18 - Vácuo

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Foi uma semana impossível.

Eu estava mal no primeiro dia. No segundo estava pior e no terceiro... bom, fazia um certo tempo que eu não recorria a qualquer subterfúgio para fugir do drama e já estava limpo há anos, mas confesso que por aqueles dias, me vi sentado no meu quarto segurando um frasco de Percocet com uma luta interna tão ferrenha que meu cérebro por pouco não vazou pelo meu nariz.

Fazia uma semana que eu estava isolado em casa. Fazia uma semana que eu não via nem conversava com ninguém. Todos os trabalhos do estúdio estavam suspensos até que eu pudesse me organizar para voltar a fazer os cliques. Eu precisava me atualizar com o equipamento que o Daniel usava, precisava assumir a frente mas não estava com forças para retomar, então me limitei a entregar o que estava com prazo vencido e protelei os projetos por alguns dias. Nossos clientes não se importaram em me dar esse prazo, obviamente compreenderam a situação atipicamente trágica, mas eu não deveria ter feito isso pois trabalhar talvez pudesse ter ajudado a manter minha sanidade.

Diego tinha desaparecido. Eu estava puto com isso e não conseguia isolar o sentimento. Ele desapareceu do próprio canal e há uma semana eu entrava na página, aguardava por um tempo e desistia no fim do dia. Eu me perguntava até quando poderia suportar esse vácuo antes de ir até a porta do seu prédio e exigir falar com ele.

O caso é que eu estava em frangalhos. Me vi dormindo muito mais horas do que o normal, tomava banho só quando me sentia fedido e minha aparência era a de um bêbado. Se eu coroasse meu estado com uma dose de opioide, aí sim seria o fundo do poço. Determinado a me segurar na última farpa de determinação que ainda me restava, eu joguei o restante dos comprimidos no vaso e dei descarga. Não sabia nem por que tinha guardado aquilo. 

Ter tomado essa iniciativa me deu uma injeção de esperança. Uma injeção bem modesta e frágil, mas era algo em que me apegar. Tomei um banho, aparei minha barba e coloquei uma roupa limpa. Recolhi meus pertences espalhados pela casa, coloquei a roupa e a louça acumulada para lavar e me livrei do lixo amontoado. Me senti um pouco mais humano então resolvi tentar mais uma vez entrar no site erótico. Talvez "Josh" não estivesse online, mas se eu por acaso encontrasse algum outro perfil interessante, poderia até tentar me entreter com ele.

Algo me dizia que eu não conseguiria, mas não queria rejeitar a possibilidade sem sequer tentar. Era noite, um horário em que eu e o outrora Josh costumávamos nos encontrar antes de tudo dar errado, antes de Josh se tornar Diego, antes de Daniel deixar de existir. Conectei meu usuário e quase tive uma síncope quando vi que Josh_147 estava online. 

Imediatamente me vi solicitando uma privé. Ele estava online mas não estava disponível. Entendi que provavelmente ele estava atendendo outra pessoa, e não posso descrever o que essa constatação me causou. O laivo de um sentimento ácido e amargo subiu pelo meu peito e azedou minha boca. Senti meus membros flácidos e a tristeza molhou meus olhos.

Concluí que Diego continuara entrando no perfil, mas não por minha causa. Não sabia por que achara que seria por mim. Nunca foi por mim. Ele provavelmente teria entrado em horários que eu não costumava me conectar. Estaria ele fugindo de mim? Ele não tinha tempo para me receber, mas tinha tempo para os outros? 

Me senti ridículo por meus pensamentos. Eu parecia a mulher traída e mal paga. Diego não deveria ser alguém importante a ponto de me deixar tão abalado. Eu fiquei repetindo isso para mim mesmo o tempo todo em que aguardava que ele ficasse disponível. Eu poderia sair dali e procurar outro perfil. Eu poderia mas não queria. Eu poderia e não poderia, e essa confusão dos infernos estava poluindo minha mente quando finalmente ele entrou na chamada privada. 

Quando sua imagem surgiu na tela, eu finalmente entendi. Não havia mais ninguém porque eu não queria mais ninguém. Eu queria ele. Eu queria com tanta força que pensei que não seria capaz de lhe dar escolha. A compreensão desse sentimento carrasco quase me fez desistir e fugir, mas então ele olhou nos meus olhos, e as írises verdes foram o grilhão que faltava. Raiva, luxúria, medo e tristeza giravam dentro de mim quando finalmente ouvi sua voz grave e sedosa.

— O que posso fazer por você hoje, Samuel?

Do lado de cá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora