#26.

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[notas do autor: peço desculpas brevemente pela falta de capítulo ontem. espero que gostem <3]


Acordar todo dia sendo paparicado com beijos não era tão ruim quanto Yamaguchi imaginou.

Começava a rir e a empurrar Kei levemente antes mesmo de despertar, mais acostumado do que achou possível para os poucos meses que passaram desde que estabeleceram a controversa relação. Mais do que amigável, menos do que romântica, com um tanto dos privilégios das duas.

- Eu já disse que não beijo sapos – Yamaguchi brincou, despertando finalmente, e sendo agraciado ao novo dia com um abraço apertado.

- Quando é que você vai parar de fazer piadas com o meu time?

- Nunca – Yamaguchi respondeu, ainda rindo e brincando.

Claro que estava feliz que Tsukishima conseguiu um contrato com um time: não apenas ele estava feliz e satisfeito com o negócio, era bom ter um dinheirinho extra entrando em casa. Agora, se a mascote deles fosse um pouco menos adorável do que um sapo...

De qualquer jeito, Yamaguchi se sentou na cama, juntamente a Tsukishima – e, depois de pensar um pouco a respeito, recompensou-o com um selinho. Era a coisa mais extrema que deixaria os dois confortáveis, e todo o resto era intimidade entre amigos. Yamaguchi não se incomodava que tudo isso fizesse o coração de Tsukishima bater mais rápido, que a empolgação dele alcançasse um patamar que Yamaguchi não conseguia acompanhar.

Tinham uma base sólida. Ficariam bem.

Enquanto Tsukishima continuava de preguiça, obsoleto nos tempos distantes da temporada de jogos, Yamaguchi fez uma carícia nele como faria em um cachorro amado; levantou-se com demora, ainda hesitante em enfrentar o primeiro dia frio da temporada – mas o pensamento do café da manhã que estava a passos de distância o garantia a força de se levantar.

Na verdade, não. Era difícil ir a qualquer lugar quando seu companheiro te agarrava pela cintura e te puxava de volta para a cama com muito mais força do que você poderia igualar.

- Kei!

Se foi difícil convencer Kei a deixar Yamaguchi sair da cama, não se comparava ao esforço necessário para convencê-lo a deixar Yamaguchi ir para o mercado sozinho. Seriamente. Ao mercado.

- Às vezes você parece um cachorro carente – Yamaguchi provocou, mas infelizmente para si, não pareceu adiantar em nada para incomodar Tsukishima.

- Você quer que eu lata, também?

Yamaguchi só pôde rir e despedir-se, finalmente (por algumas horas apenas) com um abraço, apreciando o companheirismo estabelecido ao longo dos anos. Pensando nisso, quase sentiu vontade de levar Tsukishima consigo. E pensando melhor...

- Quer saber? Eu não vejo porque você não pode vir comigo – Yamaguchi comentou, e seria a mesma coisa que convidar o cachorrinho a um passeio no parque; Tsukishima nem esperou para voltar correndo ao quarto e se vestir quebrando todo e qualquer recorde mundial.

Yamaguchi ficaria mais grato por ter levado Tsukishima, afinal, do que poderia imaginar.

Passando pelos frios e penando para escolher uma peça de queijos, Yamaguchi acabou por instintivamente tomar a mão de Tsukishima quando ele se aproximou. Essas demonstrações de afeto em público eram raras, mas como eram os únicos na ala de frios, não devia ter problema...

Pelo menos Yamaguchi achou que fossem os únicos. Com o tipo de mau presságio que só a ansiedade curada oferecia, um privilégio pelos anos de serviço e combate, Yamaguchi correu os olhos pela ala enquanto Tsukishima ajeitava o carrinho – só encontrou um outro homem, capuz na cabeça, olhos baixos, olhando para os iogurtes. A poucos metros dos dois.

Talvez ele sequer tivesse olhado na direção dos dois. Talvez também achasse estar sozinho – afinal, era só outra pessoa, vivendo sua vida. Ainda assim, Yamaguchi não conseguia afastar a sensação de que... Era só uma espécie de augúrio, mas...

Yamaguchi fingiu se lembrar repentinamente de algo que precisava do outro lado do supermercado, uma necessidade das mais superficiais. Quando Tsukishima tentou tomar sua mão, ele fugiu do toque, ainda pensando na figura encapuzada e enegrecida em plena luz do dia, e Tsukishima não viu nada errado com isso.

Yamaguchi achou que estaria tudo bem uma vez que saíssem dos frios. Certamente seria uma coincidência enorme se os dois seguissem exatamente o mesmo caminho por um supermercado numa cidade grande, quase quilométrico...

Mas, levado a conferir pela permanência daquele mau augúrio, Yamaguchi identificou a mesma figura outras vezes mais. Muito mais vezes do que agradava pensar. E quando não estava imediatamente na mesma ala, estava meramente no corredor ao lado, ainda próximo o suficiente para ficar de olho nos dois. Tsukishima só percebeu que algo o incomodava quando viu suas mãos tremerem ao segurar e analisar uma fruta.

Yamaguchi negou qualquer coisa.

Chegar à fila foi um alívio – Yamaguchi não viu de novo o mesmo homem, ainda que soubesse que isso não significava muito. O perigo sabia se esconder em plena luz do dia como o próprio inventor de tal arte. Mas, no caminho para casa, Yamaguchi suspirou ao perder o nervosismo de seu sexto sentido em pensar que estava sendo seguido.

Que coisa idiota. Era só uma pessoa encapuzada no mercado.

Mas depois dos minutos de atraso intencional dos dois parceiros em passear todo o caminho até em casa, além do perfeccionismo nato de Yamaguchi em cuidar das compras, já escurecia quando os dois finalmente estavam livres para aproveitar o conforto da própria casa.

Tsukishima sugeriu que assistissem um filme. Yamaguchi concordou, correndo para fechar as cortinas na antessala para evitar reflexos na tela da televisão. Admirou as cores rúbeas do céu, aprofundando no roxo...

E baixou os olhos para a rua por um mero acidente. A mesma figura encapuzada se punha de pé no beco da rua da frente, visível apenas pela luz do poste à sua frente. Nos meros segundos em que os dois encontraram olhares, tudo que Yamaguchi pôde processar foi a imagem da enorme tatuagem de raposa que ele tinha no pescoço, momentaneamente esticada. O homem encapuzado baixou o rosto para o celular, e Yamaguchi não viu nada mais de pertinente.

Sua respiração falhou por um mísero segundo – puxou as cortinas juntas com até mais força do que precisaria, logo correndo de volta à segurança do sofá, dos braços de Kei, naturalmente preparado para que Yamaguchi caísse no sono neles antes mesmo do filme terminar.

- Eu achei esse aqui, "Noite Passada em Soho". Parece que é sobre uma garota que volta no tempo quando dorme e vira uma socialite dos anos 30, só que essa garota foi assassinada por um stalker e...

- Não. Nada de stalkers. Uhm... Não tem nada um pouco mais leve pra gente ver?

Tsukishima estranhou a rejeição imediata, mas deu de ombros e concordou.

- Desde que não seja "Orgulho e Preconceito" de novo.

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora