- Eu espero ter entendido a situação errado.
Atsumu nunca decifraria porque Kiyoomi insistia em deixar as coisas entre eles muito mais complicadas do que era necessário. Ele com certeza tinha entendido a dada "situação" perfeitamente bem – mas não, queria torturar Atsumu à moda chinesa e fazê-lo admitir, de novo, uma infidelidade.
É. De novo. Atsumu sentia vergonha em admitir até a si mesmo, quanto mais a Kiyoomi, que era... Seu mundo todo.
Mesmo enquanto era arrastado para fora do bar à força, por um namorado (título esse mais complicado e controverso a cada dia) lívido até no olhar gélido. O negro de seus olhos refletia o fogo do inferno, aguardando para engolir Atsumu vivo em discussões e o centésimo término do ano – no tempo que levou para Kiyoomi baixar a máscara e abrir a boca, o olhar de Atsumu divergiu entre a pintinha bem embaixo de seus lábios e o "pseudo-preto" de seus olhos, que ele sabia ser um verde muito, muito escuro.
- E então?
Como ele consegue ser gostoso até quando quer me esfolar vivo?
- Eu... É, eu bebi e dei em cima de outra pessoa – Atsumu admitiu logo de cara, e Kiyoomi largou sua gola e distanciou-se dele com passos que abriam crateras no chão. Em toda honestidade, Atsumu preferia que ele voltasse para perto e o desse um tapa. Doeria muito menos do que ser forçado a reconhecer que a fúria lívida de seus olhos era, na verdade, pura decepção.
Sakusa cruzou os braços e baixou a máscara, completamente sozinho com o controverso namorado no silêncio abafado, quase inexistente, da noite quente. Não era só decepção – estava machucado, machucado de verdade, e sempre pelos mesmos erros da mesma pessoa.
E ainda assim Sakusa não conseguia evitar voltar para ele toda vez. E Atsumu não conseguia evitar repetir os mesmos erros, sabendo que atearia fogo ao mundo por Kiyoomi se ele assim pedisse. A comunicação que eles tanto prezavam anos atrás tornava-se obsoleta aos poucos, e o caminho das soluções tornava-se cada vez mais escuros.
- Eu não acredito que vou ter que ter essa conversa com você de novo.
- Omi-Omi, eu te amo – Atsumu imediatamente interrompeu, jogando todas as suas certezas na mesa, abrindo o jogo; no caso, o "eu te amo" repetitivo e ainda cheio de significado era sua única certeza, sua única cartada contra os vícios da língua e do corpo.
- Eu sei. Eu sei que ama – Kiyoomi respondeu, e não parecia, de modo algum, feliz com isso. Se Atsumu pudesse enfiar a cabeça no bueiro agora, por pura vergonha de si mesmo, faria isso. E nunca mais daria as caras se Kiyoomi decidisse que aquela já foi sua última chance. – Eu também amo você.
Atsumu esperou o "mas". E ele não veio. Ele e Kiyoomi continuaram se encarando do lado de fora do bar, de vez em quando interrompidos da dolorosa anestesia de saberem exatamente o que vinha depois pela suave brisa que banhava o parque ao lado de frescor e luar. Sakusa suspirou contra o sentido do vento.
- Você já sabe que eu vou perdoar você de novo – Kiyoomi o lembrou, sem olhá-lo nos olhos. – Depois de quase quatro anos, eu não tenho nem o direito de tentar mudar isso, eu acho.
- Omi...
- Não, 'Tsumu, tudo bem.
Não estava tudo bem. Sakusa não usava "Tsumu" a menos que precisasse muito da segurança que Atsumu o amava – e flertar com outra pessoa não era exatamente prova de que Atsumu o amava, afinal. Será que essas mágoas poderiam esperar duas semanas, para que o enorme pedido de flores e chocolates para o dia dos namorados pudesse resgatar o que tinha entre eles?
O pensamento – esse e todos os outros – foram varridos da mente de Atsumu quando Sakusa respirou fundo e assumiu de novo a máscara, erguendo a sua própria de volta à boca e deixando só os olhos gelados, quase sem vida, aparecerem por através dos cachos charmosamente bagunçados.
- Vamos pra casa. Você bebeu, eu dirijo.
Atsumu sentia-se uma criança birrenta – ouviu isso algumas vezes essas exatas palavras de pessoas próximas, seu irmão e cunhado a exemplo, mas de Kiyoomi, só em tom de adoração – quando se frustrava por não saber ler a mente do namorado. Era ridículo que esse fosse um de seus maiores desejos, mas Kiyoomi tinha a terrível mania de só falar das coisas quando a mágoa já era demais para consertar. Pelo menos, lendo a mente dele, Atsumu saberia quando ele quer ou não conversar, e sobre o quê, e o que ele queria que Atsumu fizesse a respeito.
Seria mais fácil do que sentir-se amargurado, sabendo que o único fator responsável por todo e cada um de seus perdões era o amor que Kiyoomi ainda nutria por ele.
E Omi nem parecia gostar tanto de amar Atsumu mais.
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Que História É Essa?! (Haikyuu!!)
Fanfiction" - São Longuinho, São Longuinho... Se eu achar o amor da minha vida, eu dou vinte pulinhos." No qual ex-jogadores de vôlei do ensino médio enfrentam as dificuldades e artimanhas da vida adulta. ✧*:.。. | Sequência ficcional / Caracterização LGBTQIAP...