#17.

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- Calma, calma, eu— eu...

Hinata fugia do olhar de Tobio do melhor jeito que conseguia, tanto apavorado quanto ansioso por aquela fome que o coitado vinha suprindo por todo o tempo em que estiveram juntos – quanto tempo fazia, mesmo? Dois meses? Três?

E Tobio, como o namorado perceptivo que só podia ser com Shoyo, entendeu o medo e a ansiedade em seus olhos, no jeito que ele se encolhia sob o seu corpo ao invés de se abrir, como ele esperava (que perversão), e recuou. Shoyo ficou deitado sobre sua sombra na cama que eles quase dividiam, tantas foram as noites passadas juntos ali, e relaxou quase imperceptivelmente quando ele não demonstrou nada além de confusão.

- Sabe... Você sempre faz isso. Se você não quer transar comigo, é só me dizer.

- Meu Deus, não é isso. Não é que eu... Não quero – Hinata justificou, lentamente tornando a se sentar ao lado dele, onde sua mão alcançava o toque reconfortante dele sem esforço. – Eu quero. Eu quero você. Mas... A gente precisa ter uma conversa meio complicada antes.

- Antes de quê?

- Antes de você tirar minha roupa, seu asno – Hinata cuspiu de volta, reprimindo-se pelo xingamento em um momento tão íntimo; Kageyama, porém, tinha se acostumado ao longo dos anos a ver esses "insultos" como uma expressão mútua de carinho. Ele que tinha posto Hinata no mal caminho de xingarem um ao outro como instinto, afinal. – É que... O que eu tenho aqui embaixo é diferente do que você imagina.

Hinata mediu as palavras internamente, puxando a barra da blusa para cima do colo como se pudesse compensar sua punição biológica existente por ali. Ou melhor, a ausência de um certo instrumento.

Kageyama só encarava, nem mesmo pensativo, só ouvindo com toda a atenção. Depois do primeiro minuto de Hinata em completo silêncio, ele tentou quebrar a tensão:

- Não é nada contagioso, né?

Hinata riu antes que pudesse se impedir, fingindo não ver o sorrisinho orgulhoso do namorado em tirar uma risada sua com uma coisa tão idiota. Respirou fundo, mas a genuína burrice de seu mais querido Tobio era tão cômica que era impossível recuperar o foco agora.

- Não, não é nenhuma doença que eu tenho, você vai me deixar terminar de falar? – Kageyama deu um aceno e recuperou a seriedade muito mais rápido do que Hinata poderia, mas o peso do assunto que tanto queria discutir era aterrorizante.

Os dedos apertaram a barra da camiseta antes que percebesse, ele puxou uma respiração e não a soltou mais. Lembrou-se da primeira vez que proferiu aquelas palavras coçando em sua língua à sua mãe, tão compreensiva, lutando tão duro por uma batalha que só dizia respeito ao filho – filho – que, por um acaso, ela geriu com um pequeno "defeito de fábrica"... Quando toda a situação foi explicada ao colégio, aos colegas de Hinata na época, e como isso dividiu opiniões até a mudança ser cada vez mais óbvia e se tornar um fato comum à história de quem conviveu com ele...

Ela sempre teve jeito de moleque mesmo...

- Olha, é uma coisa que meio que só me diz respeito, na verdade, mas... Eu queria te contar isso há muito tempo, eu teria te contado lá no começo se não fosse um assunto tão, é... Delicado, é isso, é um assunto delicado porque nós vivemos num mundo preconceituoso pra cacete e eu nunca teria um jeito de saber o que você pensava disso, a não ser que outra pessoa perguntasse, e ninguém nunca perguntou, então—

- Shoyo.

Às vezes o nome ainda parecia estranho, às vezes seus sentidos não reconheciam que era ele que as pessoas chamavam de Shoyo. Se mudar o jeito de pensar sobre uma pessoa foi difícil para os amigos daquela época, para ele foi ainda mais se acostumar a uma nova identidade. Era sua identidade, era quem ele era, mas... Mas nem sempre foi assim, entende?

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora