25 - Por que ainda está aqui?

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Diego não ficou bem depois daquilo. Ele voltou a vomitar e eu me vi num dilema entre deixá-lo cuidar de si mesmo para fazer minhas coisas, ou ficar com ele e mandar o resto pra puta que pariu. No momento ele estava estirado na cama, eu fiz uma compressa fria, coloquei em sua testa e o ajudei a ingerir um analgésico que encontrei numa das gavetas da cozinha. 

– Você parece muito à vontade no meu apartamento. – ele sussurrou em meio à agonia da dor de cabeça que o assolava.

– É prático. Gostei do seu espaço – afirmei. Embora tenha ficado claro o porquê de não haver nada no ambiente de Diego que demonstrasse qualquer apego emocional, como hobbies ou memórias, ainda assim o lugar o refletia em toda a sua aridez. 

– Por que ainda está aqui, Samuel?

Era uma boa pergunta. Notei que ele parecia irritado e atribuí sua tentativa de me afastar ao fato de estar debilitado. Acho que tinha mais a ver com orgulho próprio do que vontade de me mandar embora. Na verdade, eu esperava que esse fosse o motivo. 

– Honestamente, não sei – respondi com sinceridade.

Fiquei no apartamento por mais meia hora e nesse período ele acabou adormecendo. Antes de sair, vi seu aparelho celular em cima da mesa e, como era um iPhone como o meu, encostei um no outro para fazer a troca de contatos. Dessa vez não haveria mais desculpas para mantermos o afastamento. 

Feito isso, fui para o estúdio. Assim que entrei na minha sala, enviei uma mensagem para ele:

"Agora você tem meu contato e eu tenho o seu. Não vou forçar a barra com você, mas minha paciência não é muito exemplar. Apenas me diga se está bem quando acordar, e entenda que se precisar de qualquer coisa - qualquer coisa mesmo - pode me chamar."

Eu sabia que ele não responderia logo então fui me ocupar das minhas tarefas. Um pouco antes do almoço recebi uma resposta dele:

"Acordei melhor. Obrigado pela ajuda."

Seco e objetivo. Sem problemas, isso não me incomodava tanto. O importante era saber que ele estava bem, embora se eu pudesse entender como ele se sentia sobre nós, seria de grande ajuda para conter minha ansiedade crescente. 

Um pouco depois, meu pessoal chegou para a reunião e eu comecei a conversa. Tinha acabado de abrir o primeiro assunto da pauta quando meu celular vibrou com uma chamada dele. Meu coração acelerou e me senti um adolescente estúpido. Pedi licença e corri até minha sala para atender. 

– Alô? Tá tudo bem? – Soei meio ansioso e odiei isso.

– Tô melhor, eu... – Diego começou a falar, mas não completava a frase. Minha ansiedade aumentou exponencialmente.

– Diego, você precisa de alguma coisa?

– Quero que você volte pra cá. – ele respondeu, com a voz grave e tímida.

Soltei o ar lentamente. Percebi minhas mãos suadas e me envergonhei por estar tão afetado com uma coisa tão idiota como uma ligação. Todavia, era uma ligação do cara que eu estava fissurado me pedindo pra voltar para perto dele. Nesse caso, eu merecia um desconto.

– Ok. Quando sair do trabalho eu vou até aí. – respondi.

– Isso vai demorar quanto tempo?

Me deu um baita de um alívio constatar que eu não era o único desesperado. O sentimento provocou um sorriso nos meus lábios.

– Mais umas duas horas. Você pode esperar? Se não puder, eu dou um jeito.

– Não, fica tranquilo. Eu espero. Também, se não puder vir não tem problema.

Ah, teria problema sim. Voltei para a sala de reunião e corri com os assuntos. Diego me esperava, eu precisava dizer a ele como me sentia e torcer para que ele estivesse aberto para algo além das fodas aleatórias que temos praticado. 


Do lado de cá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora