- E então... Como foi?
Hinata não precisou dizer outra palavra a Tsukishima, quando se encontraram em um ambiente mais confortável que um banheiro fedorento de bar, para que ele entendesse do que sua curiosidade se tratava. Deu um sorriso de canto e balançou o drink na mão, distraído; mesmo com a relação complicada e cheia de termos técnicos em que viviam, era o melhor pelo que Tsukishima teria a ousadia de pedir.
- É... É difícil de explicar – Ele começou, e conhecendo o colega de anos como conhecia, viu o ápice de tal curiosidade brilhar nos seus olhos enquanto ele disfarçava, tomando um longuíssimo gole de café. Era até engraçado como ele ficou só um pouquinho melhor em disfarçar o que sentia. – Nós não estamos namorando, porque isso não é algo que ele faça. Com ninguém, mesmo. Ele me explicou tudo, é um desses tipos de orientação sexual que a maioria das pessoas nem sabe que existe... Ele não se apaixona por ninguém, em resumo.
- Espectro arromântico?
- É, exatamente isso. Como você sabia?
- Tem um curso de identidades queer na minha faculdade – Hinata disse, e Tsukishima revirou os olhos, supondo que ele estivesse zombando da pergunta. – Não, é sério! Tem mesmo um curso inteiro de identidades queer. A minha professora tem um doutorado em história queer e foi líder de uma passeata do orgulho negro alguns anos atrás... É um assunto recorrente, então é bom que os profissionais do futuro estejam preparados. – Hinata desviou a atenção por um mísero segundo, aprofundado em algum pensamento sombrio, rodando a colher sem parar dentro da xícara. – Eu tomei a eletiva porque quero ser o tipo de profissional que eu já precisei.
- Isso foi... Muito profundo – Foi tudo que Tsukishima pôde comentar, e Hinata piscou como se finalmente se lembrasse de que estava envolvido em uma conversa. – Você ainda quer saber sobre o Dashi?
- Mhm, quero. Me conta tudo. Tudo o que você quiser contar, é claro – Hinata adicionou, o profissionalismo se mesclando cada vez mais às suas falas.
- Bom... Pensando nos níveis de relação emocional e física, nós estamos em um relacionamento, mesmo que ele não seja apaixonado por mim. É um "namoro platônico", pelo menos ele gosta de chamar assim. E... A única diferença "técnica" – Tsukishima fez os sinais de aspas dessa vez. – É que eu tenho que perguntar antes de beijar ele e nós não... Sabe.
- Ele não quer transar?
- De jeito nenhum, é.
- Pelo menos assim um de nós vai morrer virgem.
Hinata disfarçou o sorriso proveniente de uma piada ruim muito bem com outro gole do café, tão natural que Tsukishima demorou a atender suas intenções maliciosas em tão poucas palavras.
- Você já visitou as câmaras reais, então?
A resposta pegou Hinata de surpresa – ele quase cuspiu o café de volta na xícara, meio rindo, meio envergonhado demais para falar qualquer coisa. Ele limpou os cantos da boca com as costas da mão e forçou um riso amarelo.
- Eu esqueci que você chamava ele disso – Ele seguiu disfarçando, mas vendo como Tsukishima fora sincero antes, não viu opção se não admitir seu prazer culposo. -- ...Ainda não. Estamos juntos a pouco tempo, e nós... Eu quero esperar.
- Não me diga que você vai esperar até ele pôr uma aliança no seu dedo.
- Eu sou católico, não puritano. E nem idiota. Eu só... Quero me acostumar a nós dois juntos primeiro.
- Okay.
- Okay.
Silêncio. Hinata tomou outro longo gole de café, Tsukishima começava a se perguntar se a caneca dele seria sem fundo, e quase que ao mesmo tempo, os dois estouraram em risadas. Para Hinata, ainda era incrível como os anos que passou longe de casa acabaram fazendo com que ele e Tsukishima se aproximassem, a amizade ainda mais significativa com a distância, ao ponto dos dois chegarem ao precioso status de "uma das pessoas em quem eu mais confio".
- Sendo bem honesto... Eu também não tenho a menor vontade de transar – Tsukishima admitiu de repente, apurando os sentidos perceptivos de Hinata de novo. Procurou qualquer sinal de uma mentira ou pressão em seu corpo, tentando decifrar se ele estaria dizendo por Yamaguchi, e não achou coisa alguma. – Nunca pensei nele desse jeito, e acho estranho que outras pessoas pensem assim. Por que tanta urgência pra entrar nas calças um do outro? Eu honestamente acho que todos deviam fazer o que você disse que vai fazer: pelo menos esperar para se acostumarem um com o outro.
- Muitas prostitutas perderiam o emprego se todo mundo pensasse como eu.
- Eu poderia entrar numa tangente sobre como a indústria dos trabalhadores sexuais é corrupta, machista e como estúdios de pornô na verdade são facções de tráfico humano e trabalho escravo, mas eu vou te poupar desse assunto – Tsukishima comentou, como um faria ordinariamente sobre um conhecimento específico sobre pássaros, e Hinata só pôde franzir o cenho e decidir, pela sua própria paz de espírito, esquecer o assunto. – Mas... É, eu nunca senti a menor vontade de transar, mal passou pela minha cabeça. O Dashi já me contou que tem um nome específico pra isso, mas eu não sou um homem de rótulos.
- Agora eu poderia começar a falar sobre como todos nós somos pessoas de rótulos, ou pelo menos como sempre usamos rótulos pra nós mesmos, mas vou poupar você do assunto.
- Obrigado por isso.
Hinata tomou o café e baixou a caneca vazia à mesa; o drink de Tsukishima continuava vazio pela metade (outro debate que eles concordariam em evitar mais tarde), o açúcar caramelizado derretendo das bordas do copo.
- Fico feliz que vocês estão juntos agora.
- É, eu também. Eu 'tô muito feliz por você e pelo seu namorado feio pra caralho, é sério.
Hinata segurou um riso com certa dificuldade – também quase se sentia ofendido por Tobio, que não era poupado da acidez eterna da língua de Tsukishima nem quando estava ausente.
- Quer pagar a conta e ir embora?
- É, eu vou pedir um copo pra levar isso daqui.
- Ótimo. Foi bom ver você.
- Igualmente, raio de sol.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Que História É Essa?! (Haikyuu!!)
Hayran Kurgu" - São Longuinho, São Longuinho... Se eu achar o amor da minha vida, eu dou vinte pulinhos." No qual ex-jogadores de vôlei do ensino médio enfrentam as dificuldades e artimanhas da vida adulta. ✧*:.。. | Sequência ficcional / Caracterização LGBTQIAP...