#5.

5 0 0
                                    

- Shoyo! Desculpa ter deixado você esperando.

- Kenma! – Hinata cumprimentou de volta, vendo Kenma se sentar junto dele na mesa da pequena cafeteria local, lugar que Hinata recomendava aos outros sempre que possível; ele estava de frente para a vidraça expondo o dia ensolarado e as ruas movimentadas do centro de Tóquio, e Kenma, de costas para o Sol. – Tudo bem, você chegou até mais cedo do que eu esperava.

- É, uma vez na vida, eu não atrasei... Muito. Enfim, como você anda? Nervoso pra próxima temporada?

- Nem me fale – Hinata brincou, distraído momentaneamente pela chegada do seu pedido; ele tomou um gole do café fumegante sem piscar, e só fez careta ao sentir a falta do açúcar. – Mas o trabalho tem me distraído. Eu falei que arrumei um bico de garçom numa boate na zona norte, né? Mas já dei meus 14 dias de aviso prévio, só 'tô esperando aparecer alguém pra me substituir pra pular fora.

- É verdade, você ainda 'tá trabalhando...

- É, alguns de nós precisam de carteira assinada pra pagar o aluguel. Quando a temporada começar, acho que vai ficar mais tranquilo, o time paga muito bem.

Kenma só concordou, olhando para algum lugar além do ombro de Hinata, que debatia internamente se valia a pena ou não procurar o que ele observava. Felizmente, tanto a encarada quanto o debate interno duraram segundos ínfimos o suficiente para serem insignificantes.

- Que bom que você conseguiu um contrato que vai te pagar bem, sabe. Você merece esse lucro – Kenma continuou, tirando a carta de bajulação da manga que aprendeu com o próprio Hinata, mas nem por isso era menos eficiente. – Com tudo que você tem feito... Estudar, trabalhar e treinar ao mesmo tempo deve ser drenante. Você merece todo o conforto possível.

- E você tem que parar de puxar meu saco desse jeito – Hinata respondeu, coçando a nuca.

Kenma sorriu docemente e tornou a olhar por cima do ombro dele, com um sorriso sutil de gato-que-comeu-o-canário. E, quando Hinata cogitou deixar em paz e nunca descobrir para o que ele tanto olhava, a sensação de ser encarado queimou em suas costas – com uma familiaridade que tiraria seu sono por dias futuros. Antes que pudesse se impedir, ele procurou o que Kenma via, e viu uma chama violenta dançar em olhos azuis.

Kageyama.

- Desculpa, Kenma, eu— eu só vou cumprimentar alguém.

- Fica tranquilo, eu não ia ficar muito. Talvez eu já vá embora mesmo...

Hinata não deu atenção alguma ao fim da frase de Kenma, nem mesmo quando ele se levantou e foi embora pagando o café de Hinata com uma nota de vinte sobre a mesa; ele se aproximou de Kageyama com um peso inexplicável no peito, fingindo que o olhar assassino dele não doía em lugares íntimos da sua alma.

- Então ele é um amigo?

Nem um cumprimento, nem um aceno para respeitar a aproximação de Hinata. Nem mesmo menção ao fato de que ele deixou Kenma ir embora para se juntar a ele. Simplesmente assim.

Hinata devia saber – ele conhecia Kageyama, conhecia seus problemas de temperamento mais do que gostaria... Isso não fazia a situação mais agradável.

- Ele 'tá noivo de outra pessoa, se isso te tranquiliza – Hinata respondeu no tom mais impassível que conseguiu, o que só intensificou a carranca de Kageyama. Sério, por que ele não conseguia parar de revirar os sentimentos da Hinata a seu bel-prazer, sem a menor empatia pelo coração que machucava?

- Não impede muita coisa.

- Ele não é esse tipo de pessoa, e nós não temos esse tipo de relação – Hinata rebateu, sua voz saindo mais ácida do que pretendia, mas se fosse o necessário para explicar a situação... – E, mesmo que tivéssemos, não é da sua conta.

- Ah, não é da minha conta?

Hinata o conhecia bem o suficiente para saber exatamente o que passou pela sua cabeça perante a pergunta com tom de acusação. Odiava evocar a memória, principalmente nele, que devia odiá-lo por terminar a história de ensino médio dos dois com uma nota tão melodramática.

- Não, não é da sua conta. Não mais.

Kageyama bufou e cruzou os braços, birrento como uma criança. Hinata fingiu não notar os olhares estranhos que atraíam no lugar, e terminou de tomar seu café como se a situação não o afetasse de modo algum.

Como se esse ciúme não o enchesse de dor e esperanças fúteis. Como se ele não se corroesse querendo saber exatamente o que passava na cabeça de Kageyama em momentos assim.

- Você 'tá sendo ridículo.

- Eu 'tô sendo ridículo?! Olha as coisas que você 'tá me dizendo!

- Olha o tom que você fala comigo! – Hinata apontou um dedo para Kageyama, quase mudando de cor e levantando-se da porcaria da cadeira. – Eu não sou mais uma criança idiota pra lidar com as suas birras. Eu tenho a minha vida, e você não fez parte dela por cinco anos... Segura a barra aí.

Kageyama ficou quieto, terrivelmente quieto, encarou Hinata por mais um tempo – Hinata pôde jurar que viu sua fúria ciumenta suavizar a algo mais triste – e foi embora sem outra palavra.

As pessoas gradualmente pararam de encarar, mas mesmo minutos depois de Kageyama sumir rua afora, Hinata ainda encarava a porta por onde ele saiu, tentando entender onde eles deram errado. Kageyama não tinha porque sentir ciúme – não depois de sumir por anos e deixá-lo sem uma resposta ao que foi o ato mais ousado e doloroso de sua vida até hoje. Hinata não entendia de onde vinha todo aquele ciúme – seriam sinais? Seria Kageyama brincando com o coração de Hinata de novo, dando-o falsas esperanças?

Quem eu amo não é da sua conta. Mesmo que seja você, até hoje.

Hinata respirou fundo.

- Eu sou um idiota.


[n. a.: É O CARRO DO MISCOMMUNICATION PASSANDO NA SUA RUA 🗣🗣🗣🗣

não surtem até domingo, o próximo cap ainda tá pra sair mas eu garanto que vai ser chuchu beleza. até lá! se cuidem, amo vcs, beijinhooos <333]

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora