O porteiro me olhava assustado. Também pudera, eu devia parecer um lunático, chegando tarde da noite na portaria de um prédio, todo descabelado, com olheiras e vestido como se tivesse acabado de acordar, exigindo falar com um dos moradores sem sequer saber o número do apartamento.
– Duvido que você tenha mais de um Diego loiro, alto e de cabelo preso nesse prédio. Você pode checar, por favor? Ele me deu o endereço mas me esqueci de anotar o número do apartamento.
Menti mas tentei fazer isso com um pouco mais de cortesia. Vi quando o homem levou o interfone ao ouvido e falou com alguém. Nesse momento, me senti desinstalado e completamente fora de lugar.
Onde eu estava com a cabeça? E se ele não me deixasse subir?
– Senhor Samuel, pode subir. É essa torre aqui à direita, sexto andar, apartamento 63.
– Obrigado
Certo. Ele me deixou subir. Passei como um tornado pelo porteiro. Estava envergonhado mas nem isso deteve minha determinação.
Na medida em que o elevador subia, minha convicção diminuía. Aos poucos fui me acovardando e me sentindo péssimo por minha atitude infantil e desproporcional. Eu era a porra de um homem adulto de 34 anos! Eu não era um adolescente de ego frágil, não era um moleque inconsequente, eu não era um desequilibrado!
Será?
Quando desci do elevador, Diego já esperava na porta. O baque de sua presença agigantada pelo batente, descabelado e aparentemente muito puto comigo me fez tremer nas bases. Eu me aproximei e pensei no que iria dizer. As palavras desapareceram e eu desejei que um buraco se abrisse e eu despencasse todos os seis andares e me espatifasse lá embaixo.
Quando parei de frente para ele, fui puxado com força para dentro do apartamento, e antes de tentar esboçar qualquer reação, sua boca se chocou contra a minha. Ouvi a porta bater atrás de mim e senti uma fisgada de dor quando ele mordeu meu lábio inferior. Suas mãos eram como garras no meu pescoço e eu espalmei seu peito na tentativa de me desvencilhar, mas ao invés disso, o estava puxando ainda mais de encontro a mim.
Não sei como, mas minhas roupas foram removidas sem que as bocas se descolassem. Eu não entendia o que ele pretendia, quero dizer, eu entendia, mas não conseguia sacar o por que de ele estar agindo de maneira tão frenética e agressiva. Eu tentei falar alguma coisa, mas senti sua boca percorrendo meu pescoço e minha cabeça pifou. Senti gosto de sangue na boca e escutei o ruído de alguma coisa caindo no chão.
– O que você quer aqui? – Ouvi ele resmungar mas ele não parecia querer ouvir qualquer resposta.
Minhas pernas bateram no sofá, então me joguei nele e puxei Diego para cima de mim. Ele se sentou no meu colo e eu agarrei nossos paus juntos. Nesse instante, quando meu corpo reagiu e uma injeção de vida me percorreu de cima a baixo, me dei conta do quão sozinho eu estava, do quão miserável se tornara minha existência e do quanto eu precisava que alguém me tirasse desse poço lamacento.
Diego se movia sobre mim completamente alucinado. Eu notei o quanto ele estava desesperado por esse contato, o quanto esse desejo se refletia no meu, e me senti sugado e drenado. Ele me levou ao êxtase apenas esfregando nossos corpos e quando terminou, o vazio se ampliou no meu peito de tal maneira que eu perdi a voz.
Ouvi ele rir enquanto olhava o sêmen espalhado entre nós. Pensei no quanto esse momento deveria significar algo, mas eu estava vazio, magoado e triturado. Ele saiu de cima de mim e aquela garra viscosa apertou ainda mais minhas entranhas.
Eu queria fugir e me esconder, então me ergui e comecei a recolocar minhas roupas sem me preocupar em me limpar. Diego olhava para mim como quem esperava algo, uma explicação ou qualquer outra coisa, mas eu não conseguia falar porque aquela sensação de pulmões afogados travou minha garganta e eu não sabia por quanto tempo conseguiria me conter.
Cheguei até a porta e olhei de novo para ele. Não parecia que ele queria que eu fosse embora e desejei que ele me pedisse para ficar. Ele era o único alvo próximo e eu precisava desesperadamente de algo em que me segurar. Rendido, dei a volta e me sentei no sofá. Baixei minha cabeça e então as malditas lágrimas finalmente encontraram o caminho através do aperto da garra e vazaram pelos meus olhos fechados.
Foram semanas me sentindo um pedaço de algo. O pedaço estragado, aquele que se joga fora. Infelizmente o universo falhou e levou embora aquele que era bom e deixou o podre para trás. Eu não era mais inteiro. Eu nunca mais seria inteiro outra vez. Quando consegui esmagar o pranto, as palavras fugiram da minha boca antes mesmo de eu ter consciência de que elas pairavam por ali.
– Ele era meu gêmeo... você tem noção do que é isso?
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Do lado de cá (romance gay)
Short StoryConto erótico - GAY 🌈 Esse é um POV de outro conto já publicado e finalizado: DO LADO DE LÁ. Se quiser conferir, dê uma olhada aqui: https://www.wattpad.com/story/361329559-do-lado-de-lá. Se quiser pode começar por ele, ainda que sua leitura não se...