- E por que você não pode vir visitar de novo? Achei que estivesse tudo bem.
Sugawara respirou bem fundo, fechando outra caixa de conjuntos e mais conjuntos de giz de cera. Sabia admitir que o esforço de Daichi para reatar qualquer coisa entre os dois era admirável, mas ele precisava incomodá-lo na escola?
- A sua namorada não gosta de mim – Sugawara respondeu, simples assim, porque a situação era simples assim. – Não quero incomodar vocês dois mais do que eu já incomodei.
Daichi ficou parado onde estava, cenho franzido, completamente confuso. O que ouvia parecia um completo paradoxo.
- Mas... Eu achei que vocês 'tavam se dando bem. Você disse que ela era engraçada...
- Ela deve pensar que eu sou algum tipo de competição. Não é normal as pessoas voltarem a falar com ex-parceiros do nada, Daichi – Suga ressaltou, encaixando a caixa lotada numa estante. Continuaria com suas tarefas e o que mais fosse necessário para não olhar na cara de pau dele, que ainda enfrentava dificuldades para se decidir entre duas coisas que queria. – Se ela não tem certeza do que você quer comigo, deve pelo menos suspeitar...
- Eu só queria que vocês se conhecessem... Ela me disse que nem lembrava de você, eu não entendo.
Sugawara respirou fundo. Acabaria tendo um problema no coração se continuasse se estressando por coisas assim... Por pessoas assim, que não mediam as decisões que tomavam, não pensavam nos outros.
Ele encontrou o olhar de Daichi, aproximou-se dele, apontando-lhe um dedo acusador.
- Você tem todo o direito de acreditar no que quiser, mas eu não confio nela. Você já está errado em vir atrás de mim sem terminar com ela primeiro, e é bom você achar um motivo plausível pra terminar com ela, porque eu proíbo você de fazer com ela o que você fez comigo. Ninguém merece se sentir traído daquele jeito.
Sugawara tornou a virar as costas, ajeitando desnecessariamente as caixas nas estantes – não durariam mais do que doze horas naquele estado. Ficou atento ao som dos passos de Daichi atrás de si – que não aconteceram por tempo o suficiente para forçá-lo a se virar de novo.
- Você acha que... A Yui pode tentar alguma coisa? – A dúvida soava maçante na voz de Daichi, perdido e confuso, mas Sugawara não tinha tempo de se compadecer.
- Você é o namorado dela, você que devia saber como ela pensa.
- ...É verdade que ela não foi tão legal quanto eu gostaria, falando de nós o tempo todo. Uhm... Eu tive umas conversas desconfortáveis com ela depois disso.
- Eu não quero ouvir sobre isso.
- Ela só— às vezes ela me força a fazer coisas, traz assuntos que eu não quero pensar sobre como... Como certezas. Ela é controladora, mas não acho que ela seria competitiva do jeito que você diz...
- Eu literalmente não quero ouvir – Sugawara se exaltou, empurrando uma caixa até o fundo do armário. – Você pode contar tudo isso pra polícia, pra um terapeuta, pra literalmente qualquer outra pessoa no mundo, mas não pra mim. Você me largou pra ficar com ela, e se ela é tão horrorosa assim, a única coisa que eu posso te dizer é: bem feito. Você escolheu isso, escolheu ela ao invés de mim. Então...
Sugawara nem conseguiu concluir o pensamento. Fugiu do olhar de Daichi pela milésima vez, fechando as portas dos armários em sequência com mais força do que deveria.
Daichi ficou quieto. Parado. Estático. Quando sentiu o sopro de ar natural de sua respiração, voltou a si e saiu, ainda em silêncio, deixando Sugawara se acalmar sozinho.
Ele discou o único contato que importava nesse momento, não se importando de andar nas ruas falando ao celular, com mil coisas na mente ao mesmo tempo. Ninguém precisava saber de cada descuido se ele não estava vestindo a farda.
Depois do quinto toque, Michimiya atendeu.
- Oi, meu amor. Desculpa a demora pra atender, eu 'tava no banho – Ela justificou, voz alegre e jovial como Daichi lembrava... Dos tempos melhores. Dos tempos em que ela não controlava cada detalhe de sua vida. – O que você quer me dizer? Já 'tá voltando pra casa?
- Sim, eu vou pra minha casa. Mas... Eu preciso te encontrar pra dizer uma coisa séria. Quando a gente pode se ver?
Michimiya brilhou do outro lado da linha, e Daichi desejou ter aprendido a não ser suave e cauteloso com ela o tempo todo. Era fácil interpretar mal uma situação quando a outra pessoa não era rígida o suficiente.
- Quando você quiser! Quero dizer, só na quarta à tarde que não, eu vou pra uma entrevista de emprego... Mas tirando isso, eu 'tô sempre livre pra você, amor da minha vida.
- Ótimo. Eu... Eu vou arrumar um dia bom e te aviso, okay? É realmente sério.
- Claro que é sério! Tudo bem. Te vejo então, meu amor, mil beijos!
E terminou, sem que Daichi pudesse responder ou dizer qualquer outra coisa. As chances de que ela ficaria magoada por ele não ter respondido aos seus mil beijos nos milissegundos que teve antes de ela desligar o telefone arranhavam a estratosfera, mas Daichi se preocuparia com isso depois.
Tinha que aprender a dar um pé na bunda de alguém até o dia em que se encontrasse com Michimiya, com sorte pela última vez.
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Que História É Essa?! (Haikyuu!!)
Fanfiction" - São Longuinho, São Longuinho... Se eu achar o amor da minha vida, eu dou vinte pulinhos." No qual ex-jogadores de vôlei do ensino médio enfrentam as dificuldades e artimanhas da vida adulta. ✧*:.。. | Sequência ficcional / Caracterização LGBTQIAP...