um lixo da pior espécie. Me senti um estúpido sem noção e sem controle. Ele não merecia ser tratado assim. Na verdade ninguém merecia, muito menos ele, alguém que carregava o estigma da rejeição com tanta força que não se conectava com nada por medo de sofrer. E eu peguei essa pessoa, quem eu mais amava no momento e o tratei como alguém que odiava. Qual o sentido disso? Me aproximei e o toquei nos ombros, mas dessa vez, com todo o carinho que ele merecia.
– Ainda bem que não, Diego. Ainda bem que você existe.
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Do lado de cá (romance gay)
Short StoryConto erótico - GAY 🌈 Esse é um POV de outro conto já publicado e finalizado: DO LADO DE LÁ. Se quiser conferir, dê uma olhada aqui: https://www.wattpad.com/story/361329559-do-lado-de-lá. Se quiser pode começar por ele, ainda que sua leitura não se...