Nishinoya caiu da cama assim que viu o nome no visor de seu celular, sendo acordado naquela manhã de domingo por uma ligação ao invés de seu alarme.
O choque de ler o nome do remetente foi maior do que o choque de despencar para fora da cama e bater de cara, com tudo, no chão – depois do choque, uma euforia inominável tomou conta dele, e Noya quase derrubou o celular das mãos tentando atender aquela merda de ligação.
Não foi só sobre o nome de Asahi numa tela. Foi a voz dele do outro lado da linha, às 6:26 da manhã, que matou Noya um pouquinho por dentro.
- Yuu?
- Oi, Asahi-san – Ele cumprimentou de volta, forçando a voz a soar o mais normal possível, quando o coração batia como um tamborim dentro do peito.
O nome dele na ponta da língua trazia de volta o gosto daquele jeito, quando ele pediu, como um maldito hipócrita, para irem devagar... Yuu, a pessoa mais espalhafatosa que qualquer um podia conhecer, que gritava sobre amor e coragem para os quatro ventos espalharem por aí...
...E Asahi o deixava encolhido num canto do quarto, ao pé da própria cama, de repente com medo. De quê? Era difícil dizer.
- Desculpa por ligar tão cedo. Eu te acordei?
- Não. De jeito nenhum – Nishinoya mentiu. Sabe, como um mentiroso.
Asahi deu um pequeno riso de alívio, algo do tipo, e o coração de Nishinoya derreteu dentro do peito. O efeito era o mesmo quando existia o Mediterrâneo, o Pacífico, os sete mares do mundo se pondo entre os dois... Conectados por uma linha de telefone. Amor aceso por uma linha de telefone.
Mas pensar nessa coisa de uma distância desenhada em um mapa com escala separando os dois trazia uma sensação de... Abandono. Noya começava a entender do que tinha tanto medo.
- Eu só... Eu precisava ver você. Ouvir sua voz. Qualquer coisa assim. Desde que a gente se viu de novo... Eu não consigo parar de pensar em você, Yuu.
- Eu também não parei de pensar em você – Yuu admitiu antes que pudesse se impedir, a verdade escorregando pela língua com um gosto de saudade. Mesmo sabendo que o jeito que os dois pensavam um sobre o outro era muito, muito diferente. – Nem por um segundo.
Sem um único som, ele ouviu o sorriso que Asahi deu do outro lado da linha, uma manifestação divina no espaço que fazia tudo valer a pena. Aquele maldito sorriso, que uma vez foi tão difícil de acender. Nishinoya sentia que se apaixonava mais e mais por ele a cada segundo que a ligação continuava, mesmo quando o silêncio se estendia.
- Por que a gente não se encontra em algum lugar da cidade? Aproveitar que estamos no mesmo lugar ao mesmo tempo... Já faz um tempo.
Nishinoya deitou as costas no chão do quarto, amaciado pelo carpete, encarando o teto enquanto sua mente fazia uma bagunça do que ele sentia, do que ele queria, do que ele pensava.
Era a casa de seu avô nos subúrbios, que ele deixou para o único neto depois de falecer. O quarto em que Nishinoya dormia quando criança alojava um adulto muito bem no espaço ínfimo que oferecia. O teto ainda era pintado de amarelo-canário, e Nishinoya se perguntou que tipo de adulto racional faria essa atrocidade com a própria casa.
- ...Claro, a gente pode se encontrar. Eu ia adorar – Nishinoya respondeu, enfim, atendendo ao que queria no fundo de seu coração. Apesar da pontada de medo que insistia em surgir ali, alguns anos atrasada. – Onde você quer ir?
- Pra qualquer lugar, honestamente. Eu não lembro muito da cidade... Não sei como ir pra lugar nenhum.
- Acho que a gente 'tá no mesmo barco – Nishinoya admitiu, tirando uma risada de Asahi; ele se deitou sobre o braço que segurava o celular ao ouvido, como se pudesse se aninhar no som metálico do outro lado. – Você não conseguiu contato com mais ninguém da galera antiga?
- Eu encontrei o Sugawara, na verdade...
- Talvez ele tenha uma ideia.
- Mas eu queria... – Asahi hesitou, finalmente mostrando a ansiedade que Yuu conhecia, que ele tanto aliviou nos anos mais céleres dos dois como um par. Fofo. Eu senti falta disso. – Eu queria que fosse uma coisa só pra nós dois. Um encontro só nosso, sabe? Como era antes.
Como era antes – é, nos tempos em que eles ainda funcionavam quase como um só, sem que uma distância prolongada enferrujasse a intimidade dos dois. Nos tempos em que Nishinoya tinha certeza do que sentia por Asahi (ele ainda tinha) e tinha certeza do que Asahi sentia por ele. Quando ele tinha certeza que os dois funcionavam, que foram um par desenhado no paraíso.
É... Talvez se Nishinoya fosse menos crianção. Asahi sempre precisou de estabilidade, pelo menos sempre procurou por isso, e Nishinoya era... Um furacão. Ele não saberia nem dizer porque Asahi ainda insistia neles.
- Se é isso que você quer... Tudo bem. Eu vou pensar em alguma coisa.
- Quer saber? Não precisa – Mesmo com o tom suave, Nishinoya sentiu o coração partir um pouquinho. – Eu... Vou procurar por aí, vou achar um lugar legal pra gente, e... Seu único trabalho vai ser comparecer e ser bonito.
- Eu já sou bonito.
- Eu sei que é – Asahi concordou, e Nishinoya quase soltou um som ridículo de lisonjeio. – Por isso esse é o seu trabalho. Já que sou eu quem quer te levar pra sair, é justo que você fique com o trabalho fácil.
- Você é um verdadeiro cavalheiro. Já te disseram isso?
- Na verdade, não. A minha aparência ainda assusta as pessoas.
- Então você 'tá cercado de mentirosos, Asahi-san, sinto muito em dizer.
- Por que você não me chama mais de "amor"? Eu 'tô começando a sentir falta.
Silêncio. Nishinoya sentiu um nó se formar na base de sua garganta, um amontoado de desculpas e pedidos de desculpas e só uma ansiedade incurável, como se o tempo separados tivesse trocado os papéis dos dois...
- Eu posso voltar a te chamar de amor, se você quiser.
- Eu não quero que você me chame porque eu pedi, eu quero que você me chame assim porque você quer me chamar assim...
Asahi suspirou do outro lado da linha. Uma chuva invisível começou a cair do teto amarelo-canário idiota do quarto e acertar Nishinoya bem nos olhos, porque ele jamais admitiria que estava chorando por Asahi. Não quando tudo estava indo tão bem até dois minutos atrás.
- Olha... Eu entendo que você 'tá nervoso em voltar a como as coisas eram, Yuu. Nós ficamos muito tempo separados, eu acho que até tempo demais... Tudo bem se você quiser tomar seu tempo pra se acostumar de novo, eu não quero pedir demais de você. Mas eu também preciso te ver, então...
- Eu também quero ver você – Nishinoya não tinha certeza se tinha conseguido abafar o tom choroso da voz através do telefone, porque Asahi não respondeu nem questionou de imediato. – Você acha um lugar legal pra gente, meu amor, e eu te encontro lá. Pode ser?
- Claro. Eu te ligo de novo quando achar um lugar bom... Meu amor.
Nishinoya nunca, nunca, admitiria como seu rosto queimou com a ênfase do meu amor na voz de Asahi, aveludada, ainda apaixonado. O que ele era, a droga de um adolescente vivendo o primeiro crush?
- Mal posso esperar.
- Eu também não. Eu falo com você assim que puder, okay? Precisam de mim no estúdio. Se cuida, Yuu.
- Vou esperar por você. Eu te a—
Mas Asahi desligou antes que Nishinoya conseguisse terminar o que dizia, e uma sílaba final ficou suspensa no ar, sem audiência...
Nishinoya bufou e conferiu o horário. 6:42 da manhã. Ninguém precisava dele em lugar nenhum, exceto talvez pelo próprio Asahi, que tinha mais o que fazer do que ficar na linha com Yuu o dia todo.
Nishinoya finalmente se levantou do chão e acabou debruçado sobre o guarda-corpo da janela, uma muda de suculenta plantada bem na beirada da batente. Era o meio do verão e ele não sabia quando teria que sair da cidade de novo...
Talvez um passeio pela cidade de bicicleta seria bom. Ele podia aprender como ir aos lugares sozinho daí.
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Que História É Essa?! (Haikyuu!!)
Fanfiction" - São Longuinho, São Longuinho... Se eu achar o amor da minha vida, eu dou vinte pulinhos." No qual ex-jogadores de vôlei do ensino médio enfrentam as dificuldades e artimanhas da vida adulta. ✧*:.。. | Sequência ficcional / Caracterização LGBTQIAP...